Pouco mais de um ano depois de atuar para um esgotadíssimo Coliseu dos Recreios, em Lisboa, Ennio Morricone morreu. O maestro e compositor italiano tinha 91 anos e faleceu na sequência de uma queda na sua casa em Roma. Deixa um legado incomparável, com centenas de bandas sonoras num incrível currículo.
Filho de um músico e de uma mãe que tinha um pequeno negócio na indústria têxtil, Morricone começou cedo a tocar vários instrumentos e a aprender música. Compôs as primeiras obras quando ainda era criança.
Compôs música para teatro, para a rádio e para muitos artistas — incluindo para a portuguesa Dulce Pontes, que em 2003 lançou “Focus”, um álbum com várias músicas compostas por Morricone (com quem esteve em digressão em várias ocasiões).
No entanto, o seu grande legado é o trabalho que fez no cinema, desde o início dos anos 60 até aos dias de hoje. E o facto de quase não falar inglês nunca foi um obstáculo. Neste artigo, recordamos nove bandas sonoras que foram marcantes e que vale a pena recordar no dia da morte do seu autor.
“Por um Punhado de Dólares” (1964)
A primeira vez que o mundo viu Clint Eastwood na trilogia de western spaghetti de Sergio Leone foi em “Por um Punhado de Dólares”. Para este novo estilo de anti-herói, Ennio Morricone criou um novo género de banda sonora — com coros masculinos, guitarras hispânicas, assobios e sinos, entre outros elementos característicos. Foi o trabalho que tornou inicialmente Morricone mais conhecido dentro da indústria do cinema.
“O Bom, o Mau e o Vilão” (1966)
O terceiro filme da mesma trilogia foi o também clássico “O Bom, o Mau e o Vilão”. O maestro introduziu guitarras elétricas e sons representativos dos coiotes do oeste — para esta história sobre três homens que competiam entre si para encontrar um tesouro enterrado. O género western ficou marcado para sempre.
“Aconteceu no Oeste” (1968)
Ennio Morricone continuou a sua colaboração com Sergio Leone em “Aconteceu no Oeste”, num trabalho que aumentou ainda mais a dimensão do maestro na conceção do filme. Para que os atores entrassem no ambiente certo, o realizador punha a tocar a banda sonora enquanto o filme era gravado. Ou seja, ao contrário do habitual, a produção foi mais influenciada pela banda sonora do que o oposto.
“Era Uma Vez na América” (1984)
O nome de Sergio Leone volta a repetir-se, mas agora nos anos 80. Foi a última colaboração entre ambos — e mais uma vez Leone fez com que os atores desta epopeia criminal passada em Nova Iorque ouvissem a banda sonora enquanto gravavam as cenas. É uma das obras-primas mais conhecidas do maestro italiano.
“A Missão” (1986)
Uma das mais famosas bandas sonoras de Ennio Morricone é a de “A Missão”. Os arranjos são divinais neste filme sobre um grupo de jesuítas espanhóis que tenta proteger uma tribo da América do Sul que está sob o domínio dos portugueses no tempo da escravatura.
“Os Intocáveis” (1987)
Logo no ano seguinte, Brian De Palma e Ennio Morricone juntam-se para “Os Intocáveis” — a história dos polícias que conseguiram travar Al Capone, o mafioso mais famoso da primeira metade do século XX.
“Cinema Paraíso” (1988)
“Cinema Paraíso” é, de forma relativamente consensual, um dos grandes filmes sobre a magia do cinema. E foi a primeira colaboração entre Morricone e o seu compatriota Giuseppe Tornatore, numa história distante dos westerns, thrillers e épicos de crime com que o compositor ficou conhecido. O maestro era verdadeiramente versátil e esta foi mais uma prova no seu currículo.
“Màlena” (2000)
É o filme menos conhecido desta lista — e também foi realizado por Giuseppe Tornatore. Ao longo dos anos, Ennio Morricone foi fazendo menos filmes (até porque deu prioridade aos concertos), mas esta produção tem uma das suas melhores bandas sonoras. Esta é a história de um rapaz adolescente em Itália, em pleno clima de guerra, que se está a auto-descobrir enquanto fica obcecado com uma mulher sensual (que é interpretada por Monica Bellucci).
“Os Oito Odiados” (2015)
Não é conhecida como uma das melhores bandas sonoras de Morricone, mas foi uma das suas mais recentes a ter impacto — e foi aquela pela qual venceu o único Óscar de Melhor Banda Sonora da longa carreira (esteve nomeado outras cinco vezes e foi-lhe ainda atribuído um Óscar honorário de tributo ao seu trabalho). Em “Os Oito Odiados”, foi a primeira vez que trabalhou com Quentin Tarantino — ainda por cima num filme com contornos western.