Moda

Winnie Harlow: os colegas fugiam dela na escola com medo, agora é uma super modelo

A antiga concorrente do "America's Next Top Model" tem vitiligo, uma condição que provoca várias manchas na pele.
É um dos maiores nomes na indústria da moda.

“Eu sou jamaicana, canadiana e nunca aceito um não como resposta. Sou uma mulher. Sou uma mulher negra. Sou a filha da minha mãe. Amo a minha família, a que escolhi e a que me foi dada. Nunca perco uma oportunidade para pregar uma partida a alguém. Sou todas estas coisas e muito mais, antes de ser o que está a acontecer à minha pele.”

Winnie Harlow é um dos nomes mais cotados atualmente no mundo da moda. Até porque esta indústria procura cada vez mais dar palco a pessoas diferentes, fora daquilo que outrora eram os padrões da sociedade, em que uma super modelo tinha de ser magra e, geralmente, branca. Sem querer, Winnie tornou-se também um símbolo de todas as pessoas que têm vitiligo, uma condição rara que faz com que as células de pigmentação da pele comecem a morrer, criando manchas esbranquiçadas espalhadas pelo corpo. No caso da modelo, começaram a surgir quanto tinha apenas quatro anos.

“Sentia-me muito isolada quando era miúda. Lembro-me vivamente de estar no terceiro ano [ e tentar ser amiga de duas raparigas que fugiam de mim porque as mães delas não queriam que apanhassem o que eu tenho, como se eu fosse contagiosa”, contou à revista “Cosmopolitan”. O bullying por parte dos outros miúdos tornou-se tão mau, que se viu obrigada a mudar de escolas diversas vezes — mas sempre na zona de Toronto, onde vivia. “Quando era mais nova, não via ninguém como eu na televisão, nos cartazes ou nas passarelas. Pensava que era a única pessoa no mundo assim.” Durante muitos anos, os seus únicos amigos eram a irmã Christina e os pais Lisa e Windsor.

Fez 28 anos a 27 de julho. Agora, mais segura e com a cabeça arrumada, lembra-se de que, quando era jovem, partilhava um sonho bastante comum entra a sua geração: ser youtuber. “Ainda sou obcecada pelo YouTube. Foi lá que aprendi a maquilhar-me e a estilizar o meu cabelo, e onde aprendi também a cuidar da minha pele”, revela.

Tal como todas as mulheres negras, para Winnie, o cuidado com o cabelo natural não era algo que pudesse aprender facilmente. Mas com o passar do tempo dominou totalmente o seu estilo com penteados super originais e únicos, nunca esquecendo as suas raízes.

“Quando entrei no mundo da moda, a minha vida mudou. De repente, era famosa, mas como ‘a modelo com vitiligo'”. Tinha medo, mas sentiu-se inspirada pela sua amiga e jornalista Shannon Boodram, que a incentivou a seguir aquela carreira após fotografá-la quando era adolescente.

“Fui ganhando mais seguidores nas redes sociais. Estava a receber muito amor e apoio, e as pessoas diziam-me que as inspirava”, conta, desta vez, à revista americana “People”.

A ascensão ao estrelato após o “America’s Next Top Model”

O mundo passou a conhecê-la quando tinha apenas 19 anos. Estávamos em 2014, ano em que participou no programa de sucesso “America’s Next Top Model”, apresentado pela carismática Tyra Banks. Na altura, Winnie Harlow foi um dos principais destaques da 21.ª temporada — que em Portugal foi transmitida na SIC Mulher.

Podíamos esperar que uma plataforma global como o programa norte-americano catapultasse imediatamente Harlow para o estrelato, mas tal não aconteceu. Na verdade, verificou-se o oposto. Ficou em sexto lugar entre 14 concorrentes. Não conquistou os espectadores, que a apelidavam de mimada e fedelha. Anos depois, em perspetiva, afirma que o seu sucesso não surgiu graças ao programa. Ao contrário do que muita gente pensa.

“Depois de ter aparecido no ‘America’s Next Top Model’, nenhuma agência me queria, por causa do estigma ligado aos reality shows. Assim que me apercebi disso, comecei a focar-me na Europa”, recorda.

Longe dos Estados Unidos, começou a ganhar relevância na indústria, após ser uma das protagonistas de uma campanha da Desigual, de 2015. Em Espanha, tornou-se mais conhecida graças a esse projeto e não tanto devido ao formato apresentado por Banks. “Foi nessa altura que me apercebi que podíamos ser bem-sucedidas fora do programa. Nunca tinha visto uma supermodelo na indústria que tivesse vindo do reality”, diz à “People”.

Apesar de tudo, mostra-se grata pela oportunidade que teve. “Ela [Tyra Banks] foi a primeira pessoa de estatuto que me fez sentir que poderia mesmo ser uma modelo, e isso é algo que nunca esquecerei. Fico sempre agradecida por todas as experiências que tenho, mas também quero ser verdadeira com os jovens cujo sonho é ser modelo. Aprendi que a melhor coisa que podemos fazer para sermos levados a sério é tirar fotografias do rosto e encontrarmos uma agência de confiança.”

À medida que ia ficando mais famosa, foi namorando com alguns dos maiores nomes das suas respetivas indústrias. Em 2018, começou uma relação com o rapper Wiz Khalifa, mas terminaram em 2019. Um ano depois, em maio, apareceu ao lado de Kyle Kuzma, um jogador profissional de basquetebol e têm uma relação atribulada. Apesar de em agosto de 2021 terem anunciado que já não estavam juntos, foram fotografados pelos paparazzi em fevereiro deste ano, e desde aí que têm partilhado várias fotografias juntos nas redes sociais.

A modelo que quer ser mais do que a pele

Apesar de todos os seus feitos, muitos continuam a tratá-la por “modelo com vitiligo”. Um estigma do qual quer fugir. Tem orgulho da sua pele e maquilha-se de forma a realçar as manchas, mas é um rótulo que não pretende carregar durante toda a sua carreira.

“Fui a primeira pessoa com este distúrbio dermatológico a desfilar na passarela da Victoria’s Secret, fui capa da ‘Sports Illustrated Swimsuit’ e de inúmeras revistas de moda pelo mundo e fui embaixadora da Puma. Para mim, tem sido mais sobre guardar o dinheiro e ter a certeza que consigo tomar conta de mim e da minha família. A melhor parte da fama é a quantidade de sítios onde vamos”, explicou à “Cosmopolitan”.

E acrescentou: “Mas mesmo apesar de todos estes sucessos e primeiras vezes, continuam a perguntar-me sobre o vitiligo, o bullying que sofri quando era nova, como me chamaram vaca e zebra. É frustrante porque também sou uma adulta que teve uma vida cheia de acontecimentos. E, sinceramente, já lidei com traumas piores que o meu distúrbio de pele. Chateia-me quando me metem numa caixa. Estou grata e amo tudo o que faço, mas também estou entusiasmada para que comecem a falar do meu próximo capítulo. É uma nova era ligada ao ativismo”.

Carregue na galeria e conheça melhor uma das supermodelos mais originais da indústria.

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