Quando chegou a Paris com 18 anos, Maud Le Fort partilhava um sonho com muitas miúdas da mesma idade. A francesa queria desfilar para as grandes marcas internacionais que via nas revistas. No entanto, não foi considerada magra o suficiente para as passarelas e acabou por ser classificada como “modelo comercial”.
“Tinha 36,6 centímetros de cintura e 85 centímetros de busto. Ou seja, tinha curvas”, recorda a jovem, atualmente com 30 anos, citada pelo “Daily Tribune”. “Disseram-me que só faria lingerie e talvez anúncios publicitários, mas não muita moda”.
Apesar dos comentários, recusou-se a desistir e começou a emagrecer. Mas sem fazer exercício físico, pois não podia ter músculos. “Pesavam-me quase todos os dias. E quanto mais peso perdia, mais elogios eu recebia”, recorda.
Quando chegou aos 49 quilos (com 1m81 de altura), Le Fort tornou-se o rosto de marcas como a Armani, Balmain, Jean Paul Gaultier e Yohji Yamamoto. O distúrbio alimentar prolongou-se durante cerca de uma década, até que percebeu que aquele estilo de vida não era normal. “Um dia disse ‘chega’. Vou comer e fazer exercício.”
A modelo anunciou esta segunda-feira, 25 de setembro, que não vai desfilar nas passarelas da Semana da Moda de Paris que arrancou no mesmo dia. A razão é simples: Maud prefere valorizar a sua saúde física e mental em vez da carreira profissional.
No último ano, a francesa começou a ter aulas de teatro e faz terapia regularmente para recuperar dos anos de pressão causados pela indústria. E, embora reconheça que está melhor, ainda não aceita completamente o corpo tal como é. Ao mesmo tempo que admite que a relação com a comida ainda está longe de ser saudável.
Quem a segue nas redes sociais sabe que continua a partilhar ensaios fotográficos na página de Instagram, mas não quer ter nada a ver com as exigências que levaram à sua depressão. Uma das regras que segue, por exemplo, é que nenhuma das fotos possa ser editada.
Dos distúrbios aos desmaios
Os relatos de casos deste género na indústria da moda acumulam-se todos os anos. Tatiana (um nome fictício) foi despedida da sua agência quando engordou devido a um tratamento hormonal. “Demitiram-me sem avisar”, disse a brasileira à mesma publicação. A modelo começou a trabalhar durante a adolescência.
Nos bastidores, relata, via “muitas miúdas magras a desmaiarem durante as provas”, seja por falta de energia ou porque “mal conseguiam andar de saltos altos”. Ainda assim, eram obrigadas pelas marcas a continuarem a trabalhar.
Agora, aos 37 anos, Tatiana está a trabalhar como modelo de provas. Isto significa que é chamada quando os designers querem experimentar as suas criações em mulheres mais comuns, sem cederem à fantasia e às exigências das passarelas.
Já Sophie (que também prefere dar um nome fictício ao “Daily Tribune”) está numa fase inicial da carreira, mas tem a certeza que não quer sacrificar a sua saúde por causa da linha. Tem 22 anos, mora em Paris e, além de estudar medicina, trabalha como modelo comercial. O seu maior objetivo é desfilar nas passarelas das grandes capitais mundiais.
“A moda não é um ambiente que eu recomendaria a alguém psicologicamente frágil”, diz. Até porque Sophie garante que se sente satisfeita fora deste mundo: “Se isto fosse tudo o que eu fizesse para viver, estaria constantemente preocupada”.