Numa conversa recente programada pela revista “Variety”, entre os atores Bradley Cooper e Mahershala Ali, Cooper revelou que quase desistiu de ser ator durante a pandemia. “A razão pela qual não desisti de representar foi o Paul Thomas Anderson”, revelou.
Bradley Cooper interpreta uma personagem secundária no novo filme do aclamado cineasta, “Licorice Pizza”, que estreou nos cinemas na última quinta-feira de 2021. É um dos sérios candidatos aos Óscares. “Quando ele me ligou para eventualmente entrar no projeto, a sério, Mahershala, achei que tinha aberto uma porta no filme dele.”
O ator de 47 anos é um grande fã de Paul Thomas Anderson, o realizador de filmes como “Magnolia”, “Haverá Sangue” ou “The Master – O Mentor”. Cooper explicou que foi o seu primeiro trabalho durante a pandemia e que teve a oportunidade de aprender com o cineasta durante as semanas de gravações. “Vi todos os testes de câmaras. Ensinou-me tudo sobre lentes, coisas sobre as quais não tinha qualquer ideia”, explicou Cooper, que também é realizador. Estreou-se com “Assim Nasce Uma Estrela” em 2018 — que foi um enorme sucesso.
Em “Licorice Pizza”, Bradley Cooper interpreta o produtor de cinema Jon Peters. É uma personagem secundária, mas que tem sido super elogiada — aliás, Cooper está nas listas das grandes publicações especializadas como potencial candidato ao Óscar de Melhor Ator Secundário.
Quando terminou as filmagens, regressou a “Nightmare Alley – Beco das Almas Perdidas”, projeto que começou antes da pandemia mas que teve de ser interrompido por esse mesmo motivo. O filme de Guillermo del Toro estreou nos cinemas portugueses a 27 de janeiro.
Mas, segundo Bradley Cooper, não foi difícil voltar à personagem de Stanton Carlisle. Foi uma habilidade que terá conquistado precisamente em “Assim Nasce Uma Estrela”, quando teve frequentemente de alternar entre o papel de um músico alcoólico e o de realizador no set de gravações.
O ator foi convidado para participar em “Nightmare Alley – Beco das Almas Perdidas” depois de Leonardo DiCaprio ter saído do projeto. “Ainda me lembro de pensar: Ah, os tipos que não me queriam contratar, agora querem-me contratar? E depois foi do género: Claro que tenho de o fazer porque nunca entrei neste grupo. Era insegurança e ego.”
A carreira atribulada de Bradley Cooper — que já considerou várias vezes deixar de ser ator
Ao longo dos anos, Cooper não teve propriamente uma vida fácil em Hollywood. Distanciou-se por diversas vezes da indústria e enfrentou dificuldades pessoais. O projeto mais relevante que fez no início da carreira começou em 2001 — a série “A Vingadora”.
Contudo, à medida que as temporadas avançavam, foi tendo cada vez menos protagonismo. E a sua participação também não se traduziu num aumento de trabalho (e de papéis melhores) na indústria do cinema e televisão. O ator acabou por perceber que os seus dias em “A Vingadora” estavam contados e que aquilo não o iria levar a lado nenhum.
Contra os conselhos de colegas e amigos, pediu para que os argumentistas retirassem a sua personagem da história. Bradley Cooper abandonou a série, mas não tinha qualquer trabalho em vista. O seu nome passou a ser u pouco mais conhecido, mas não conseguiu conquistar trabalhos regulares e consistentes.
Nessa fase da sua vida, Cooper sofreu uma depressão. Estava inseguro e com dúvidas sobre se iria conseguir vingar na área da sua paixão. Pouco tempo depois de sair da série, teve de enfrentar uma dificuldade acrescida. Rompeu o tendão de Aquiles, o que obrigou a uma longa (e dolorosa) recuperação.
Bradley Cooper disse em entrevistas que passou grande parte de um ano deitado no sofá a consumir Vicodin para as dores. Quase não conseguia trabalho e chegou a questionar-se sobre se deveria sequer continuar a ser ator.
“A dado ponto, tens de aceitar que ‘a indústria simplesmente não te quer’, percebes?”, disse anos mais tarde numa entrevista à revista “GQ”. Em 2004, acabou por conseguir o papel em “Os Fura-Casamentos”, que foi determinante para que a sua carreira descolasse nos anos seguintes.
Dois anos depois, o ator aceitou o desafio de fazer uma peça de teatro na Broadway. Em “Three Days of Rain”, contracenou com Julia Roberts e Paul Rudd. Cooper já se referiu à sua decisão de fazer o papel como um momento de “vida ou morte” para a sua carreira.
Ao longo dos anos, também lidou com os vícios das drogas e do álcool, embora não seja um assunto que o ator tenha abordado detalhadamente de forma pública. Contudo, em declarações à “The Hollywood Reporter”, falou sobre o momento em que teve de tomar uma decisão e mudar de vida.
“Apercebi-me de que não ia conseguir atingir o meu potencial, e isso assustou-me imenso. Pensei: uau, vou mesmo arruinar a minha vida.” Certa noite, numa festa particularmente selvagem, bateu com a cabeça duas vezes no chão de cimento — de propósito. Teve de passar a noite no hospital. Desde então, manteve-se sóbrio e determinado a ultrapassar a dependência.
Depois de um conjunto de papéis com menos sucesso — como na série “Kitchen Confidential” e nos filmes “The Midnight Meat Train” e “All About Steve” — Cooper decidiu começar a apostar em papéis mais ousados e em projetos melhores. Terá mesmo chegado a considerar fazer uma pausa na carreira, caso não conseguisse vingar.
A pausa acabou por acontecer, mas por outros motivos, em 2010. O pai de Bradley Cooper estava com cancro terminal e o ator suspendeu a carreira para passar com ele os seus últimos meses de vida. Viajou para Filadélfia, onde cresceu, e ficou por lá cerca de um ano. O pai morreu em 2011 e, passado algum tempo, Cooper voltou a trabalhar.
Com “A Ressaca”, “Sem Limites”, “Guia para um Final Feliz”, “Golpada Americana”, “Guardiões da Galáxia”, “Sniper Americano” ou “Joy”, Bradley Cooper foi consolidando o seu nome como um ator talentoso e de prestígio — mais versátil do que aparentava nos primeiros anos de carreira. Contudo, antes de a maioria destes filmes estrear, perdeu um papel importante que também o fez repensar se não se deveria retirar da profissão. Cooper nunca divulgou qual era o projeto.
Em 2018, numa entrevista à revista “W”, explicou que não havia muitos mais papéis que gostaria de fazer. “Sempre pensei que tinha seis personagens em mim, e já fiz algumas delas. Fui um soldado, um músico, um chef, uma pessoa desfigurada. Ainda quero interpretar um maestro. E, depois, quem sabe?”
O maestro está no horizonte próximo de Bradley Cooper. Vai realizar, escrever e protagonizar um filme biográfico sobre o maestro Leonard Bernstein, que está neste momento em fase de pré-produção — foi um projeto que Steven Spielberg lhe passou para as mãos, que é produtor em “Maestro”, ao lado de Martin Scorsese e Todd Phillips.
Depois de concretizar este desejo antigo, e tendo em conta o histórico de Bradley considerar por inúmeras vezes desistir da carreira de ator, quem sabe o que o espera. Certo é que Cooper parece estar cada vez mais envolvido no processo atrás das câmaras.
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