Depois de Barak Obama se ter tornado no primeiro presidente afro-americano dos Estados Unidos, Kamala Harris é agora a primeira pessoa negra a ocupar a cadeira vice-presidência — e também a primeira mulher.
No momento de gritar vitória ao lado recém eleito Joe Biden — depois de cinco dias de contagem recheados de suspense —, a antiga senadora do Partido Democrata fez questão de apontar à meta: “Embora possa ser a primeira mulher a ocupar o cargo, não serei a última, porque todas as meninas que estão em casa a ver isto percebem que este é um país onde tudo é possível”.
A subida ao palco deste domingo, 8 de novembro, não foi a única vez que o look de Harris foi motivo de conversa. O informal par de sapatilhas da Converse que leva para todo o lado deu nas vistas durante a campanha. Mas desta vez, a escolha foi tudo menos casual.
No ansiado discurso de vitória a futura vice-presidente fez questão de prestar homenagem a todas as mulheres que a antecederam e que “desbravaram o caminho” para a sua eleição, ela que é filha de imigrantes de origem indiana e jamaicana.
Na plateia, foram avistadas várias expressões comovidas e olhos húmidos, sobretudo pelo facto de Kamala, com 56 anos, ter demonstrado que há lugar para as mulheres nos cargos mais importantes da nação — isto depois da traumática derrota de Hillary Clinton frente a Donald Trump em 2016.
“Reflito na luta destas mulheres, na sua determinação e na força da sua visão, para ver o que pode ser o futuro, sem sentir o fardo do passado”, explicou. “É em todas elas que me apoio.”
Para lá do discurso, Harris encontrou outra forma de as honras: através dos detalhes escondidos no fato que supostamente terá sido desenhado por Wes Gordon para a Carolina Herrera.
O branco e o laço Tatcheriano
A escolha não foi óbvia, mas rapidamente identificada. O branco foi, durante muitas décadas, a cor simbólica adotada pelo movimento sufragista que lutou arduamente pelo reconhecimento do direito de voto às mulheres.
Foi também essa a inspiração que levou milhares de votantes e apoiantes de Hillary Clinton a irem às urnas vestidas de branco. Não foi contudo motivação suficiente para fazerem dela a primeira mulher presidente.
Com a escolha, Harris fez também uma vénia a Shirley Chisholm, a primeira mulher eleita para o congresso, um feito conseguido em 1968, no auge da violenta luta pelos direitos civis. O branco tem sido, aliás, uma espécie de tradição feminista: Geraldine Ferraro usou-a quando concorreu à vice-presidência em 1984, ao lado de Walter Mondale; e Clinton também, no dia em que aceitou oficialmente a nomeação do Partido Democrata em 2016.

O protesto que as congressistas democratas levaram até Trump em 2017, fê-las vestirem se de branco. Uma mancha que surgiu na plateia e que tinha um objetivo: alertar para questões essenciais como os direitos reprodutivos — Trump mostrou-se sempre interessado em reverter a lei federal que permitia o direito ao aborto — ou a igualdade salarial.
O protesto em branco repetiu-se por diversas vezes no célebre discurso do Estado da União. E num deles, apenas a dois metros de Trump, a democrata Nancy Pelosi provocou o presidente com um aplauso sarcástico. Também ela estava vestida de branco.
Menos imediato foi a escolha do enorme laço que Harris trazia ao peito. Um gesto que a “CNN” atribui a uma referência a Margaret Tatcher, a primeira mulher a ser eleita primeira-ministra do Reino Unido, em 1979.
Esses laços foram a forma que a britânica encontrou para responder à farda tradicional dos políticos da época. Se eles usavam gravata, ela usaria o laço.