“Tenho um filho com autismo e acredito que é crítico que tudo o que causa este diagnóstico seja falado e examinado abertamente”, escreveu Robert De Niro num comunicado em 2016 após ter promovido um filme que pretendia estabelecer uma ligação entre a vacinação e o autismo.
Depois de ter sido criticado por vários fãs e cientistas, o ator de 81 anos foi obrigado a falar sobre o diagnóstico do filho que, até então, poucos conheciam. Agora, a condição de Elliott, nascido em 1998, é um capítulo aberto na história de vida de Robert.
Na verdade, foi o jovem que inspirou o pai a participar em “Uma Viagem Ao Teu Lado”, que depois de ter sido apresentado no Tribeca Film Festival de Lisboa, em outubro, chegou finalmente às salas de cinema nacionais esta quinta-feira, 12 de dezembro.
A produção acompanha a história de Max Bernal, um humorista de stand-up que vive com o pai enquanto tenta coeducar, com a ex-mulher, o seu filho autista. Quando são forçados a enfrentar decisões difíceis sobre o futuro, Max e Ezra embarcam numa viagem de carro pelo país e é essa viagem a catalisadora de um impacto transformador nas suas vidas.
Este é um dos filmes mais pessoais da longa carreira de Robert De Niro, precisamente por ter no seu centro um miúdo com autismo — e foi isso que o motivou a ficar com o papel no filme. “Percebo como é ter um filho na situação do Ezra”, disse durante a apresentação do filme no Tribeca dos Estados Unidos em maio de 2024. “Gostei do sentimento da história, das pessoas envolvidas. Tinha o coração que era preciso.”
A narrativa foca-se na complexa relação entre três gerações e De Niro consegue destacar a cena que mais o marcou. “Há uma conversa que todos os pais têm de ter com os filhos que têm autismo. É um momento muito difícil”, começa por explicar. “Penso que conseguimos realmente mostrar o quão difícil essa conversa é e o quão árduo é criarmos filhos e o quanto nos esforçamos para fazer a coisa certa, mas nem sempre fazemos o que é mais correto. O meu personagem é imperfeito e achei que seria interessante retratar esta complexidade humana.”
Durante a conversa com o público de Nova Iorque, o ator vencedor de dois Óscares também revelou que, após ter recebido o guião, leu-o em apenas dois dias e soube imediatamente que havia aspetos importantes que tinham mesmo de ser abordados. “Era crucial que eu participasse nesta história. Acima de tudo, o objetivo é que os pais de filhos com autismo sintam que todos têm algo em comum, porque são experiências partilhadas. É fantástico vê-las representadas no ecrã de uma forma tão autêntica.”
No entanto, De Niro pediu que fossem feitas algumas mudanças, algo que foi revelado no mesmo evento por Tony Spiridakis, o guionista. “Ele disse que estava interessado, mas que tínhamos muito trabalho para fazer no argumento”, comentou, sem adiantar quais foram as mudanças pedidas.
Atualmente, Robert fala abertamente sobre o diagnóstico do filho, mas antes mantinha-o em segredo. No entanto, já tinha dado pistas de que o miúdo tinha alguma condição. No Tribeca de 2014, apresentou o filme “Sounding the Alarm”, que aborda este mesmo tópico.
Um ano antes, em 2013, também começou a chorar durante uma entrevista em que falava de “Guia para um Final Feliz” e explicou que se conseguia identificar com a história do realizador David O. Russell, que escreveu o filme para o filho que tem bipolaridade. “Não gosto de me emocionar, mas sei exatamente o que ele passa.”
A polémica com as vacinas
Na edição de 2016 do Tribeca Film Festival, Robert De Niro decidiu incluir a transmissão do documentário “Vaxxed”, realizado pelo ex-cientista Andrew Wakefield, cujas várias teorias acabaram por ser desacreditadas ao longo da carreira. O filme de propaganda pseudocientífica alega que há um encobrimento por parte do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças de uma suposta ligação entre a vacina MMR e o autismo.
Depois das críticas do público, o ator decidiu tirar o título do cartaz, mas não sem dar uma polémica entrevista no programa de televisão “Today”. “Como pai de um miúdo com autismo, preocupo-me e quero saber a verdade”, começou por dizer.
“Acho que é um filme que as pessoas deveriam ver”, comentou com a apresentadora Savannah Guthrie depois de recomendar outro documentário anti-vacinas chamado “Trace Amounts”. “Há muita informação que o CDC e as empresas farmacêuticas escondem.”
Quando lhe perguntaram se acreditava que o seu filho tinha “desenvolvido autismo do dia para a noite”, o ator disse apenas que a sua mulher acredita que sim, “mas não me lembro”. “Existe uma ligação e eles estão a dizer que não há”, reforçou.
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