Cinema

Bradley Cooper alvo de críticas por usar “prótese exagerada” de “nariz judeu”

A polémica estalou após o lançamento do primeiro trailer de “Maestro”, onde o ator encarna o compositor Leonard Bernstein.

Leonard Bernstein foi um dos mais consagrados maestros e compositores da sua geração, para sempre recordado como um dos criadores do musical “West Side Story”. Foi, sem surpresa, que Bradley Cooper escolheu a sua história para o seu segundo filme no papel de realizador, mas também de protagonista.

É que Bernstein foi mais do que um génio da música. Viveu tempos conturbados, uma relação de uma vida com a atriz Felicia Montealegre e uma orientação sexual que sempre escondeu. Esta terça-feira, 15 de agosto, chegavam as primeiras imagens de “Maestro”, que deveriam ter sido recebidas com expectativa.

Contrariamente ao esperado, o teaser trailer deu origem a uma controvérsia e a um avolumar de críticas dirigidas a Cooper, o grande obreiro do filme, no papel de realizador, produtor, co-argumentista e protagonista.

Em cima da mesa estava, naturalmente, a figura quase irreconhecível de Cooper. Numa tentativa de o tornar mais semelhante à figura de Bernstein, o ator recorreu a um nariz falso. As mudanças faciais tornam-se mais notórias à medida que a personagem envelhece no filme.

Contudo, a grande polémica centra-se na dimensão do nariz, que muitos entendem tratar-se de uma escolha polvilhada de antissemitismo — isto porque Bernstein era judeu. A agravar a situação estará também a escolha de Cooper para interpretar o papel de um judeu.

“Hollywood escolheu Bradley Cooper, que não é judeu, para encarnar uma lenda judaica, Leonard Bernstein, e enfio-lhe na cara um nojento e exagerado ‘nariz judeu’”, escreveu em comunicado a StopAntisemitism, uma organização criada para combater o antissemitismo.

Os comentários que se seguiram, sobretudo nas redes sociais, dirigiram-se no mesmo sentido, com muitos a apelidarem o nariz falso de “desnecessário”. “Vi o Bradley Cooper interpretar o ‘The Elephant Man’ [peça sobre um homem desfigurado] na Broadway, sem qualquer prótese, mas quando encarna um judeu, subitamente decide que precisa de um nariz gigante?”, escreveu outro dos críticos.

Em causa está uma situação a que habitualmente apelidam de “jewface”, semelhante ao fenómeno da “black face”, isto é, quando um indivíduo recorre a um retrato exagerado de judeus ou de negros, que acaba por cair na caricatura e, no pior dos cenários, em racismo e/ou discriminação.

Quem decidiu sair em defesa do ator foram os próprios filhos de Bernstein, que emitiram um comunicado a comentar o tema. Cooper fez questão de os convidar para fazerem parte da produção do filme.

“É verdade que o Leonard Bernstein tinha um bonito e enorme nariz. O Bradley [Cooper] optou por usar maquilhagem para amplificar as semelhanças e estamos perfeitamente à vontade com isso. E temos a certeza que o nosso pai não se importaria minimamente.”

A defesa torna-se mais contundente. “São tentativas desonestas e dissimuladas de tentar puxar para baixo uma pessoa bem sucedida. Uma prática que observamos recorrentemente tendo como alvo o nosso pai”, contam os filhos. “Durante toda a produção do filme, sentimos o profundo respeito e amor que o Bradley transmitiu no seu retrado do Leonard Bernstein e da sua mulher, a nossa mãe Felicia.”

Esta não é a primeira vez que a escolha de atores não-judeus para interpretarem judeus foi tema de debate acalorado em Hollywood. Em 2021, a comediante Sarah Silverman criticou a tradição, mas não só. “Além de interpretarem pessoas judias, fazem com que o facto de serem judeus molde toda a sua personalidade e o seu ser (…) Muitas vezes recorrem a maquilhagem, alteram as feições, usam grandes narizes falsos e o sotaque nova-iorquino com o iídiche à mistura.”

A representação de judeus com nariz grande é habitualmente associada à propaganda nazi e representada como um estereótipo racista e antissemita.

Carregue na galeria para ficar a conhecer as novas séries que chegam à televisão em agosto.

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