Depois de conquistar o Globo de Ouro de “Personalidade do Ano” na categoria de Moda, a 28 de setembro, Constança Entrudo não abrandou o ritmo. “É ótimo sentir que o nosso trabalho é reconhecido”, conta à NiT.
A criadora portuguesa lançou este domingo, 5 de outubro (exatamente uma semana após a vitória), uma nova coleção na ModaLisboa. Faux Chic, assim se chama, é uma colaboração com a Castle Hi Hi Hi, uma marca de Lauren Kennedy Malpas, e com a Humana. É, segundo a designer, uma verdadeira “lição de história da moda”, conta à NiT.
A ideia para a linha, que tem bloomers, T-shirts, chapéus, vestidos e muito mais, nasceu de uma curiosidade partilhada entre Constança e Lauren. “Juntas pensámos num disfarce para miúdos e em como podíamos juntar esse conceito ao universo Constança Entrudo. A ideia partiu um bocadinho daí.”
A partir desse ponto, a criadora e a sua equipa mergulharam nos arquivos da marca, mais especificamente nos estampados antigos, figurinos, tecidos, entre outros. “E daí nasceu a coleção”, comenta. Depois, surgiu a terceira peça deste puzzle: a Humana, com quem a estilista de 30 anos trabalha há muito tempo.
“Eles dão-nos peças e nós reinterpretamo-las. Abrimo-las, estudamo-las, vemos etiquetas, compreendemos o mercado e o consumidor.” O processo acaba por ser uma autêntica viagem no tempo. Ali encontraram T-shirts dos anos 90, 2000, 2010 e não só.
Durante a pesquisa também houve algo que lhe chamou a atenção, de forma negativa. “Ver a quantidade de roupa de fast fashion que existe é deprimente. Há peças repetidas 10 mil vezes. As T-shirts das maratonas foram um dos elementos que mais me marcaram. São feitas para causas solidárias, mas, ao mesmo tempo, geram ainda mais lixo. É irónico e quisemos brincar também com essa ideia do wellness financiado por grandes empresas”, destaca.
Como sempre acontece, a experimentação foi essencial em todo o processo. E para ir contra a tendência do que acontece na indústria da moda, não tentou inovar tudo o que fosse possível. “Atualmente, parece que nada pode ser uma repetição”, lamenta.
“Foi muito interessante olhar para estampados antigos, de 2020, e pensar em como os poderíamos melhorar. A moda anda muito depressa e muitas vezes não há tempo para aprofundar certas ideias. Esta coleção permitiu-nos voltar atrás, revisitar o que ficou por explorar.”
No atelier de Constança Entrudo, a experiência também se transformou num exercício coletivo. “Isto foi o nosso team building”, brinca. “Cada membro da equipa pôde pegar nos tecidos e brincar com eles à sua maneira. Às vezes, pedimos a alguém novo para arrumar o arquivo, o que pode parecer aborrecido, mas a ideia é descobrir coisas, não arrumar.”
Sem um público específico em mente, a designer garante que a nova coleção serve para qualquer pessoa. Afinal, o tipo de clientes da marca “é muito variado”.
Como começou a carreira
A designer nasceu em Lisboa e viveu em Londres, no Reino Unido, durante seis anos, onde se licenciou em Design Têxtil pela prestigiada universidade de artes Central Saint Martins. Nos primeiros passos da sua carreira, trabalhou para a Marques’Almeida e Peter Pilotto.
Já em 2017 foi para Paris, França, para se tornar designer da Balmain sob a direção criativa de Oliver Rousteing, ano em que lançou também a sua primeira marca na ModaLisboa, com propostas para a primavera/verão.
Constança Entrudo contribuiu também para a internacionalização do design português em agosto de 2024, quando se estreou em Nova Iorque, nos Estados Unidos, marcando o início da sua expansão para o mercado norte-americano.
A designer é conhecida por apresentar o seu trabalho de forma irreverente, utilizando formatos inovadores, como peças expostas como obras de arte, suspensas por fios ou em cenários pouco convencionais. O seu universo artístico combina sons, imagens e têxteis.

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