“Anatomie d’une Chute”, da realizadora francesa Justine Triet, conquistou este sábado, 27 de maio, a Palma de Ouro da 76.ª edição do festival de cinema de Cannes. Triet tornou-se, assim, a terceira mulher a vencer o prémio máximo do concurso.
Protagonizado pela atriz Sandra Hüller, “Anatomia de um Crime” (em português) conta a história de uma escritora que tenta provar a sua inocência pela morte do marido. Até ao veredicto da justiça, a audiência fica sem saber se a acusada o matou realmente ou se este se suicidou no chalé montanhoso em que a família vive com um filho de 11 anos.
O que mais impressiona na obra de Triet, dizem os críticos, é a atenção minuciosa a cada detalhe da investigação e o trabalho forense. A cineasta vai analisar, com uma precisão notável, os aspetos mais obscuros da vida de um casal que continuava a partilhar casa apesar das frustrações, dos problemas éticos e dos ciúmes e remorsos que estavam a destruí-los sem que eles se dessem conta.
Hüller pode afirmar que este foi mesmo um bom ano de carreira. Afinal, Cannes distinguiu outro filme em que participa. O Grande Prémio do festival foi para “The Zone of Interest”, de Jonathan Glazer. Trata-se de uma adaptação de um livro de Martin Amis sobre uma família alemã que vive ao lado de Auschwitz. A obra — apontada como a favorita pela generalidade da imprensa internacional — visita o horror do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau.
Quem vê “The Zone of Interest” acompanha o quotidiano familiar de Rudolf Höss, diretor de Auschwitz, que vive com a mulher Hedwig (interpretada por Sandra Hüller) e os cinco filhos louros-arianos numa casa ampla e ajardinada, mesmo ao lado do campo de extermínio.
O prémio do júri foi para “Fallen Leaves”, do realizador finlandês Aki Kaurismäki, uma história de amor impassível que nasce ao som de despachos da guerra na Ucrânia na rádio.
Os títulos foram decididos por um júri presidido pelo realizador sueco Ruben Östlund, duas vezes vencedor da Palma de Ouro e que ganhou o prémio, no ano passado, por “Triângulo da Tristeza”.
A cerimónia antecedeu o filme da noite de encerramento do festival, a animação da Pixar “Elemental”, de Peter Sohn.
Cannes 2023
Palma de Ouro
“Anatomie d’une chute”, de Justine Triet (França)
Grande Prémio
“The Zone of Interest”, de Jonathan Glazer (EUA/Reino Unido/Polónia)
Melhor Realização
Tran Anh Hung por “La passion de Dodin Bouffant” (França)
Melhor Argumento
Yûji Sakamoto por “Monster”, de Hirokazu Kore-eda (Japão)
Melhor Ator
Kôji Yakusho por “Perfect Days”, de Wim Wenders (Japão/Alemanha)
Melhor Atriz
Merve Dizdar por “About Dry Grasses”, de Nuri Bilge Ceylan (Turquia/França/Alemanha/Suécia)
Prémio do Júri
“Fallen Leaves”, de Aki Kaurismäki (Finlândia/Alemanha)
Caméra D’or (Melhor Primeira Obra)
“Inside the Yellow Cocoon Shell”, de Thien An Pham (Vietname/França/Singapura)
A 76.ª edição do icónico Festival de Cinema de Cannes arrancou terça-feira, 16 de maio. A cidade na Riviera Francesa voltou a estar sob as luzes da ribalta até 27 de maio. Por lá foram exibidos os grandes filmes do ano — e o cinema português foi novamente premiado.
O filme “A Flor do Buriti”, do realizador português João Salaviza, em parceria com a cineasta brasileira Renée Nader Messora, saiu de Cannes com um Prix D’Ensemble (Prémio de Elenco), atribuído esta sexta-feira, 26 de maio.
O realizador português de 39 anos já foi por duas vezes distinguido na Riviera francesa. Em 2009, a curta metragem “Arena” venceu o principal prémio da categoria, a Palma de Ouro. “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos” também foi galardoado, em 2018, com o Prémio do Júri da secção Un Certain Regard.
“A Flor do Buriti” retrata o último século de história dos Krahô, um povo indígena brasileiro. Filmado ao longo de mais de quinze meses, com um elenco e equipa técnica que mistura indígenas e não-indígenas, o filme é a segunda colaboração entre Salaviza e Nader Messora. Em 2018, já tinham levado a Cannes “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”, focado na mesma tribo.
A estreia do filme no festival ficou marcada por um protesto, no qual os realizadores, rodeado pelo elenco vestido com trajes tradicionais, ergueram uma tarja na passadeira vermelha onde se podia ler: “Não ao Marco Temporal: The Future of Indigenous Lands in Brazil is Under Threat” (em português, “o futuro das terras indígenas no Brasil está sob ameaça”).
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