Cinema

A verdadeira história da protagonista de “Joy”

Aos 12 anos já criava invenções mas foi uma esfregona, que desenvolveu depois dos 30, que fez dela milionária. O novo filme de David O. Russell, com Jennifer Lawrence, conta a vida de Joy Mangano.

Ao hospital veterinário onde trabalhava em Long Island, com 15 ou 16 anos, via todos os dias chegarem cães e gatos gravemente feridos, depois de terem sido atropelados durante a noite. Foi assim que imaginou um colar fluorescente para proteger os animais nessas situações. No ano seguinte, uma invenção muito parecida foi comercializada pela Hartz Mountain e Joy Mangano fez uma promessa a si própria: “A próxima boa ideia que tivesse, iria conseguir levá-la ao mercado.”

Essa ideia brilhante só chegaria em 1990, cerca de 20 anos depois. A miracle mop (esfregona milagre) viria a revolucionar o mercado com as suas características completamente diferentes das outras opções e faria de Joy Mangano uma milionária. A sua história é contada em “Joy”, o novo filme de David O. Russell, com Jennifer Lawrence, que estreia esta quinta-feira, dia 7, em Portugal.

A verdadeira Mangano é produtora executiva, embora a história escrita e realizada por O. Russell tenha uma parte ficcional e nem tudo corresponda ao percurso real da empresária. O primeiro argumento, de 2013, era de Annie Mumolo (“A Melhor Despedida de Solteira”), mas quando David O. Russell aceitou dirigir o projeto, reescreveu tudo. Passou cem horas ao telefone com a empresária, apesar de os dois só se terem encontrado pessoalmente já com o processo do filme bastante adiantado.

Joy Mangano nasceu em Nova Iorque em 1956, numa família italo-americana. O pai tinha uma oficina mas também um serviço de aluguer de autocarros escolares e shuttles para o aeroporto. A sua imaginação levou-a a querer criar coisas diferentes desde muito cedo mas nem sempre tudo correu bem: aos 12 anos quase causou uma explosão numa torradeira, ao fazer algumas alterações para que ela grelhasse, para além de torrar.

Terminou o secundário um ano mais cedo e estudou na Universidade Pace, em Nova Iorque, de onde saiu em 1978 com o curso de Gestão de Empresas. Pouco depois já estava casada com Anthony Miranne — que não era um cantor venezuelano, como no cinema, mas sim seu colega de curso —, com quem teve três filhos, Christie, Robert e Jacqueline. Apesar da formação, acabou por ter trabalhos como empregada de mesa e responsável de reservas numa companhia aérea para sustentar os miúdos depois do divórcio, em 1989, e pagar as contas da pequena casa de dois quartos em Smithtown, Long Island.

A invenção que lhe garantiu sucesso e fortuna surgiu um ano mais tarde. Ao sentir-se frustrada com as esfregonas comuns, Mangano criou o protótipo da miracle mop com 91,44 metros de um fio contínuo de algodão, dividido em várias voltas, e um manípulo que permite espremer a água sem sujar ou molhar as mãos. Na altura, muitos achavam que estava “doida”, explicou ao “The New York Times”. “Diziam-me: ‘uma esfregona é uma esfregona’.”

Joy Mangano investiu o pouco dinheiro que tinha e pediu ajuda à família e aos amigos para produzir os primeiros cem exemplares, que vendeu em pequenas lojas de Long Island e mercados locais. A empresa, que passou a funcionar na oficina de mecânico do pai começou por se chamar Arma Products, mudando mais tarde para Ingenious Designs.

“Sou como toda a gente por aí. Sou mãe, trabalho, tenho uma casa para limpar, coisas para organizar. Todos temos algumas necessidades semelhantes, eu dou-lhes uma solução”

Pouco depois assinou um contrato com o QVC, um canal de televendas, que incluía mil esfregonas. As vendas começaram por ser fracas — e os responsáveis chegaram a querer devolver o produto — mas quando a estação permitiu que fosse Mangano a promover, em direto, a miracle mop, foram vendidos 18 mil exemplares em 20 minutos. Em 1992 já aparecia na televisão 120 horas anualmente e uma década mais tarde, as vendas situavam-se nos dez milhões por ano.

Em 1999, Joy Mangano vendeu a Ingenious Designs à USA Networks, empresa mãe do Home Shopping Network (HSN), o canal concorrente de televendas. Cada vez que aparece em direto, as suas vendas rondam os 920 mil euros em apenas uma hora. Gosta de entrar em direto à meia-noite (até à uma da manhã) quando está nos estúdios de Tampa, Florida. “Fico com arrepios cada vez que penso nisso”, admitiu a norte-americana à “Vogue”.

Hoje tem uma fábrica com 4600 metros quadrados, milhares de trabalhadores e tem mais de cem patentes registadas em seu nome. “Sou como toda a gente por aí. Sou mãe, trabalho, tenho uma casa para limpar, coisas para organizar. Todos temos algumas necessidades semelhantes, eu dou-lhes uma solução”, explicou Joy Mangano sobre o sucesso dos seus produtos.

Para além das suas criações, fez parcerias com outras pessoas, incluindo algumas personalidades públicas, como a tenista Serena Williams e a sua linha de jóias, ou o chef Todd English, com quem desenvolveu uma gama de tachos e frigideiras amigos do ambiente. No dia da estreia no HSN, a 26 de julho de 2007, foram vendidas mais de 24 mil peças em quatro horas.

Desde que abriu a sua empresa já recebeu inúmeras distinções, incluindo Empresária do Ano de Long Island, pela Ernst & Young, em 1997; ficou em 77.º na lista da Fast Company das 100 Pessoas Mais Criativas no Mercado; e, em 2010, foi incluída no ranking das 10 Mulheres Mais Criativas. Em 2009 apostou numa área completamente diferente, inaugurando um restaurante em Huntington, Nova Iorque, chamado Porto Vivo.

A sua fortuna está hoje avaliada em mais de 920 milhões de euros. Vive numa mansão em Long Island, a Swan Manor (com 14 quartos e 13 casas de banho), e, tal como no filme, o ex-marido, Anthony Miranne, continua a ser um dos seus melhores amigos e vice-presidente da empresa. Os três filhos também trabalham juntos. Christie, com 33 anos, é vice-presidente da secção de desenvolvimento da marca, merchandising e marketing; Bobby, 32, é advogado e responsável pelas estratégias da Ingenious Designs; Jackie, 30, é modelo e apresenta muitas vezes os produtos em direto no HSN.

A miracle mop foi o primeiro produto a conseguir o selo de qualidade da Good Housekeeping — hoje já são 26 com a mesma garantia. Para Joy Mangano “saber que as criações simplificam a vida de outras pessoas” é o que realmente lhe dá “alegria (joy)”.

“As pessoas viram como eu estava entusiasmada em relação à miracle mop e que o meu entusiasmo era real. Quando tive a oportunidade de, eu própria, demonstrar o produto, os espectadores queriam-no”, explicou Mangano em relação às vendas na televisão.

Carregue na imagem acima para descobrir as invenções mais populares de Joy Mangano.

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