Durante uma conversa com a avó, que viveu “debaixo de bombas”, em Angola, durante a Guerra Colonial, Rita Ginja ouviu relatos dos horrores que a matriarca da família experienciou. Este testemunho despertou nela um profundo interesse pelo tema que a fez querer “expor todos os oportunistas que apoiam o negócio de armas”, conta à NiT.
Com a convicção de que a moda pode ser uma forma de afirmação, a estudante de 23 anos optou por esta expressão artística para transmitir uma mensagem. A sua coleção final da licenciatura em design de moda, na Escola Superior de Artes Aplicadas em Castelo Branco, teve como foco central a temática da guerra.
Ao escolher o seu look para a 64.ª edição da ModaLisboa, Rita decidiu trazer o mesmo tema para o Pátio da Galé. Rita destacava-se entre os muitos aspirantes a designers que procuraram mostrar a sua criatividade no street style do último dia.
“Considero que [o evento] é um palco gigantesco no mundo da moda, onde podemos dar voz não só aos nossos problemas, mas também aos dos outros”, explica. “Com uma plataforma tão vasta, quis dar voz às minhas causas.”
Um dos elementos mais originais do seu visual é um chapéu em tricô, feito a partir de sobras, que saiu precisamente da sua coleção. O acessório representa, acima de tudo, um statement acerca da crise dos refugiados. Enquanto “o verde do chapéu remete para as algas que encontram ao longo das travessias de barco, o efeito rasgado faz alusão aos campos” onde se concentram quando chegam à Europa.
Para que o chapéu fosse o centro das atenções, Rita optou por um look casual, composto por um casaco de ganga e bermudas estilo cargo que fez em colaboração com um amigo. Completou o conjunto com um top preto, um cinto e botas de estilo militar.
O seu trabalho, explica, está focado no universo do streetwear, adotando uma abordagem unissexo. “Gosto de explorar texturas e materiais diferentes”, refere. É isso que está a tentar trazer com a sua marca, Ginja Crew, que começou a divulgar recentemente nas redes sociais. “Uma parte significativa das peças da minha coleção é elaborada com malhas criadas a partir de restos de tecidos.”
Esta estética, bem vincada, contrasta fortemente com o estilo de Rita no dia a dia. “Sou muito feminina a vestir-me”, confessa. “Mas, para mim, o que usamos não necessita de refletir o nosso estilo enquanto designers. Gosto de explorar algo que me tire da zona de conforto.”
A vontade de se arriscar foi o que a levou a perseguir o seu sonho. Até há três anos, não lhe passava pela cabeça seguir design de moda — estudava física. Contudo, ao perceber que não estava feliz, começou a explorar outras possibilidades.
“Uma amiga disse-me que eu reparava muito nos outfits das outras pessoas e que tinha talento”, recorda. Essa foi a motivação de que precisava para descobrir a sua verdadeira paixão. “Neste momento, estou mais realizada do que nunca”, conclui.
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