Cinema

A amizade que levou Willem Dafoe a tornar-se protagonista do novo filme de Bárbara Paz

A atriz brasileira, conhecida por cá pelas telenovelas, está a preparar a sua estreia como realizadora em longas metragens de ficção.

Pode não conhecer o nome, mas a cara, essa é fácil de identificar. Aos 48 anos, Bárbara Paz é uma atriz bem conhecida da televisão e cinema brasileiros e, por cá, brilhou em muitas das telenovelas que acabam por preencher as grelhas dos canais nacionais. Agora, Paz vai estrear-se na realização de ficção e vai contar com um nome de peso a ajudá-la: o ator norte-americano Willem Dafoe.

O projeto ainda não tem nome, mas segundo Paz, irá falar sobre a solidão vivida nos dias de hoje. E a possibilidade de agarrar um dos nomes mais conhecidos do cinema explica-se pelo currículo e historial da brasileira, que se virou para a realização e desde 2006 tem trabalhado nas posições atrás das câmaras. Mas foi em 2019 que lançou o seu grande projeto até ao momento como realizadora.

Tudo começa com a separação do então namorado Dalton Vigh, em 2007, ano em que acabou por dar início a uma relação com o cineasta argentino — e mais tarde naturalizado brasileiro — Hector Babenco. A diferença de idades era grande. Ela tinha 32, ele 61.

“Não existe idade no amor. Quando há química, quando bate, a idade não importa. A pessoa tem que ter humor, inteligência. Os números são relativos” explicou em 2013 sobre a relação de ambos.

Nascido em Mar del Plata, o argentino mudou-se cedo para o Brasil, onde também fez carreira e realizou o célebr “Carandiru”. Aos 31 anos já era um cidadão brasileiro. Foi já tarde que conheceu Bárbara Paz. Antes de a conhecer, ainda nos anos 80, travou amizade com um “gringo”, o ator Willem Dafoe, que se manteve sempre no seu círculo próximo.

O cineasta viveu uma vida atribulada. Tinha 38 anos quando lhe foi diagnosticado com um cancro linfático, que conseguiu combater. Essa luta durou uma vida inteira, com altos e baixos, mas que sempre o debilitaram.

“Sempre que estava a morrer, inventava um novo filme para fazer”, revelou Bárbara Paz, com quem namorou durante três anos, antes de decidirem casar em 2010. A união sofreu sobressalto, uma curta separação de vários meses, onde sempre imperou a amizade.

A doença impedia-o de ser um cineasta prolífico. Com o passar dos anos, foi fazendo cada vez menos filmes. O último, lançado em 2015, contou precisamente com Willem Dafoe no papel que, indiretamente, relata a luta do próprio Babenco. “O Meu Amigo Hindu” conta a história de Diego
Fairman, um realizador que sofre de um cancro terminal e que acaba por ficar internado num hospital. Na cama do lado esta um jovem hindu, com quem constrói uma amizade próxima, enquanto debatem a vida e a sua importância.

O filme autobiográfico foi também importante para Dafoe, que disse que sim ao projeto que seria o último do seu amigo. “Eu conheço o Hector, sabia da sua doença e era claro que o filme tinha elementos autobiográficos (…) Ele era uma personagem carismática, conseguia ser muito brusco, por vezes, assustava as pessoas. Mas para mim, ele sempre foi um doce e o seu amor pelo cinema e pela vida eram contagiantes. Quando estavas ao lado dele, havia sempre uma aura de aventura, de espanto. Talvez porque sempre esteve perto da morte. Mas mesmo antes de ficar doente, sempre teve uma alegria de viver”, revelou o ator, já depois da morte de Babenco em 2016.

Ainda durante os seus últimos meses, quem decidiu também contar a sua história foi Bárbara Paz, que nos longos dias ao seu lado, no hospital, decidiu que Babenco teria que ser partilhado com o mundo. Foi então que começou a gravar um documentário sobre o cineasta e que só foi lançado após a morte, em 2019. Chamou-se “Babenco — Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou”.

“No fundo, queria que todo mundo ouvisse o que eu estava a ouvir, que as pessoas conhecessem o pensador, além do cineasta, esse homem que lutava para sobreviver porque se mantinha vivo para fazer cinema”, conta a atriz.

Além de conhecer Dafoe do círculo de amizades do ex-marido, Paz tinha também contracenado com ele em “O Meu Amigo Hindu”. Uma amizade que ajudou a convencer o ator de 67 anos a participar na primeira longa metragem de ficção da brasileira, ele que ao longo dos anos se tem mostrado sempre disponível para trabalhar em produções independentes e estrangeiras, nos tempos mortos entre filmes de Hollywod.

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