Nürburgring é a mais longa pista de automobilismo do mundo e também a mais perigosa. A 28 de março de 2015, o jovem piloto Jann Mardenborough competia no piso do autódromo alemão quando à saída de uma lomba, o potente Nissan GT3 que conduzia levantou voo e embateu fora dos limites da pista. Vários espectadores ficaram feridos. Um deles morreu.
O acidente marcou a carreira do piloto que, na verdade, não era um piloto como os outros. O britânico não cresceu nas pistas, rodeado de bólides e de outros conhecedores do desporto motorizado. Filho de um futebolista, Mardenborough tinha uma paixão pelos automóveis, mas nunca havia conduzido um carro desportivo — era sim um fanático dos videojogos e do jogo “Gran Turismo”, um simulador automóvel.
Num golpe de sorte improvável, Mardenborough acabou a participar e a ganhar a GT Academy, um reality show promovido pela Sony e pela Nissan. O concurso pretendia escolher os melhores pilotos do videojogo e dar-lhes uma hipótese de se tornarem pilotos de verdade. O britânico venceu de forma gloriosa e acabou a protagonizar uma admirável carreira profissional.
É a sua história que chega esta quinta-feira aos cinemas em “Gran Turismo”, um filme realizado por Neill Blomkamp (“District 9”) e escrito por Jason Hall (“Sniper Americano”) e Zach Baylin (“King Richard”). Tal como a GT Academy, o filme — e outros como “Uncharted” e “The Last of Us” — é produzido pela Sony, que tem feito iniciativas semelhantes para promover a sua consola.
O papel de Mardenborough foi entregue a Archie Madekwe, que surge acompanhado de David Harbour e Orlando Bloom, os nomes mais fortes do elenco, mas longe de serem as únicas caras conhecidas. A produção conta ainda com Djimon Hounsou e a ex-Spice Girl, Geri Horner.
Sobre a adaptação do acidente, Mardenborough é franco. “É a minha vida, é parte da minha história. Creio que o filme não estaria a prestar um bom serviço aos espectadores se excluísse esse momento”, confessou em entrevista.
No entanto, as opções dos argumentistas têm dado origem a várias críticas, desde logo por causa da linha temporal. O acidente, no filme, ajuda a enquadrar uma viragem no rumo do protagonista, que fruto desse incidente viria a inspirar-se para ganhar as 24 Horas de Le Mans. Acontece que na vida real, essa vitória aconteceu anos antes do desastre em Nürburgring.
Seja como for, é uma narrativa inspiradora de um jovem que trocou os ecrãs pelas pistas reais. Foram as muitas horas em frente à televisão que o ajudaram a decorar cada curva, cada trajetória perfeita, para depois aplicar o conhecimento na pista. Faltava tudo o resto.
Para chegar à GT Academy teve que ultrapassar mais de 90 mil jogadores. Foi também obrigado a uma preparação física intensiva. O concurso, que existiu entre 2008 e 2016, apurou vários craques, mas nenhum como Mardenborough, que se tornou no terceiro e mais novo candidato a conquistar um lugar na equipa de corrida da Nissan.
Depois de apurado para a academia e de lá vencer a concorrência, pôde conduzir um carro de corrida nas 24 Horas do Dubai. Tinha apenas 19 anos. Dos 23 eleitos que completaram a GT Academy, só Mardenborough e Lucas Ordóñez conquistaram um pódio na prova principal de Gran Turismo, as 24 Horas de Le Mans.
O britânico viria a competir nos campeonatos de Formula 3, GP3 e GP2, bem como na prova lendária de Le Mans. Ao fim de dois anos em competição, ainda um novato, conquistou aquele que continua a ser o seu melhor resultado, um terceiro posto em Le Mans. Dez anos depois, ainda continua a pilotar.
Carregue na galeria para ficar a conhecer as novas séries que chegam à televisão em agosto.