Moda

Foi vítima de bullying porque tinha um aspeto exótico. Hoje é uma modelo de sucesso

Annie Hrada, filha de pai japonês e mãe brasileira, vive em Portugal desde os 13 anos. Sonha ser atriz.
Está a estudar teatro.

Estar em frente a uma câmara é algo que paralisa muitas pessoas. A ansiedade que sentem não as deixa chegar à parte da ação, como comanda o célebre mote do cinema e da moda. Porém, é neste cenário que aterroriza tanta gente que Annie Hrada se sente confortável e concretiza o seu potencial.

Atualmente com 19 anos, vive em Portugal desde os 13. Filha de pai japonês e mãe brasileira, a jovem nascida em São Paulo, no Brasil, mudou-se para Guimarães em 2016 após o divórcio dos pais. “A minha mãe decidiu que devíamos descobrir coisas novas e viemos para cá quase por acaso”, conta à NiT.

Antes, era uma miúda muito reservada devido ao bullying de que era vítima na escola, ainda no Brasil. Era ridicularizada pela sua forma desajeitada de andar, por ter feições exóticas e por cuidar pouco da sua aparência. Em casa, o ambiente também não era um espaço onde podia expressar a sua criatividade.

“Sendo de uma família japonesa, os meus pais sempre foram muito severos e exigentes, principalmente em relação à escola”, acrescenta. “Pensava que o meu futuro passaria por ser médica ou advogada, mas nem me considerava uma pessoa inteligente. Ainda assim, estudava para ser a melhor e tirava ótimas notas.”

Gostava de ter mais oportunidades.

Com a mudança para Portugal, as agressões verbais terminaram, e aos poucos, começou a ganhar mais autoestima. Num ambiente diferente, onde ninguém sabia o que havia vivido no Brasil, ganhou confiança. Sentia que podia, finalmente, aprofundar os seus interesses.

As horas livres eram passadas a vídeos dos desfiles da Victoria’s Secret, filmes e séries. Quanto mais via, mais queria saber o que acontecia por trás das câmaras. As duas paixões — a moda e a interpretação — tornaram-se indissociáveis e, quando decidiu tentar a sua sorte como modelo, fê-lo com o objetivo de conseguir oportunidades no mundo do cinema e da televisão.

A resolução foi tomada, em 2020, em plena pandemia. Estava a ver o documentário “O Segredo” de 2006, sobre a lei da atração e o poder de manifestar o que queremos, quando percebeu que era isso que devia fazer. “Uma das pessoas dizia ‘se pudesse ter o que quisesse, o que teria?’ e eu respondi que me ia tornar modelo e atriz. Foi o que sempre quis ser”, recorda Annie.

Começou a pesquisar sobre como poderia tornar o seu desejo realidade. Em poucos meses, aprimorou as suas técnicas de maquilhagem, e apostou não só no visual, como na forma como que andava na rua e se apresentava. “Descobri que a forma como me visto pode refletir a minha personalidade”, diz.

Os primeiros passos

Em 2021, decidiu candidatar-se a uma agência “horrível, suspeita e pouco confiável”. Não ficou a trabalhar com eles, mas o processo teve algo de positivo. Durante a entrevista, Annie descobriu que “tinha potencial” e isso motivou-a a procurar uma oportunidade noutro local. E, mesmo sem saber desfilar, ficou comovida e com esperança quando ouviu que “tinha o que era preciso”.

Porém, faltava-lhe algo. Continuava a ser “um pouco desengonçada” e precisava de treinar a forma como andava. Durante os meses seguintes, dedicou-se apenas a esse esforço, analisando tudo o que fazia de errado para corrigir nas tentativas seguintes.

No mesmo ano, tentou a sua sorte com a Central Models, na qual Annie está atualmente agenciada. “Vi que trabalhavam com a Sara Sampaio e decidi mandar a candidatura, sem pensar que me fossem escolher. Quando me ligaram, festejei de forma eufórica com a minha mãe e a minha irmã e escolhi uma roupa toda preta para me apresentar, porque tinha lido na internet que era o que devíamos usar.”

Na self-tape que mandou para Lisboa, “tudo o que tinha para dizer saiu naturalmente”. Gravou três minutos de vídeo que lhe valeram uma chamada para passar a fazer parte do grupo de agenciadas. Dois meses depois, surgiu um casting para a Sprite, que viria a ser o seu primeiro trabalho.

“Gravei o vídeo milhares de vezes e depois tive de esperar pelo momento do call back. Senti que não tinha corrido bem, comecei a chorar e disse à minha mãe que não ia conseguir, e que tinha sido horrível. Uma semana depois, disseram que tinha conseguido.”

Desde então, de editoriais para revistas, como a portuguesa “PARQ” e a alemã “Kaltblut”, à participação em videoclipes, tem acumulado oportunidades. “O que admiro nestes trabalhos é a colaboração, porque só aparece uma pessoa nas fotos, mas há tanta gente envolvida. Alguém escolheu o fundo da imagem, é preciso pensar na roupa e a maquilhadora passou horas a procurar inspiração.”

Mesmo que nunca tenha ouvido comentários sarcásticos ou xenófobos, como aconteceu na pré-adolescência, Annie não nega que a discriminação ainda é um obstáculo. “Sinto uma limitação à partida em relação aos trabalhos que consigo ou não, porque a maioria das modelos escolhidas encaixam no padrão de beleza eurocêntrico.”

Outro problema é o facto de ser chamada para projetos sobre diversidade étnica ou que exijam pessoas asiáticas. “Os trabalhos de moda que faço têm quase sempre influências japonesas e não quero ser reduzida a esse estereótipo”, frisa.

Annie fala sobre estas questões com a mãe com frequência, que preocupa com as dificuldades que terá de enfrentar no caminho que escolheu percorrer. Sobretudo porque a fragilidade que sentiu quando era vítima de bullying não desapareceu. “É um trabalho exaustivo e vou ouvir muitas respostas negativas. Mas sinto que tenho algo a provar a mim própria e não tanto a outras pessoas.”

Neste momento, os sonhos da modelo passam por se tornar atriz. Por isso, conjuga os trabalhos em editoriais, videoclipes e campanhas publicitárias com um curso de teatro. As aulas são uma forma de aprofundar o gosto pela interpretação, mas ainda não é suficiente: “Estou aberta a novas oportunidades”.

Pode acompanhar o trabalho da modelo através da sua página de Instagram. Carregue na galeria para ver mais imagens de Annie, desde as que foram captadas para revistas aos seus looks no dia a dia.

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