Cinema

“Código de Violência”: um dos últimos filmes de Bruce Willis estreia agora em Portugal

É mais uma história genérica de ação, entre tantas que o ator — que se reformou por problemas mentais — fez nos últimos anos.
Bruce Willis é um dos protagonistas do filme.

Um antigo fuzileiro norte-americano tem de se debater com a sua consciência e código de honra quando é obrigado a fazer coisas para a máfia. É esta a premissa de “Código de Violência”, que estreia nos cinemas portugueses esta quinta-feira, 30 de março. Trata-se do novo filme de Bruce Willis, que, embora esteja reformado há um ano, continua a ter várias histórias inéditas a aparecerem nas salas um pouco por todo o mundo.

Em março de 2022, a família do icónico ator norte-americano revelou que Willis tinha sido diagnosticado com afasia, um distúrbio da comunicação, que interfere com o processamento da linguagem, prejudicando a capacidade de falar e compreender. Mais recentemente, foi diagnosticado com demência — e no seu aniversário, um vídeo com a ex-mulher Demi Moore, que se mudou para sua casa para cuidar de si, tornou-se viral.

Este não é, ainda, o último filme de Bruce Willis. “Assassin”, que estreia nos EUA esta sexta-feira, 31 de março, será a derradeira produção com o ator que hoje tem 68 anos. Mas há vários outras que ainda não estrearam em Portugal — embora não esteja confirmado de que alguma vez venham a estrear.

Na lista estão títulos como “A Day To Die”, “Corrective Measures”, “Vendetta”, “Wire Room”, “Detective Knight: Rogue”, “Detective Knight: Redemption”, “Detective Knight: Independence” ou “Paradise City”. Todos foram arrasados pela crítica, têm baixas classificações do lado dos espectadores em plataformas como o IMDb e o Rotten Tomatoes, são de baixo orçamento, e representam os últimos anos de carreira de Bruce Willis. Nos últimos quatro anos de percurso profissional, o ator fez mais de 25 filmes.

Em tempos foi a estrela de “Die Hard” e entrou em filmes aclamados (e populares) como “Pulp Fiction”, “O 5º Elemento” ou “O Sexto Sentido”. Nos últimos anos dedicou-se a estes filmes genéricos de ação — onde o seu rosto e nome são usados para vender as produções no mercado internacional e para os videoclubes digitais. É o equivalente, nesta era do streaming, aos filmes de ação genéricos que nunca chegavam aos cinemas e que eram diretamente lançados em cassete VHS nos anos 80 e 90.

Nos últimos anos, muitos fãs e jornalistas especializados questionaram-se publicamente: o que aconteceu à carreira de Bruce Willis? “Porque é que Bruce Willis continua a fazer filmes que claramente odeia?”, perguntou a “Esquire”. “O que aconteceu a Bruce Willis?”, questionou o site especializado “Collider” e também a “Euronews”.

“A sério, o que aconteceu à carreira de Bruce Willis e como é que o fazemos parar?”, pode ler-se no “Entertainment.ie”. “Estará o Bruce Willis a arruinar o seu legado ao protagonizar filmes maus que vão diretos para DVD?”, disse o “TV Over Mind”.

As respostas tornaram-se mais complicadas desde que se soube que o ator tem vindo a sofrer de problemas cognitivos. De acordo com múltiplas fontes que falaram com a imprensa americana ao longo do último ano, esses problemas impactavam o trabalho de Willis há vários anos, algo que era notório.

Numa reportagem do “Los Angeles Times” de 2022, que falou com cerca de 20 pessoas que trabalharam com o ator nestes últimos anos, o jornal diz que muitas delas questionaram-se sobre se o ator saberia realmente o que estava a fazer. Bruce Willis não conseguia, muitas vezes, memorizar os diálogos — tinha de usar um auricular através do qual um outro ator lhe ia dizendo as falas para ele repetir. 

Muitos guiões tiveram de ser encurtados devido ao mesmo motivo. E a grande maioria das cenas de ação não eram feitas pelo próprio Bruce Willis, mas por um duplo. “Eu sei porque estás aqui, e sei porque é que tu estás aqui, mas porque é que eu estou aqui?”, questionou o ator num episódio em que pareceu perder a consciência do que estava a acontecer. 

Noutro momento, num alegado incidente no set de “Projeto 725”, disparou uma arma fora de tempo. Ninguém ficou ferido, mas várias fontes dizem que os colegas ficaram abalados por perceberem que Willis não estava em condições para trabalhar.

Em “Sem Hora Marcada”, foi dito ao realizador Mike Burns que teria de comprimir 25 páginas de diálogo de Bruce Willis para um único dia de filmagens. “Depois do primeiro dia a trabalhar com o Bruce, consegui ver por mim próprio que havia um problema maior e descobri porque tive de encurtar as suas falas”, contou ao “Los Angeles Times”. Burns acabou por se sentir mal por estar a trabalhar com Willis naquelas condições.

Algum tempo depois, foi-lhe dada a oportunidade de trabalhar novamente com o ator no filme “The Wrong Place”. Burns afirma que ligou a um dos representantes de Willis para perceber como estava ele naquele momento. Ter-lhe-á sido dito que Willis era “uma pessoa completamente diferente”, que estava “muito melhor” do que no ano passado. 

Burns confiou na palavra do representante, mas isso não se verificou no set de gravações. “Não achei que ele estava melhor, achei que estava pior. Depois de acabarmos, disse: Acabou, não vou fazer mais filmes com o Bruce Willis.”

Segundo várias fontes, a vasta equipa de representantes de Bruce Willis fazia esforços para o proteger. Asseguravam que o ator só gravava durante dois dias para cada filme — e oito horas por dia. Contudo, muitas vezes só ficava quatro. Eram participações extremamente lucrativas.

O principal assistente que acompanhava Willis nas filmagens era Stephen J. Eads, que era sempre creditado como produtor executivo (incluindo no novo “Gasoline Alley: Investigação Explosiva”), o que lhe valia pagamentos de 200 mil dólares por filme. O ator que lhe dizia as falas ao ouvido, além de fazer um papel à frente das câmaras, recebia 4150 dólares por semana.

Bruce Willis também lucrava bastante com poucos dias de trabalho — os seus pagamentos rondavam os dois milhões de dólares (o equivalente a 1,83 milhões de euros) por filme. Apesar de estar afetado cognitivamente, o ator continuou a gerar muito dinheiro, tanto para ele como para todos os envolvidos em cada produção. A sua cara icónica num poster fazia toda a diferença — mesmo que muitas vezes não tivesse uma participação assim tão grande na história.

Em retrospetiva, muitos dos que questionavam o que acontecera à carreira de Bruce Willis passaram a questionar-se sobre se não foi passada uma linha moral em que produtoras de cinema — com a cooperação de alguns representantes do ator — estavam ou não a usá-lo para gerar fortunas, tendo em conta que Bruce Willis muitas vezes talvez não tivesse a noção do que estava a fazer. Os Razzies, os prémios satíricos que distinguem o pior que se faz no cinema, decidiram retirar em 2022 todos os galardões atribuídos a Bruce Willis nos últimos anos. No novo filme, o ator contracena com nomes como John Malkovich, Michael Rooker e Olga Kurylenko.

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