O facto de terem ficado fechadas em casa durante vários meses, devido à pandemia, fez com que muitas mulheres não usassem soutien a maior parte dos dias. E, depois de tanto tempo sem usá-lo, quiseram mesmo dispensá-los dos outfits diários, principalmente durante o verão. Contudo, há quem ainda tenha receio de assumir um look sem esta parte da roupa interior.
Existem várias telenovelas, séries e filmes que retratam a chegada a casa, depois de um dia de trabalho, em que a primeira coisa a fazer é desapertar esta peça do corpo, para uma sensação de libertação, tanto física, como psicológica.
A atriz Gillian Anderson foi uma das primeiras a tocar neste tema, num direto na sua conta de Instagram. Surgiu a clássica questão sobre rotinas de beleza e dicas de estilo durante o confinamento, e a resposta não se centrou no número de horas de sono ou nos litros de água consumidos, mas sim em ter deixado de usar esta peça.
Nos primeiros meses de confinamento, foi criado o #nobrachallenge, um desafio digital em que mulheres se fotografavam vestidas, mas sem soutien. E, nos dias de hoje, existem comentários no Twitter a referir que, depois desta experiência, nunca mais vão voltar a usar esta roupa interior. Inclusive, as revistas de tendência abordam a morte definitiva do soutien, devido ao conforto que os atuais critérios estilísticos (re)descobriram.
Apesar de acharmos que este movimento é sinal de progresso. Na verdade, não é. Nos anos 70, Halston, estilista americano, desenhou vestidos para usar sem soutien e várias caras conhecidas da época, como Brigitte Bardot, Jane Birkin ou Bianca Jagger, não o usaram em inúmeras ocasiões. E não houve nenhum escândalo em relação a isso.
Contudo, a sua vulgarização e forte adesão nos anos seguintes, está intimamente relacionada com a necessidade das mulheres quererem “esconder” o corpo, devido à constante admiração masculina, tanto no sentido de agrado como de opressão . Até hoje, grande parte dos costureiros famosos eram homens, e nas poucas exceções femininas que singraram neste setor, o compromisso com o conforto era muito superior, devido ao incómodo que sentiam. Aliás, o soutien foi patenteado por uma mulher, Mary Phelps Jacobs, em 1914, com um passo revolucionário contra os olhares dos homens.
Apesar de ao longo dos anos, as mulheres terem deixado de usar várias roupas incómodas, o tabu do peito sem soutien ainda existe. Tanto que existiram vários testemunhos virais neste sentido, como o da escritora Hillary Benhouse, num artigo para a revista New Yorker. Descrevendo todo o processo de desconstrução mental desde o momento em que tomou a decisão de tirar o soutien, até ao dia em quem se habituou a não o usar, por completo.
Também a influenciadora francesa Sabina Socol mencionou em várias ocasiões a sua escolha de não prender o peito com um complemento interior. E recebeu várias críticas de seguidoras. Inclusive, este ano, a rede social Instagram já censurou fotos em que alegavam que os seios femininos estavam muito explícitos. E há repreensões escolares para os adolescentes que decidem não usá-lo para ir às aulas.
Em 2014, Rihanna foi receber um prémio CFDA com um vestido transparente e recebeu inúmeros comentários depreciativos. A cantora reagiu dizendo: “Os meus seios incomodam-te? Mas eles são recobertos de cristais Swarovski”.
Por isso, a questão que ainda se coloca é: “será que estamos mesmo a chegar ao fim da peça mais polémica do guarda-roupa feminino?”. Dado que, ainda há quem refira que não usar, pode gerar igual desconforto (ou usar o tamanho errado).
Para dar a volta a esta controvérsia, muita gente começou a optar por protetores de mamilo, uma maneira de “proteger” o peito sem ter os aros de metal a magoar constantemente, ou pelos soutiens desportivos. A compra destes modelos mega confortáveis, de algodão e sem armação, não parou de crescer. O que por sua vez simbolizou uma redução da compra de lingerie mais elegante e rendilhada.
Ainda que a tendência seja claramente não voltar a usar esta peça, a decisão deve ser inteiramente pessoal, e não estar sujeita a imposições sociais. Tal como escreveu Germaine Greer, em “The Eunuch Woman”, em 1970: “Os soutiens são uma invenção ridícula, mas tornar a norma de ficar sem eles é também submeter-se à repressão. Cada mulher deve decidir o que fazer com seu corpo”.
A seguir, carregue na galeria para conhecer algumas famosas que aderiram a este fenómeno.