Moda

Diagnosticada com um linfoma, Fabiana transforma bordados em “linhas que curam”

Os fios tornaram-se a companhia antes de cada tratamento. Agora, criou uma marca onde vende todas as criações.
O diagnóstico aconteceu em julho de 2024.

Acreditando que tinha sintomas de “uma gripe mal tratada”, Fabiana Oliveira dirigiu-se ao hospital, em julho passado, para uma consulta. No entanto, nessa noite não regressou a casa e terminou o dia em lágrimas, sozinha, após ser internada. Os exames trouxeram-lhe uma das piores notícias que poderia imaginar: foi diagnosticada com cancro.

A assistente dentária de 28 anos recebeu o diagnóstico de um linfoma de Hodgkin na zona do tórax, ou mediastino. Este tipo de tumor, que se desenvolve no sistema linfático, é frequente em adultos e afeta de forma generalizada o organismo.

Abalada com a notícia, Fabiana passou dois dias desorientada. Contudo, decidiu adotar uma atitude mais positiva. “O meu pai foi diagnosticado com cancro em março e não queria que perdesse o ânimo devido à minha doença. Agarrei-me às coisas boas. É uma situação difícil também para aqueles que nos rodeiam”, explica à NiT.

Com esta nova perspetiva, a jovem aceitou as alterações necessárias na sua rotina. Acostumada a um estilo de vida ativo, Fabiana teve de tirar baixa médica, suspender o exercício físico e ser mais cautelosa com a sua alimentação e os locais públicos que frequenta.

Durante este período de transformação, descobriu uma nova forma de se manter ocupada. Inscreveu-se num curso online de bordados e, durante as longas esperas nas consultas hospitalares, levava sempre consigo o seu kit de bordados. O seu tempo livre passou a ser dedicado à criação de bastidores e tote bags, por exemplo.

“Na altura, estava num processo de mudança de casa e já tinha andado a ver bordados para a decorar. Sempre gostei imenso”, recorda. “Como a minha mãe é costureira, tinha imensas linhas em casa e pensei que podia tentar aprender algo novo e aproveitar para distrair a cabeça.”

Fabiana Linhas Que Curam
Foi um refúgio.

Em pouco tempo, o passatempo tornou-se quase terapêutico. “Quando estou a trabalhar nos bordados, não penso em mais nada. Quando recebemos um diagnóstico oncológico, temos duas opções: deixar que a doença nos consuma ou concentrar-nos em outras coisas e ver a vida com mais leveza. Eu escolhi a segunda.”

Conforme se dedicava mais a esta atividade, notou que diversas pessoas, tanto conhecidas como estranhas, demonstravam interesse nas suas partilhas. Algumas elogiavam o seu trabalho, outras mostravam desejo de adquirir os bordados, levando-a a criar o projeto “Linhas Que Curam” no início de setembro.

Fabiana recorda que o seu primeiro trabalho foi uma bolsa simples com a figura do bulldog que lhe faz companhia. Seguiram-se outras criações, como uma tote bag que agora a acompanha nos dias de tratamento, com a citação “happiness is only real when shared” (ou seja, “a felicidade só é verdadeira quando partilhada”), do filme “Into The Wild”, a que acrescentou vários girassóis.

“Quando descobri a doença, houve muita partilha. As pessoas que passaram pelo mesmo, que estão a passar ou que conhecem alguém que está ou já esteve. Senti que a vida só é realmente feliz quando a partilhamos com alguém, sejam as coisas boas ou más”, confessa.

As encomendas começaram a surgir. No caso dos bastidores, que funcionam como elementos decorativos, a inspiração variava entre animais e flores, conforme os pedidos que recebia. Um trabalho que exige precisão e que, em média, leva de uma a duas semanas, dependendo do desenho.

Um exemplo.

Fabiana admite que “não tem sido fácil” dar resposta a todos os pedidos. “Devido aos tratamentos, há dias em que me sinto mais cansada ou com sintomas. Peço compreensão, pois nem sempre consigo bordar durante todo o dia. Faço pausas e, felizmente, a empatia tem sido constante.”

Além disso, a assistente dentária foi confrontada com outras mudanças drásticas que a obrigaram a abrandar, como a queda de cabelo. “A partir do momento em que me falaram da quimioterapia, não conseguia falar do tema sem chorar. Foi um processo difícil porque sempre usei o meu cabelo longo como carapaça, mas aprendi a aceitar esta realidade.”

Atualmente, Fabiana está a poucos passos de completar o seu tratamento, com apenas uma sessão de quimioterapia pela frente, e mantém-se otimista relativamente ao futuro. Tem recebido boas notícias, como a diminuição da massa no tórax, e, apesar do receio do que está por vir — já que o processo pode prolongar-se por anos —, encontra sempre consolo nos seus bordados.

Com o projeto a crescer mais depressa do que esperava, surgem novos objetivos para o Linhas Que Curam. Fabiana gostaria de alargar a oferta a T-shirts e outros acessórios mais elaborados, embora reconheça que “isso levará algum tempo, dada a natureza minuciosa do trabalho”.

Enquanto isso, continua a partilhar os seus trabalhos na página de Instagram do projeto. As encomendas podem feitas por mensagem privada através da rede social e os preços começam nos 15€.

Carregue na galeria para ver alguns dos bordados criados por Fabiana Oliveira.

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