Faltaram lugares na passerelle para sentar todos os que queriam ver a apresentação de Alexandra Moura. Este desfile marca o regresso da estilista, que tem apresentado os seus trabalhos no Portugal Fashion, e que agora volta à capital. Desde 2016, que não marcava presença na ModaLisboa. Este ano, Alexandra Moura é o símbolo da recente parceria parceria anunciada entre a ModaLisboa e o Portugal Fashion.
Com um atraso de mais de meia hora, eram 18h40 quando as luzes se apagaram e começámos a ouvir sinos da igreja a tocar. Curiosamente, não sabemos se isso foi propositado ou não, o desfile de Alexandra Moura coincidiu com o 13 de outubro, dia que marca uma das três aparições de Nossa Senhora em Fátima.
Neste segundo dia de desfiles, Alexandra apresentou “Heirloom”, uma coleção inspirada na sua infância, passada entre a cidade e a aldeia. Era em Trás-os-Montes, mais precisamente na aldeia de Vila Verde de Raia, perto de Chaves, que a designer vivia grande parte do tempo e são essas memórias que guarda até hoje, tal como revelou em entrevista à NiT.
A casa dos avós paternos, a taberna que havia no andar debaixo, os dias de festa e de procissão, assim como os verões passados a correr descalça e em total liberdade serviram de inspiração para esta coleção. Segundo a própria, é como se fosse um cartão-postal da sua infância.
Ainda assim, estão lá todas as características que definem Alexandra Moura. Das laçadas, ao fitting largo, bem como as camadas e os materiais texturados, tudo com um toque nostálgico. Todos os pormenores vieram ao de cima neste desfile. Até as flores, que a fazem lembrar os sofás e as carpetes, passaram para os padrões usados na coleção.
O clássico pied-de-poule, as blusas, as peças em tecidos fluidos e viscose foi buscar às recordações que tem das roupas da avó e até das viúvas da aldeia, daí que muitos dos coordenados sejam negros. Aliás, o final do desfile ficou marcado pelos tons bege e preto. A utilização de materiais como o tule, o jacquard floral, o denim e o algodão deram o toque contemporâneo e mais citadino a esta coleção.
O desfile terminou com um apoteótico aplauso ao trabalho da criadora, que teve uma sala completamente cheia — onde algumas pessoas tiveram de ficar de pé — para a ver.
Como começou a carreira de Alexandra Moura
Alexandra Moura nasceu em Lisboa e foi no IADE que se especializou em Projetos de Design de Moda. Mas antes disso, o clique para o mundo da moda ter-se-á dado numa ida a Londres, onde numa livraria descobriu o trabalho de Rei Kawakubo (Comme des Garçons), alguém que ela achou ter a mesma visão do corpo, da estética e da roupa que ela própria tinha.
Desde 2002 que apresenta as suas coleções em Portugal e pelo meio tem colaborado na criação de fardamento e no desenvolvimento de figurinos para espetáculos de dança. Em 2015 foi distinguida com o Prémio Mulheres Criadoras da Cultura, entregue pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género e pelos gabinetes do Secretário de Estado da Cultura e da Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade.
Ao longo da carreira tem tido a oportunidade de apresentar as suas coleções em diversos eventos e semanas da moda internacionais. Em fevereiro de 2016, por exemplo, viajou com o Portugal Fashion até Londres para integrar o programa oficial da London Fashion Week. O mesmo aconteceu em setembro deste ano.
É ela também a responsável por parte do guarda-roupa da artista plástica Joana Vasconcelos e da fadista Gisela João. Desde 2012 que tem um atelier e showroom na Embaixada, no Príncipe Real, em Lisboa, onde além das coleções, também realiza atendimento personalizado a clientes.
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