Há uma semana — desde a última segunda-feira, 1 de junho — que os cinemas podem reabrir em Portugal. No entanto, poucos são aqueles que o têm feito. Não é difícil explicar os motivos. Aliás, na última semana de maio, a FEVIP — Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais enviou uma carta ao governo e ao ICA (Instituto de Cinema e Audiovisual) em que pedia o adiamento da abertura das salas para 2 de julho.
A razão é muito simples: a associação garantia que as principais distribuidoras em Portugal não têm filmes novos para exibir, porque dependem sempre do circuito internacional de estreias de cinema, sobretudo dos EUA — onde toda a indústria está parada e muitas das produções tiveram as respetivas estreias adiadas por vários meses.
“Reabrir as salas sem novos filmes equivale a ter um supermercado com as prateleiras vazias ou cheias de produtos cujo prazo de validade já passou”, disse o diretor-geral da FEVIP, António Paulo Santos, na carta enviada a 25 de maio.
A FEVIP acrescentou que a proposta para a reabertura a 1 de junho foi “uma surpresa” e que era “absolutamente despropositada e irrealista”, sendo que a associação nunca foi consultada, apesar de representar mais de 95 por cento das salas de cinema portuguesas.
“A disponibilidade dos filmes está atrasada e dependente da abertura dos mercados internacionais, como é o caso dos EUA. Esta disponibilidade só é esperada para o mês de julho, se as condições sanitárias o permitirem”, pode ler-se na tal carta enviada ao governo e ao ICA.
O maior problema tem a ver com as grandes cadeias, sobretudo as que ficam em centros comerciais (espaços que também puderam reabrir a 1 de junho, com exceção para a Área Metropolitana de Lisboa), onde há muitas salas, mas não há filmes suficientes para exibir e atrair espectadores — sobretudo numa altura de pandemia e com todas as normas de segurança e restrições necessárias.
“Se não tivermos produto e não abrirmos as salas, nos centros comerciais temos que pagar multas”, disse António Paulo Santos numa entrevista à “RTP” a 24 de maio, sobre o facto de o setor poder sair ainda mais fragilizado economicamente depois desta proposta de reabertura do governo. E defende que o negócio só será viável se for possível ter uma lotação mínima de 50 por cento.
Contudo, a autorização governamental para abrirem a 1 de junho seguiu em frente e desde essa data que alguns cinemas que não são tão prejudicados por estes problemas — os do circuito independente e menos comerciais — abriram as suas portas e voltaram a exibir filmes.
É o caso do Cinema Ideal, em Lisboa, que reabriu a 1 de junho com “Retrato da Rapariga em Chamas”, filme que estreou a 12 de março mas que esteve pouco tempo em exibição. Têm sido exibidos também dois documentários para assinalar os 75 anos do final da Segunda Guerra Mundial: “Quem Escreverá a Nossa História” e “Uma Vida Alemã”.
No mesmo dia, voltaram a abrir-se as portas do Cinema Trindade, no Porto. “Retrato da Rapariga em Chamas”, de Céline Sciamma; “Family Romance, LLC”, de Werner Herzog; “A Minha Vida Como JT Leroy”, de Justin Kelly; “Liberté”, de Albert Serra; e “A Vida Invisível”, de Karim Aïnouz, são alguns dos filmes que têm sido exibidos para os espectadores que têm de usar obrigatoriamente máscara e manter o distanciamento social (exceto se viverem juntos), como em todas as salas.
O Cinema São Jorge, em Lisboa, tem o espaço aberto mas a programação ainda decorre online. A Cinemateca Portuguesa, também na capital portuguesa, já reabriu, assim como o Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra.
O Cinema Medeia Nimas anunciou que vai reabrir na quarta-feira, 10 de junho, feriado nacional. A programação inclui clássicos de Stanley Kubrick, Roman Polanski ou Manoel de Oliveira, mas também algumas novidades de cineastas contemporâneos.
A maior exibidora até agora a abrir a maioria das suas salas é a Castello Lopes, que reabriu a 4 de junho os cinemas do TorreShopping, em Torres Novas; do W Shopping, em Santarém; e do GuimarãeShopping e Espaço Guimarães, em Guimarães. As salas da Grande Lisboa — do Alegro Sintra e Forum Barreiro — continuam encerradas, tendo em conta que os centros comerciais ainda não puderam reabrir na área metropolitana da capital.
Há mais cinemas a reabrirem esta segunda-feira, 8 de junho. É o caso da Cineplace Portugal, empresa que fechou a 18 de março as suas 85 salas de cinema (a operarem em 14 centros comerciais). Esta segunda-feira, a partir das 15 horas, reabre o Cineplace La Vie, da Guarda. As restantes salas ainda não têm datas marcadas.
O grupo UCI Cinemas abriu esta segunda-feira a sala UCI Arrábida, no Porto — as duas salas em Lisboa continuam encerradas.
Os cinéfilos de Setúbal vão poder voltar ao Cinema Charlot — Auditório Municipal, que reabre na noite desta segunda-feira, pelas 21h30, com o filme português “Mosquito”, de João Nuno Pinto.
A maior exibidora nacional, a NOS, e a Cinema City, ainda não têm qualquer data prevista para a reabertura.