Cinema

“Babylon” é divertido e explosivo, mas tem vários problemas (e é demasiado longo)

Margot Robbie, Brad Pitt e Diego Calva brilham nesta história sobre a Hollywood louca dos anos 20 e 30.
Margot Robbie e Diego Calva brilham no filme.
69

Depois de “Whiplash – Nos Limites” e “La La Land: Melodia de Amor”, tudo o que Damien Chazelle fizesse teria impacto — e muitos meios. É o que se verifica com “Babylon”, que estreou nos cinemas portugueses a 19 de janeiro. A Paramount aprovou um filme com um orçamento enorme que olha para a própria história de Hollywood, prestando homenagem à grande indústria do cinema norte-americano, uma temática que os estúdios adoram trabalhar.

“Babylon” passa-se entre os anos 20 e 30, num ponto de viragem que foi decisivo para a evolução do cinema — quando os filmes com som, os “talkies”, apareceram e mudaram para sempre o panorama da indústria. Toda a logística de gravações alterou-se, muitos atores não conseguiram transitar com sucesso dos filmes mudos para os sonoros, e houve uma autêntica revolução em Hollywood.

A par disso, o filme hedonista de Chazelle argumenta que nos anos 20 se vivia um clima efervescente de liberdade, de experimentação caótica; e que, depois, com as alterações na sociedade norte-americana, as pessoas passaram a valorizar os valores morais e exigiu-se uma Hollywood mais polida e conservadora, que correspondesse aos apelos do público de então.

Nós, os espectadores de hoje, somos guiados numa viagem por esta realidade — que evidentemente também inclui elementos fictícios e talvez até revisionistas — através de três grandes personagens. Margot Robbie é Nellie LaRoy, alguém que nasceu para ser uma estrela embora venha de um contexto pobre, e que acaba por se tornar num dos grandes sex symbols daquela era.

Brad Pitt interpreta Jack Conrad, um ator veterano com um percurso consolidado, que começa a narrativa no seu terceiro casamento e vai perdendo o seu protagonismo e estatuto à medida que a indústria evolui. Por fim, temos Diego Calva como Manny Torres, um imigrante mexicano à procura de trabalhar em Hollywood, o mais mágico dos lugares, que vai percorrendo um caminho de ascensão social dentro da indústria — começa como um faz-tudo nas festas das grandes estrelas até se tornar num dos principais executivos dos estúdios.

Além disso, é preciso mencionar Jovan Adepo como Sidney Palmer, um trompetista virtuoso que se torna uma estrela quando os seus concertos passam a ser gravados e transmitidos nos cinemas; e Li Jun Li como a enigmática Lady Fay Zhu, uma anfitriã entertainer que delicia o público com as suas performances artísticas sensuais.

Com uma direção de fotografia ambiciosa, “Babylon” apresenta-nos festins de luxo recheados de orgias, drogas, bebidas alcoólicas e grandes extravagâncias — há, inclusive, um elefante na grande festa que abre o filme, onde Manny Torres conhece Nellie LaRoy, por quem se apaixona platonicamente; e Jack Conrad, para quem passa a trabalhar enquanto assistente.

Damien Chazelle, que também escreveu o argumento, polvilha a narrativa com várias referências a episódios que se tornaram mitos urbanos desta era dourada de Hollywood. O autor de “Babylon” não está interessado em fazer qualquer tipo de julgamento, nem reflete propriamente sobre as condições de classe, género ou etnia que evidentemente moldaram a forma como a indústria se desenvolveu — acaba por se centrar mais na forma como a máquina de Hollywood inevitavelmente espezinha as estrelas quando já não precisa delas. No conceito de que, acima de tudo, reina o coletivo e que nenhum indivíduo pode perdurar para sempre na ribalta.

“Babylon” tem cenas impressionantes e super divertidas — sobretudo quando demonstra a forma (inevitavelmente) imprudente como muitos filmes eram gravados na altura. Margot Robbie, como sempre, é magnética — e a sua personagem vive muito desse mesmo magnetismo. Brad Pitt, ele próprio um ator há mais de 30 anos, encarna na perfeição uma estrela em decadência, com alguma melancolia, tornando-o num dos principais responsáveis por dar densidade à história. E Diego Calva tem aqui um papel revelação — provavelmente nada será igual para o ator mexicano depois deste filme. A banda sonora jazzy, que já foi galardoada com um Globo de Ouro, é realmente incrível.

Contudo, a produção de Damien Chazelle tem alguns problemas. O caos pode ser avassalador. Não é um filme particularmente coeso, no sentido em que nem mesmo a incrível edição e montagem conseguem salvar algumas das suas disparidades. Ficamos com a sensação de que há cenas a mais e que 3h09 de ação é francamente um exagero. Até porque há linhas narrativas que deixam a desejar e mereciam mais. Especialmente a relação entre Nellie LaRoy e Manny Torres, a trajetória de Lady Fay Zhu, o momento tenebroso com o arrepiante James McKay (Tobey Maguire) e o final que não representa o culminar que o primeiro ato do filme merecia. Embora tenha grandes momentos, ficamos com a sensação de que era possível fazer uma melhor versão de “Babylon”.

ÚLTIMOS ARTIGOS DA NiT

AGENDA NiT