A indústria da moda pode ser muito cruel. Uma expressão que, muito provavelmente, não estará ler pela primeira vez. Existe, de facto, alguma verdade nessa expressão. Aquilo que há seis meses era incrível, rapidamente deixou de o ser. No entanto, existem um par de marcas que têm a capacidade de ocupar eternamente um lugar especial nos nossos corações. A Sanjo é um desses casos.
A marca cresceu e prosperou em Portugal durante décadas. Foi lançada corria o ano de 1933, pelas mãos da Companhia Industrial da Chapelaria, uma empresa que se dedicava (até então) a produzir chapéus.
Num país completamente fechado ao mundo exterior, a marca — que ganhou o nome em jeito e homenagem à cidade que a viu nascer, São João da Madeira — foi um verdadeiro sucesso. Durante os anos 40, 50, 60 e 70 o seu modelo desportivo feito em lona, tornou-se no par de eleição de todos os portugueses. Dificilmente encontrava alguém que não tivesse um no armário.
Em 1974 tudo mudou. Com a queda da ditadura, inúmeras marcas internacionais entraram no mercado português e a Sanjo não foi capaz de fazer face à concorrência. Cerca de 20 anos depois, a empresa fechou oficialmente as portas.
Em 2010 a icónica marca portuguesa fez uma primeira tentativa de retorno. A insígnia havia sido comprada por uma empresa nacional que decidiu mudar a produção de Portugal para a China. O motivo apontando foi a dificuldade em encontrar fabricantes capazes de fazer a sola vulcanizada que era incorporada nas sapatilhas K100 e K200. Isto fez com que a qualidade baixasse significativamente e, por isso, o relançamento da marca acabou por cair por terra.
A entrada da Sanjo numa nova era dá-se em 2019, quando foi comprada por uma empresa de Braga a, M2BEWEAR, que se dedicou a limpar a imagem deixada pela seu anterior dono. “Costumo dizer, quase em tom de brincadeira, que a Sanjo é um velhinho com quase 90 anos que durante um período de tempo foi muito maltratado., começa por contar à NiT, Vitor Costa, o diretor criativo. “As marcas são sobre amor, comunicação e imagem, e senti que no início havia algum mal-estar. Foi um trabalho difícil de fazer, dificuldade que acabou por se superar rapidamente. A partir do momento em que fizemos o primeiro editorial, a nossa imagem passou a ser mais cuidada, as pessoas começaram a perceber que houve essa mudança, e desde então o feedback tem sido muito bom.”
Fazer o relançamento de uma marca tão icónica como esta não foi, no entanto, um processo fácil Existe um legado e um imaginário popular que tem de ser respeitado. “Houve alguns constrangimentos causados por um ADN tão vincado, o que dificultou um pouco a produção de novos modelos. No entanto, tentei trazer muitos dos elementos da Sanjo antiga. Até porque, tendo em conta que era uma marca com um arquivo tão rico, não fazia sentido ignorar essas referências. Claro que houve alguma resistência, mas quando criei os modelos skater tudo mudou.”, afirmou o diretor criativo da marca.
As mudanças da Sanjo não se ficaram por aqui. Ainda que a princípio não fizessem planos de se dedicarem ao vestuário, em 2021 apresentaram a sua primeira linha de roupa. “Inicialmente fiquei um pouco reticente, mas depois, quando mergulhei no legado, percebi que a marca, devido à sua origem — serem sapatilhas feitas por uma fábrica de chapéus —tinha sido extremamente ousada. Então assumi essa inspiração”, conta Vitor Costa.
Atualmente, a etiqueta continua a apostar na otimização dos seus produtos, tanto ao nível do conforto como também de sustentabilidade. Isso vai refletir-se na próxima coleção que vai incluir, estampados tie-dye feitos a partir da conversão de garrafas de plástico. Além disto, essa linha incluirá cores recuperadas dos modelos originais, e ainda um par de sapatilhas de performance desenhado, assumidamente, para quem gosta de andar de skate.
Carregue na galeria para conhecer alguns dos modelos atuais da Sanjo.