Cinema

Crítica: “Viver Depois de Ti” é a versão romântica e menos boa de “Amigos Improváveis”

Sim, é um filme feito para criar emoções fáceis e para deixar lágrimas nos olhos dos (mais sensíveis) espectadores. A essência esgota-se aí? Não.

A adaptação para cinema do bestseller “Viver Depois de Ti” – onde a escritora Jojo Moyes assume o papel de argumentista – conta a história do triângulo amoroso entre Louisa Clarke (Emilia Clarke, ou Daenerys Targaryen, como é mais conhecida em “A Guerra dos Tronos”), Will Traynor (Sam Claflin, da saga “Hunger Games”), e… a morte.

A história do filme, que estreia em Portugal esta quinta-feira, 11 de agosto, passa-se numa pequena cidade britânica. Louisa é uma jovem da classe baixa, alegre e sonhadora, que é contratada para animar e fazer companhia a Will, um jovem da família mais rica da cidade, que até tem o seu próprio castelo e que costumava ser o homem mais ativo do mundo — até uma mota lhe passar por cima, deixando-o tetraplégico e deprimido. Inevitavelmente, os dois vão-se apaixonar.

“Viver Depois de Ti” pode ser a versão romântica de “Amigos Improváveis”, mas está longe da genialidade do filme francês – e até mesmo a química entre os protagonistas é menor. Apesar disso, e de a história não ser brilhante, Emilia Clarke (com o guarda-roupa mais psicadélico da história do cinema) e Sam Claflin desempenham bons papéis.

O filme vale pelo sentido de humor dos diálogos, pela construção de algumas personagens secundárias, como os familiares dos protagonistas, e pelos momentos mais distantes dos clichés presentes no filme — a escapadinha a uma ilha exótica que parece tudo menos verdadeira é o pior deles. Além disso, tenta abordar questões complexas como a eutanásia ou a deficiência física. A forma como o faz é que talvez seja demasiado simplista e leve.

A verdade é que nunca vemos o lado feio da história. Louisa não faz o trabalho difícil de ajudar um deficiente motor — para isso está lá o médico/enfermeiro/amigo Nathan (Stephen Peacoke) — e, apesar de estarmos constantemente a ser relembrados de que Will tem muitos problemas físicos vemos poucos sinais de sofrimento durante o filme.

Talvez possa ser perigoso o filme questionar se vale mesmo a pena viver numa cadeira de rodas, mesmo que não o faça de forma direta. Várias associações de tetraplégicos já protestaram contra a maneira como o tema foi abordado. E é demasiado óbvio que quer fazer com que os espectadores se sintam ainda pior e mais tristes pelo facto de Will ter uma família ideal, ser rico, charmoso, e ter sido a pessoa mais feliz — e propensa a desportos radicais — do mundo. Talvez não seja justo. O filme toca ao de leve nos temas, que são sensíveis, mas não tem coragem para os confrontar e discutir.

A estreia em cinema da realizadora Thea Sharrock não é ótima, mas também não é completamente terrível. Apesar de explorar emoções básicas e da banda sonora foleira — desculpem-me os Imagine Dragons e o Ed Sheeran, entre outros —, “Viver Depois de Ti” tem vários momentos bons e é o filme indicado para os apreciadores do género.

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