Entre as várias narrativas que pautam o filme de 2003, há uma em particular que faz Richard Curtis, realizador e argumentista, olhar para trás com algum desdém. No filme, Juliet (Keira Knightley) e Peter (Chiwetel Ejiofor) são um casal feliz. Ao seu lado está quase sempre Mark (Andrew Lincoln), amigo próximo de Peter mas que, por algum motivo, parece não simpatizar com Juliet.
Tudo se torna ainda mais bizarro quando Juliet se apodera de uma das cassetes da festa, gravada por Mark, e percebe que a objetiva só a filmou a si — e ignorou tudo o resto que acontecia no casamento. “Mas tu nem falas comigo”, questiona. “É uma questão de auto-preservação”, conclui Mark, antes de fugir.
É este o cenário que dá origem à última cena da história, onde Mark surge de surpresa à porta de casa do casal, com uma mensagem escrita em cartazes, que vai revelando aos poucos. Juliet, intrigada, mantém o marido na ignorância. O final é selado com um beijo, mas com Juliet a regressar à sua vida — e Mark a afastar-se, aparentemente resignado.
Numa nova entrevista sobre o seu filme “Genie”, dada ao “The Independent” esta quarta-feira, 29 de novembro, Curtis revisitou a cena e considera que, vinte anos depois, ela não envelheceu lá muito bem. “Ele aparecer à porta de casa dela para lhe dizer que a ama é um bocado estranho. Lembro-me de, há cerca de sete anos, ter sido apanhado de surpresa numa entrevista quando me disseram, ‘Estamos interessados na cena do stalker, do perseguidor’, e eu perguntei, ‘Qual cena ?’ E então fui, digamos, colocado a par da situação.”
“Tudo o que posso dizer é que estiveram envolvidas muitas pessoas inteligentes na escrita e gravação da cena e não achámos que fosse stalking ou assédio. Mas se agora é vista assim, que Deus abençoe o mundo progressista.”
Curtis chegou também a abordar a falta de diversidade do elenco. “Faz-me sentir desconfortável e um pouco estúpido”, revelou, antes de citar outro problema.: “E acho que há três enredos que envolvem chefes e seus empregados.”
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