Dias antes da partida de Portugal, a casa de Marina Machete enchia-se de encomendas. Porém, houve uma que a deixou especialmente emocionada. Ao abrir a caixa com o modelo que ia usar na categoria principal do concurso Miss Universo — “Evening Gown” —, recordou-se da adolescência. O primeiro vestido que comprou na sua vida tinha o mesmo tom coral da peça.
A modelo, natural de Palmela, em Setúbal, está a participar na competição internacional, que termina a 18 de novembro, em El Salvador, com concorrentes de 86 nacionalidades. É a primeira mulher transgénero a representar Portugal, uma escolha que tem dividido os portugueses.
Longe das controvérsias, Marina, de 28 anos, já desfilou na passarela onde está a decorrer a 72.ª edição da competição. As rondas preliminares, que determinam os resultados finais, decorreram na quarta-feira, 15 de novembro. As duas categorias avaliadas foram fatos de banho e vestidos de noite, respetivamente.
Foi no segundo momento que a antiga hospedeira de bordo mais recebeu aplausos do público. Subiu ao palco com um modelo que “representa a feminilidade e a elegância” da mulher portuguesa. Trata-se de um desenho com uma base muito fluida, que inclui um corpete bordado à mão e mangas gigantes em forma de flor que ganham vida própria.
O conceito começou a ser trabalho pelo designer Luis Bisanti, ainda antes de Marina ser coroada. “No ano passado, tive a oportunidade de criar um vestido para a Telma Madeira, a nossa representante no ano passado. A organização adorou o meu trabalho e quis colaborar comigo novamente”, conta à NiT.
Desde que a modelo triunfou, “não existiu muito contacto com ela”, acrescenta. O designer de 26 anos trabalhou diretamente com a equipa delegação portuguesa, que lhe deu total liberdade para criar um figurino ao seu gosto. O resultado final “homenageia as terras tropicais que acolhem” a representante, com “uma cor chamativa e pensava para o evento”.
Um dos aspetos mais importantes foi que a peça tivesse — e permitisse — movimento. “Ela tem uma postura muito forte e gosta de se movimentar em palco, então tinha que ser algo muito fluido”, sublinha. Por isso, não teve dúvidas de que a organza, fina e lisa, seria o melhor tecido para dar vida à proposta.

Luis Bisanti é um designer com raízes venezuelanas, mas que nasceu em Itália. Veio para Portugal em 2016, para estudar design de moda, na Escola Superior de Artes e Design. Pelo meio, passou uma temporada em Londres. Foi por lá que começou a sua carreira, mas acabou por regressar a Lisboa para lançar a sua marca original.
Em 2020, participou no Bloom, o concurso para jovens designers do Portugal Fashion, e desde então que soma desfiles em cidades como Nova Iorque ou Londres, por exemplo. Mais recentemente, começou a explorar o mundo dos concursos de beleza.
“Considero a minha marca detalhista. Trabalho com grafismo e muita extravagância nas peças. Todos nós, em algum momento da nossa vida, queremos algo mais atrevido e com elementos diferenciadores”, conclui. “Tanto o homem como a mulher se podem divertir com a roupa e representar a sua melhor versão.”
Outro dos segmentos do concurso é o dos trajes nacionais, onde cada mulher pode mostrar a sua cultura através da moda. A melhor interpretação recebe uma distinção especial. Pode ler mais sobre o vestido inspirado na República Portuguesa que Marina usou esta quinta-feira, 16 de novembro, neste artigo da NiT.
A seguir, conheça melhor a nova Miss Portugal. Carregue também na galeria para ver algumas fotografias de Marina Machete.