Volume, volume, volume. E muito drama. Embora não exista dress code para o icónico Festival de Cinema de Cannes, que arrancou esta terça-feira, 16 de maio, parece existir um padrão na passadeira vermelha. Desde a abertura que, na cidade na Riviera Francesa, têm aparecido convidadas a apostar em silhuetas megalómanas que levantam a questão: é apenas maximalismo ou excesso?
Um dos exemplos mais óbvios foi a cantora Yseult, de 28 anos, que apareceu para assistir à estreia do filme “Indiana Jones e o Chamado do Destino”. Com uma explosão de folhos e drapeados, a sua presença não só não passou despercebida, como é uma forte concorrente ao título de look mais excêntrico — e ainda só vamos no terceiro dia.
A francesa usou um vestido de seda vermelho bastante escultural, de tafetá de seda, sob a forma de rosas 3D. A flor surge dos dois lados da saia rodada enorme como se de origami se tratasse. À volta do pescoço, a peça inclui ainda um colarinho que se prolonga para uma camada enorme que serpenteia a sua cabeça.
A criação controversa é assinada por Sarah Burton, atual diretora criativa da Alexander McQueen, e saiu da passarela. A primeira vez que vimos o look foi no desfile da coleção de outono-inverno 2019 da marca britânica, marcada por um romance mais sombrio. É um design tão impactante que foi escolhido para encerrar a apresentação.

Nesse contexto, foi um sucesso. No entanto, já se sabe os looks de alta moda nem sempre funcionam na realidade. Aqui, ao contrário do que conta uma famosa lenda portuguesa, as flores não fizeram milagres — só desiludiram. Segundo conta a história, a transformação milagrosa aconteceu quando a rainha Santa Isabel levava pão para os pobres. A monarca visitava os mais desfavorecidos com frequência, contra a vontade de D. Dinis. Um dia, levando pão no regaço para distribuir em mais uma das suas visitas, foi interpelada pelo rei. Quando este lhe perguntou o que levava, respondeu: “São rosas, senhor, são rosas”. Ao mostrar o que transportava, aconteceu um milagre, e em vez do pão, apareceram as flores como tinha garantido.
Não sabemos se Yseult conhece a lenda, mas a história — numa versão mais avant-garde, aplica-se à escolha que fez. Porém, o resultado foi tudo menos milagroso. O look pouco consensual foi um dos mais comentados da passadeira vermelha. Nas redes sociais, entre centenas de comentários, houve quem afirmasse que foi “um grande desperdício de tecido” e que “Alexander McQueen [que faleceu em 2010] não aprovaria”.
Sendo uma mulher relativamente baixa, o visual fica ainda mais difícil de usar. E já era um styling ambicioso e complicado. Além disso, a escolha das botas Slash — e não das combat boots vistas na passarela — também não ajudaram a favorecer a sua figura, que ficou ainda mais curta.
A cantora desfilou com confiança, isso é certo. Mas é preciso mais do que atitude para convencer o público de Cannes de uma escolha tão arrojada. Uma das apostas mais certeiras foi o penteado, optando por um corte mais curto que não entra em conflito com o figurino.
Carregue na galeria para recordar todos os looks mais marcantes dos primeiros três dias do Festival de Cannes.