Depois de realizar o aclamado drama semi-autobiográfico “Dor e Glória”, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar decidiu investir a sua criatividade numa curta-metragem chamada “A Voz Humana”. Foi gravada em julho do ano passado, estreou no festival de Veneza em agosto e esta quinta-feira, 15 de julho, chega aos cinemas portugueses.
O filme tem 30 minutos e é completamente protagonizado por Tilda Swinton, atriz de 60 anos que tem sido convocada por grande parte dos realizadores autores de prestígio (como Wes Anderson, Bong Joon-Ho, os irmãos Coen, Jim Jarmusch, Luca Guadagnino ou Joanna Hogg) pelo seu talento e figura excêntrica.
Em “A Voz Humana”, interpreta uma mulher que foi deixada pelo companheiro. A ação desenrola-se quase toda no apartamento em Espanha onde vive — que tem, como seria de esperar, décors de cores vibrantes e peças inusitadas que só poderíamos encontrar num projeto de Almodóvar.
Ao longo do filme, os espectadores acompanham a jornada interior desta protagonista, que está em profundo luto pelo fim da relação — todos os sentimentos negativos lhe passam pela mente, desde os mais melancólicos aos mais auto-destrutivos, da raiva profunda ao puro desprezo. Está isolada e ansiosa, cheia de arrependimentos mas também de motivos para mandar tudo ao ar.
No apartamento estão as bagagens que o marido deixou prontas para mais tarde ir buscar — e também anda por lá o cão do casal, que foi igualmente abandonado pelo homem. Contudo, Pedro Almodóvar acaba por assumir que aquela habitação recheada de detalhes não passa de uma construção artificial num estúdio, revelando que há gavetas que não abrem, portas que não dão para lado nenhum e uma ausência de teto — num paralelismo que pode ser estabelecido com a relação esvaziada que é o tema central da pequena narrativa.
Além disso, há uma espécie de contradição na vida da protagonista. Ao mesmo tempo que o companheiro já não a quer, seja por que razões for, profissionalmente ela é cada vez mais desejada pelos produtores — ficando no ar a dúvida sobre se é uma atriz ou uma modelo.
“A Voz Humana” é uma curta-metragem inspirada na peça de teatro com o mesmo título escrita pelo francês Jean Cocteau, que começou a ser encenada em 1930 como monólogo. Já tinha sido adaptada por Roberto Rossellini ao cinema, nos anos 40 (entre outras adaptações), e terá mesmo servido de inspiração para que Almodóvar criasse o seu icónico “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, em 1988. Agora, Almodóvar quis voltar a ela através deste exercício criativo mais próximo.
O filme tem sido amplamente elogiado pela crítica especializada e, mesmo que possa não encher as medidas de uma longa-metragem de Almodóvar, é um projeto que pode valer a pena descobrir para os muitos fãs do cineasta espanhol.
Além do filme, a projeção inclui uma entrevista com Pedro Almodóvar e Tilda Swinton sobre a curta, o que faz com que a sessão no cinema dure uma hora e 18 minutos.
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