Moda

Gabriel Silva Barros: o “homem gentil” que brilhou no Sangue Novo da ModaLisboa

O jovem designer apresentou uma coleção sem género, que foi especialmente elogiada pelos jurados.
O jovem surpreendeu o júri.

“O nosso capital é o futuro”, ouvia-se na sala de desfiles da  64.ª edição da ModaLisboa, esta sexta-feira, 7 de março, antes do arranque de mais uma edição do maior festival de moda na capital. E é precisamente de olhos postos no futuro, através do concurso Sangue Novo, que é apresentada a próxima geração de designers nacionais.

Após apresentadas as coleções dos cinco finalistas, Gabriel Silva Barros sagrou-se um dos vencedores ao conquistar o prémio ModaLisboa x RDD Textiles, com um estágio de três meses na RDD Textiles para o desenvolvimento de uma coleção e uma bolsa de 1.750€.

Já Duarte Jorge foi distinguido com o Prémio ModaLisboa x IED Istituto Europeo di Design, que inclui um mestrado de nove meses em Fashion Brand Management no IED Firenze, com início em novembro de 2025, e uma bolsa de quatro mil euros para desenvolver uma coleção. Selecionados em outubro, Dri Martins, Francisca Nabinho, Ihanny Luquessa também se apresentaram ao público. A decisão foi tomada por um júri composto por Miguel Flor, Joana Jorge, Constança Entrudo, Parque Runo, Ana Tavares e Danilo Venturi.

A decisão de Gabriel se candidatar surgiu após uma experiência negativa durante o mestrado, na Universidade de Westminster, em Londres. “Não fui escolhido para o desfile de final de curso, porque era muita gente. Pensei que o Sangue Novo seria a melhor plataforma para mostrar o meu trabalho porque os portugueses percebem as minhas referências.”

Na passarela, a visão do criativo passou por uma linha sem género, onde uniformes feitos de flanela, malhas e tecidos desgastados ganham um toque inesperado. Estes retalhos contrastam com os brilhos das lantejoulas que ajudaram a contar uma narrativa.

A apresentação, intitulada “Devolta ao Mar”, é a continuação da coleção da estação anterior, “Masquerade at the Gentlemen’s Club”. Gabriel tentou captar a excentricidade de um grupo de pescadores que, numa noite, decidem transgredir géneros num cabaré dos anos 20, expressando um tipo de masculinidade diferente.

“O que resta das extravagâncias da noite passada? Ao regressarem à sua rotina, sentimentos persistem e questões emergem: ‘Foi real? Quem sou eu agora?'”, lê-se na descrição do desfile. “O regresso ao mar é uma jornada não apenas de dever, mas de reflexão, enquanto reconciliam memórias entre realidade e fantasia.”

“Olhava para a figura masculina. Não me identificava”

“Na estação passada, usei muitos padrões em veludo inspirados nos azulejos portugueses”, acrescenta à NiT. “Quis colocar esses tecidos tipicamente mais femininos e vistos como delicados em homens. Quis introduzir um material que parece cabedal. É seda, mas foi pintado para parecer pele.” 

Esta missão é um reflexo da experiência pessoal do criador, enquanto crescia na ilha da Madeira. “Sentia-me sempre no meio. Olhava para a figura masculina e não me identificava. Por outro lado, via que a mulher andava com mais liberdade e, então, revia-me nelas.”

Apesar de ter começado por trabalhar em womenswear, notou rapidamente uma oportunidade para criar um novo protótipo de masculinidade na sua roupa, “um homem mais gentil”, com um toque feminino e masculino. “É o que reflete aquilo que eu sou.”

O designer, que já trabalhou para marcas comoPalmer//Harding e Vivienne Westwood, transmite esta mensagem através do artesanato, a sua grande paixão, combinando influências ecléticas do passado e do presente.

Sobre o futuro, conclui: “Estou bastante entusiasmado. Quero encontrar um equilíbrio entre o comercial e, ao mesmo tempo, ser criativo para continuar a contar esta história que terá muitos capítulos. Mas sei que tenho que ir atrás do dinheiro, porque acabei de me formar e quero criar uma carreira”.

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