Existem dois tipos de pessoas: as que evitam filmes de terror com medo de ter pesadelos e as que nunca se cansam do género. No catálogo da Netflix esconde-se um filme que estreou em 2017, que nem os mais corajosos conseguem ver até ao fim. Chama-se “Verónica” e inspira-se numa história real que aconteceu em Madrid nos anos 90. “Extremamente assustador” e “arrepiante” são algumas das descrições feitas por quem já o viu.
Verónica, interpretada por Sandra Escacena, usa um tabuleiro Ouija para tentar contactar um familiar que morreu. A partir desse momento começa a sentir a presença de forças malignas em casa e nunca mais tem paz, sobretudo enquanto cuida dos irmãos mais novos. A obra mistura elementos clássicos do terror com o drama pessoal da protagonista, uma jovem de classe média-baixa.
Paco Plaza, o realizador, contou à “RTVE” que queria ir além dos sustos e criar um filme que fizesse o espetador refletir. Procurava também abordar temas como a solidão e as dificuldades da adolescência.
Sandra Escacena, que fez a sua estreia no cinema com “Verónica”, acredita que o lado mais humano das personagens é o ponto alto do filme. Para se preparar, recordou os dias em que cuidava dos irmãos enquanto a mãe, solteira, trabalhava para os sustentar. “A Verónica é uma miúda solitária que, na adolescência, é obrigada a comportar-se como uma mulher”, contou à mesma publicação.
Ana Torrent interpreta a mãe ausente e considera que o distanciamento familiar é precisamente o foco da história. “A ausência do pai e a distância emocional entre mãe e filha é o que realmente impulsiona a narrativa”, disse ao “Los Interrogantes”.
Além dos sustos tradicionais, o que torna o filme da Netflix assustador é o facto de Paco Plaza ter usado imagens de um caso real que chocou Madrid em 1991, o caso Vallecas, de uma jovem chamada Estefanía Gutiérrez Lázaro que dizia ter sido possuída e que acabou por morrer em circunstâncias estranhas.
Na escola, Estefanía usou um tabuleiro Ouija com amigas para tentar contactar o espírito de um namorado falecido. A sessão foi interrompida por uma professora, que partiu o tabuleiro. Dizem testemunhas que o objeto libertou fumo que a jovem inalou e que, pouco tempo depois, começou a apresentar sintomas estranhos, como convulsões, alucinações e comportamentos perturbadores. Relatava ouvir vozes e ver sombras e figuras misteriosas ao seu redor.
Nos meses seguintes, a saúde da jovem de 18 anos deteriorou-se: teve ataques de raiva, perda de consciência e visões assustadoras da presença de seres que a atormentavam. Nenhum médico conseguiu diagnosticar qualquer doença. Em agosto de 1991, Estefanía morreu subitamente em casa. A causa oficial da morte foi “asfixia pulmonar súbita”, sem mais explicações concretas.
Após a sua morte, a família Gutiérrez começou a relatar fenómenos paranormais em casa. Portas que batiam sozinhas, eletrodomésticos ligavam-se e desligavam-se sem motivo e os pais garantiam ver figuras sombrias. Um dos episódios mais marcantes foi uma fotografia de Estefanía que se teria incendiado sozinha, sem danificar a moldura.
Em novembro de 1992, a família, desesperada, chamou a polícia. Quando os agentes chegaram, também relataram ter testemunhado atividades incomuns, como ruídos estranhos e móveis que se moviam sozinhos. O relatório policial que documentou esses eventos é um dos poucos registos oficiais de fenómenos supostamente paranormais, o que aumentou a notoriedade do caso.
A família acabou por se mudar e os novos moradores nunca relataram qualquer atividade paranormal, o que sugere que os acontecimentos estavam possivelmente ligados ao trauma emocional que a família vivia. Os irmãos de Estefanía, Ricardo e Maxi Gutiérrez, disseram ao “El Mundo”, em 2018, que muitos dos fenómenos poderiam ter explicações racionais e que o estado emocional da mãe influenciou a percepção de que estavam a ser assombrados.
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