A emblemática Catedral de Notre Dame, em Paris, reabre ao público este sábado, 8 de dezembro, volvidos cinco anos desde que o edifício foi consumido por um enorme incêndio. O momento vai ser assinalado com uma cerimónia que decorre durante todo o fim de semana, com a presença de mais de 700 diáconos, bispos e padres.
Durante as celebrações, os elementos do clero vão usar trajes litúrgicos desenhados pelo estilista Jean-Charles Castelbajac, escolhido pela Diocese de Paris. O designer, que ficou conhecido nos anos 80, idealizou os paramentos coloridos que refletem o estilo vibrante ao qual é associado.
Chamadas casulas, estas vestes sacerdotais compridas são confecionadas em lã creme e, mais tarde, ornamentadas com uma grande cruz dourada. O que mais salta à vista, porém, são detalhes coloridos em veludo, com pinceladas em tons de vermelho, azul, verde e amarelo.
“A luz e o seu brilho guiaram o meu gesto criativo, pensei no brilho da cor na pedra clara renascida da Notre-Dame”, revelou em entrevista à revista “WWD”. “O meu trabalho concentrou-se no ritmo cromático e na força do ouro. Ecoando os vitrais, a cor é omnipresente nas casulas brancas, em redor da cruz dourada.”
O ponto de partida foi a cruz do coro de Notre-Dame, desenhado por Marc Couturier. O símbolo permaneceu de pé após o incêndio de 2019 e foi usado como inspiração para todo o trabalho, surgindo no centro como “um farol, um marco, um estandarte”. As casulas episcopais vão contar com 12 cruzes para simbolizar os 12 apóstolos.
As roupas foram fabricadas em colaboração com artesãos residentes do Le19M, um atelier centenário de moda dedicado ao artesanato, que conta com o financiamento da maison Chanel.
Os trajes refletem precisamente o ADN de Castelbajac. Aos 75 anos, é conhecido pelo uso de cores primárias e por se inspirar na pop art. Durante a sua carreira, conviveu com vários artistas como Keith Haring, Robert Mapplethorpe, Malcolm McLaren, Cindy Sherman ou ainda Andy Warhol.
Esta não é a primeira vez que o estilista, que se define como roqueiro, colabora com a Igreja. Em 1997, foi convidado para idealizar o traje do papa João Paulo II e de mais de cinco mil eclesiásticos, a propósito da 12.ª edição da Jornada Mundial da Juventude, em Paris. Na altura, criou as vestes a partir das cores do arco-íris.
Após ser questionado sobre a parceria, que muitos consideraram improvável, o criativo afirmou à imprensa francesa que “trabalhar para a Igreja é tão rock ‘n’ roll como trabalhar com os Sex Pistols”. “A arte e o sagrado abrem as portas para o invisível, e é isso que a moda é também”, acrescentou.
Nascido em Marrocos, em 1949, Castelbajac ficou conhecido como o rei do kitsch. Do seu imaginário saíram criações tão inusitadas como o casaco feito de ursos de peluche, usado por Madonna, a famosa com um desenho do Pato Donald com que Rihanna desfilou ou um casaco militar azul, usado por Beyoncé no videoclipe de “Telephone”.
Situado entre as artes e a moda, o trabalho do artista chegou também à moda mais comercial. Em 2018, levou o seu sentido de humor, criatividade e linguagem pop para a direção artística da United Colors of Benetton.
Nascido numa família nobre francesa, o estilista não esconde a admiração que sente pela catedral. “É um lugar extraordinário porque não há turistas, há visitantes, e há essa dimensão universal. Pudemos sentir o poder e a tristeza universal quando a Notre-Dame foi incendiada”, disse.
Carregue na galeria para ver mais detalhes dos trajes litúrgicos que serão usados.