Antes de subir ao altar com o futuro rei Carlos I, em 1886, Amélia de Orleães recebeu um presente especial do sogro. Luis I pediu que fosse feita uma peça especial para a princesa usar no dia da cerimónia. Assim nascia o diadema de brilhantes — como ficou conhecida a joia —, que tinha também um colar espelhado, concedido pela rainha D. Maria Pia de Sabóia.
A tiara foi herdada por D. Duarte de Bragança e, em 1995, usada por Isabel de Herédia, duquesa de Bragança, no dia do seu casamento. Anexada a um véu de tule natural, a joia complementou o seu vestido modesto, com um bustier justo, saia ampla armada e bordados de Nisa, inspirados nas suas raízes alentejanas.
Agora, é a vez da filha, a infanta Maria Francisca, continuar a tradição. Volvidos 28 anos sobre o enlace, a jovem de 26 anos vai voltar a recuperar o diadema real para o seu casamento com o advogado Duarte de Sousa Araújo Martins. A cerimónia acontece já no próximo dia 7 de outubro, sexta-feira, na Basílica do Palácio Real de Mafra.
O mistério em torno do vestido, criado pela costureira Luzia do Nascimento, tem dado origem a várias teorias. Uma delas aponta para uma criação inspirada no desenho da mãe, uma vez que o acessório volta a estar em destaque. Porém, se o modelo é mantido em segredo, o mesmo não se pode dizer da joia que atravessa gerações.
A tiara tem 800 brilhantes
Inalterada até aos dias que correm, a peça foi criada pela marca de joalharia bicentenária Leitão & Irmão. Na altura, os fundadores — José Pinto Leitão e José Teixeira da Trindade — foram apelidados joalheiros oficiais da coroa, pelo rei Luis I, e por isso não foi uma surpresa quando o monarca os contactou para criar o presente.
“No Jubileu do Papa Leão XIII, foi-nos pedido que fizéssemos o presente que Portugal iria oferecer. O modelo foi um cálice que continua no Convento de Cristo”, recorda à NiT Jorge Leitão, atualmente à frente do negócio. “A peça tinha 80 centímetros e, na altura, o Sumo Pontífice disse a missa com ela à sua frente. O rei ficou tão contente que nos deu o título.”
Feita totalmente em diamantes, a tiara conta com 800 brilhantes — “um número importante de pedras” — e pesa entre 100 e 200 gramas. “Não é o peso que tem significado, mas a quantidade de pedras. Os brilhantes têm um valor incalculável”, acrescenta. Não há informações sobre a origem da matéria-prima.
Na altura, a proposta fazia parte de um conjunto com dois colares e um par de binóculos. Contudo, as restantes opções não voltaram a ser utilizadas. Esta tiara é a única, da vasta coleção da Casa Real portuguesa, que continua a ser usada, mas apenas em contexto nupcial.
“Essas joias são verdadeiros primores da arte de ourivesaria e tanto mais importantes para nós por serem obra feita por artistas portugueses, conforme o desejo manifestado por Suas Majestaes, de preferirem o trabalho de artistas nacionais”, pode ler-se numa edição de julho de 1886 da revista “O Ocidente”, à qual a NiT teve acesso.
Sobre o pedido, explica Jorge, todas as exigências foram feitas pelo rei após uma conversa com a sogra, cumprindo-se assim o desejo dos dois envolvidos. Devia, acima de tudo, complementar o vestido com uma longa cauda, que seguia o protocolo típico da monarcia: longo, sem transparências ou aberturas.
A tiara segue “um estilo renascença, todo de brilhantes, sendo os da parte superior do diadema de grandes dimensões, e os da parte inferior, menores”, assim “formando em conjunto um desenho elegante como se pode elevar pelas gravuras do mesmo”, continuou a publicação nacional.
Sobre o tempo que levou até estar finalizada, falamos de cerca de um ano. Um período que, para uma peça desta dimensão, feita por encomenda, “é muito pouco mesmo para os dias de hoje”, frisa o joalheiro. “Na época, os desenhos eram entregues pessoalmente. Depois, ainda demora tempo a entender o que é que o cliente quer fazer.”
Por trás, estariam aproximadamente cinco pessoas, um número que não diferente muito da manufatura atual. Entre quem desenha, modela, prepara o metal, grava as pedras e faz o polimento final, não é necessária uma equipa muito vasta. Mesmo para “um artigo excecional.”
Além do diadema histórico, sabe-se que a infanta Maria Francisca vai subir ao altar com brincos da mãe e da avó e uma pulseira real emprestada, contou ao “Observador”. As joias vão complementar o modelo “muito simples” em pano cru com uma silhueta princesa, cauda e poucos ou nenhuns bordados.
Do farto menu português ao bolo de 150 quilos, ambos pensados pelo chef Hélio Loureiro, os detalhes estão a ser revelados aos poucos. Antes do enlace, aproveite para ler a entrevista da NiT a Luzia do Nascimento, a costureira que trabalha para a família Bragança há mais de duas décadas, sobre o desenho que criou.
A seguir, carregue na galeria para ver alguns dos vestidos de noiva mais marcantes de 2023 (até ao momento).