Vivian Jenna Wilson estava a passear pelas ruas de Los Angeles, nos Estados Unidos, quando viu, pela primeira vez, o seu rosto em destaque na montra de uma loja. Na fotografia, surge com uma T-shirt branca que ajudou a desenhar e onde se lê uma frase que não foi escolhida ao acaso: “Existing shouldn’t be revolutionary” (ou seja, “existir não deve ser revolucionário).
A jovem apressou-se a publicar o momento inédito na Bluesky (uma rede social que surgiu como alternativa ao X, antigo Twitter). “Foi uma sensação de alívio”, confessou numa entrevista à revista “Vanity Fair”, acrescentado que, apenas tinha visto alguns vislumbres das imagens no set da campanha feita para a marca de roupa queer WILFANG.
A mensagem na camisola é transversal a toda a presença digital da influenciadora transgénero, de 21 anos, filha da relação de Elon Musk com a primeira mulher Justin Wilson, que durou entre 2000 e 2008. Ativista pelos direitos LGBTQIA+, divide os conteúdos que publica entre vídeos cheios de humor e mensagens sérias e vulneráveis.
Vivian passou os últimos três anos a atualizar os documentos legais, a entrar na esfera pública e a contestar um pai que considera “um homem patético e imaturo” e com quem não fala desde 2020. Pelo caminho, ainda foi estudar tradução para o Japão, mas decidiu regressar a Los Angeles para “perseguir novas ambições”.
Agora, a criadora de conteúdos está a dar os primeiros passos no mundo da moda, aproveitando algumas oportunidades como modelo. “Estou a passar um verão orientado para a minha carreira. Quero continuar a fazê-lo.”
O primeiro trabalho surgiu em maio, precisamente através da campanha para a WILFANG. A relação começou quando a fundadora, Emma McilRoy, reparou que a jovem já usava peças da etiqueta nos seus vídeos. Decidiu entrar em contacto, dando origem “a uma coisa muito autêntica”, descreveu Wilson à revista “Out”.

Numa das imagens, Vivian surge com uma trança com 12 metros de comprimento que soletra o nome que escolheu. O visual inclui ainda óculos de sol pretos e uma série de peças que seguem a filosofia sem género da marca, incluindo camisa estampada e um par de calções pretos oversized e um colete a condizer.
Entre os looks escolhidos, porém, destaca-se a T-shirt que a influencer não só vestiu, como também idealizou em conjunto com a marca — as receitas revertem a favor do The Prevor Project, uma organização sem fins lucrativos que visa a prevenção do suicídio entre jovens LGBTQIA+.
Segundo a jovem, a escolha da frase que queriam colocar na T-shirt surgiu de uma conversa orgânica entre as duas partes. A influenciadora afirma que não quis criar uma espécie de slogan que não parecesse autêntico, limitando-se “a falar até chegarem à ideia” que parecesse mais correta.
“Já trabalhámos com uma série de pessoas e nunca vi alguém tão talentoso à frente das câmaras”, afirmou McIlroy. “Há muita negatividade no mundo e muita negatividade em torno da comunidade queer. Ter alguém que é tão assumidamente ela própria e que traga alegria é o que mais precisamos.”
A inspiração na arte drag
À revista “Cut”, Wilson explicou que foi o programa “RuPaul’s Drag Race” que a atraiu para uma carreira na moda. “A forma como as diferentes rainhas tornavam a passarela sua era realmente cativante para mim”. A modelo acrescentou: “Essa curiosidade transformou-se numa paixão pela modelação digital e fotográfica. Sinto que sou muito boa nisso.”
Embora ainda se mostre tímida quando aborda o futuro, a criativa afirma que tem grandes aspirações para a carreira em ascensão. Um dos seus grandes objetivos é chegar a uma passarela — pelo menos de uma forma mais séria do que quando se tornou viral ao divertir-se na festa de estreia do reality show que a inspirou, junto das concorrentes.
No mundo da moda, Wilson pretende ainda incorporar esta sua obsessão pela arte drag, sugerindo que podem mesmo vir a criar uma personagem. “Obviamente, é muito difícil. Não é algo que possa dominar num dia. Reconheço isso, mas mesmo assim quero tentar”, admitiu à “Out”.
“Adoraria fazer desfiles, sim, mas estou a gostar de ser modelo fotográfica. Acho que tem sido mais divertido”, acrescentou, por sua vez, à “Vanity Fair”, sublinhando o quão importante é a escolha das marcas com quem trabalha, e que descreve como “empresas com práticas éticas”. “E, como bónus, estão alinhadas com aquilo que sou enquanto mulher queer e trans.”
A primeira campanha de roupa interior
Recentemente, Vivian Wilson também se uniu à marca de roupa íntima Tomboyx, para aquela que foi a sua primeira campanha em roupa interior. A equipa estava a preparar-se para lançar uma expansão da linha de produtos centrada em pessoas trans e, quando viram os vídeos da modelo, não hesitaram em convidá-la.
“Entraram em contacto comigo porque disse que estava interessada em trabalhar com mais projetos queer”, garante Wilson. “Experimentei alguns dos produtos e gostei muito deles. Ainda uso alguns”
Em entrevista à “Vanity Fair”, admitiu que estava “aterrorizada” por ter de se despedir para a campanha, assinada por Katia Temkin. Porém, sentiu-se rapidamente confortável ao descobrir que a equipa era formada apenas por mulheres transgénero. “Foi bom ter uma espécie de experiência partilhada com toda a gente”, recorda.

“Antes disso, era uma pessoa que quase nunca mostrava pele. De todo. Mesmo no meu dia a dia, como nas idas à praia com os meus amigos, não usava fato de banho”, observou. “Sinto-me confiante no meu próprio corpo, mas queria provar essa confiança a mim própria, se é que isso faz algum sentido. Mas também estava muito assustada.”
Agora, já se sente à vontade para usar roupas “um pouco mais reveladoras”, como revelou à “Cut”. “O meu estilo está a evoluir, especialmente à medida que me sinto mais confortável com o meu corpo”, diz. “Há um ano atrás, nunca pensaria em usar um top curto, mas agora já o faço.”
Apesar das oscilações, não tem dificuldade em descrever o seu estilo atual. “É uma alemã de 30 anos que se embebeda com vinho. É a tia fixe. Vagamente gótica, mas não sabe bem o que é ser gótico, por isso veste-se toda de preto”, brinca. “No liceu, usava a mesma camisola rosa da Jigglypuff na escola quase todos os dias, que foi uma escolha que fiz.”
Um fenómeno no TikTok
Com cerca de 1,5 milhões de seguidores no TikTok, Vivian Jenna Wilson mostra-se confiante, mas também não tem medo de ser vulnerável. As publicações espontâneas tornaram-se virais rapidamente, chamando à atenção de pessoas em todo o mundo para a sua criatividade no digital.
“Diria que um terço dos meus vídeos é apagado cinco minutos depois de estarem online”, diz. “Quando estou a fazer o vídeo, penso: ‘Isto é hilariante’. Mas depois vejo-o e penso: “Não, oh não, não, não’. E depois apago-o.”
“Não sei se sou demasiado autocrítica, mas é uma coisa que faço por diversão, certo? O TikTok não é algo que me dê muito dinheiro — não sei se me é permitido dizer isto, mas ganho muito dinheiro com o TikTok porque os vídeos que faço não são monetizáveis. Faço-o apenas porque é divertido.”
A jovem aproveitou uma entrevista à “Teen Vogue” para se reintroduzir ao público, sob os seus próprios termos, e mostrar a sua identidade. “Quando estava na adolescência, havia essa falta de conformidade de género. Perceber que era trans tornou-me mais experimental com o meu estilo.”
Porém, desde julho do ano passado que tem falado abertamente sobre a relação que mantém com Elon Musk, sobretudo após o pai ter feito uma série de comentários a criticar a filha. Numa das entrevistas, mencionou que ela fora “assassinada pelo vírus woke”. A jovem respondeu com um vídeo onde brinca a dizer que está “bastante bem para uma vadia morta”.
@vivllainous
Wilson também publicou críticas severas à biografia do magnata, escrita e publicada por Walter Isaacson, em 2023, acusando o autor de “atirá-la aos lobos”, deturpando a sua identidade, criando “narrativas difamatórias” e referindo-se a ela com um nome incorreto, recorrendo ao nome de batismo.
Segundo informações divulgada pelo jornal “The Wall Street Journal”, Musk descobriu sobre a transição de género da filha através de uma mensagem enviada pela então adolescente à cunhada. “Ei, eu sou trans e agora meu nome é Jenna”, terá escrito.
Vivian é uma das filhas mais velhas de Musk e tem um irmão gémeo, Griffin. Ambos nasceram em 2004 por fertilização in vitro, após o casal — Elon e Justine Musk — ter sofrido a perda trágica de um filho devido à síndrome da morte súbita infantil, com apenas dez semanas de vida. Tem ainda três irmãos trigémeos (Damian, Saxon e Kai) e dois meio-irmãos: X A-Xii e Exa Dark Siderl.
A jovem assumiu-se como transgénero em 2020, aos 16 anos, durante o auge da pandemia da COVID-19. Originalmente, fê-lo através de uma publicação nos stories do Instagram, como afirmou à “Teen Vogue”, e, mais tarde, contou à mãe. Foi também nessa altura que cortou relações com Musk.
Agora, com uma plataforma cada vez maior, a modelo quer usá-la para falar o máximo possível sobre as dificuldades que a comunidade trans enfrenta. “Estou a trabalhar ou a participar em alguns projectos de angariação de fundos que os meus amigos estão a fazer e estou a tentar juntar-me a essas iniciativas”, garantiu à revista “People”.
“Vou sempre falar muito sobre estas questões porque é quem sou. Sou uma mulher trans. Tenho de ser uma mulher trans”, concluiu, antes de dar a gargalhada perversa que os seguidores já reconhecem dos vídeos. “É óbvio que nunca me vou calar.”
Carregue na galeria para ver alguns dos primeiros trabalhos como modelo de Vivian Jenna Wilson.