Moda

O designer português que faz vestidos de açúcar que são autênticas obras de arte

Filipe Blanquet juntou a paixão pela pastelaria ao gosto pela moda. Cada peça demora entre três a quatro semanas a ser feita.
O artista junta pastelaria e moda.

Durante anos a fio, Filipe Blanquet manteve-se afastado da cozinha. “Só sabia fazer ovos estrelados” e não arriscava fazer doces. Tudo mudou quando o pai lhe sugeriu que fizesse um curso de cozinha, área que lhe permitiria arranjar um emprego mais viável. Desde então, o designer de 40 anos pôs a mão na passa ‒ literalmente ‒ e acabou a criar vestidos de açúcar, aliando o gosto pela pastelaria e à paixão pela moda.

Inicialmente, tinha outras aspirações profissionais. Estudou arquitetura do design e chegou a trabalhar como designer gráfico nos primeiros tempos. Dois anos depois, em 2010, sentiu vontade de continuar os estudos numa área que desse outras garantias. Decidiu seguir o conselho do pai e foi para a Escola de Hotelaria e Turismo, em Lisboa, e formou-se em Cozinha Avançada.

“Percebi que, com os bolos, podia aplicar alguns dos valores que fazem parte do design”, começa por contar à NiT. “Era uma forma de ser criativo com o uso de texturas, cores e sabores. Assumi esta carreira porque também me permitia criar.”

Passo a passo, foi subindo na carreira, trabalhando na cozinha de vários hotéis, mas nunca deixou de lado os projetos relacionados com a sua primeira área de formação. Foi precisamente num dia de trabalho no Hotel Tróia Design, há cerca de 10 anos, que começou a brincar com a pasta de açúcar.

“Na altura, a unidade hoteleira queria inaugurar o centro de espetáculos do Casino de Tróia, e eu estava lá como estagiário”, acrescenta. “Queria dar o meu contributo, mas não sabia como, e tive a ideia de fazer esculturas de açúcar que pudessem ser usadas por uma hospedeira ou uma modelo.”

O processo de criação

As primeiras experiências eram pouco polidas, mas eficazes, e limitava-se a cobrir uma base de tecido com açúcar: “Existe uma técnica, chamada pastilhagem, em que fazemos uma pasta de açúcar (fondant) muito parecida com a massa que cobrimos os bolos e que seca bastante rápido”, sublinha.

Feita esta pasta, o passo seguinte é estendê-la com um rolo e cortá-la em pequenas peças, que se assemelham a escamas, e pinta com corantes. Estas pequenas aplicações, com as quais o pasteleiro cobre o tecido, são o detalhe que dá o movimento que queria ver nas roupas, além de ser a única forma do resultado final não se partir.

A diretora do hotel gostou tanto do primeiro modelo que viu que lhe pediu para fazer mais — organizou um desfile na festa e assim, em 2010, nascia a marca Filipe Blanquet. Depois da experiência, continuou a dedicar-se sobretudo à confeitaria, deixando o design de moda em segundo plano. Com a pandemia, quando o setor da restauração abrandou, voltou a brincar com mais criações.

Desta vez, o artista queria que o trabalho deixasse de ser uma brincadeira e se tornasse algo mais sério. Dedicou-se a aperfeiçoar a técnica e, mais de uma década depois, em 2023, o lançou uma nova coleção intitulada “Bombom”, com vestidos e lingeries pouco convencionais.

Com esta linha, Filipe trabalha a pasta de açúcar de forma mais cuidada. “Quando fiz os primeiros vestidos, não tinha atenção aos pormenores”, afirma. Já não cria apenas escamas, mas tem arriscado criar outros pormenores, como ornamentos com suspiros. Cada peça demora entre três a quatro semanas até estar concluída.

Outra das novas técnicas que está a explorar é a forma de aplicar o corante, apostando mais nas cores: “Em vez de pintar uniformemente, pintei de uma forma muito semelhante a técnica de aguarela, sobrepondo manchas e criando sombras”, explica.

Ao retomar este trabalho, o artista quer ainda expandir os designs à bijuteria, com anéis e colares, assim como sapatos. Como a coleção é apenas conceptual, no futuro, vai aliar uma vertente comercial com algumas carteiras que estarão disponíveis para venda, ao contrário destas propostas.

Carregue na galeria para ver imagens das criações impressionantes de Filipe Blanquet, fotografadas por Sara Palma.

ver galeria

ÚLTIMOS ARTIGOS DA NiT

AGENDA NiT