Quando Spike Lee começou a trabalhar em “Da 5 Bloods: Irmãos de Armas”, filme que estreia esta sexta-feira, 12 de junho, na Netflix, nenhum dos grandes estúdios de Hollywood queria ficar com o projeto. Spike Lee teve de recorrer à plataforma de streaming para financiar aquele que estava a ser considerado um projeto relativamente arriscado — tal como Martin Scorsese, Alfonso Cuáron ou David Fincher já tinham feito em circunstâncias semelhantes.
A revelação é de Spike Lee, numa entrevista publicada na revista “The Hollywood Reporter”. “Quase não tivemos este filme feito. Fomos a todos os estúdios, e todos eles recusaram-no.”
Apesar de ser um realizador conceituado com 40 anos de carreira e de o seu último filme, “BlacKkKlansman: O Infiltrado”, ter sido nomeado para seis Óscares, a nova produção não teve a receção esperada. Ainda assim, Lee simplesmente agradeceu e levou o guião para a reunião seguinte. Preferiu nem sequer discutir com os executivos, como explica à publicação americana.
Esta é a história de quatro afro-americanos veteranos da Guerra do Vietname, que se reúnem pela primeira vez desde que voltaram aos EUA, e que partem numa viagem de regresso à selva do país asiático para tentarem encontrar os restos mortais do seu comandante — o quinto “blood” do título do filme — que morreu à frente deles.
A narrativa é sobre a forma como este grupo de homens de meia-idade consegue os traumas do passado, a herança pesada do conflito, a falta de reconhecimento para os soldados negros e o regresso a uma América dividida. Tal como a generalidade das obras de Spike Lee, o argumento tem mensagens importantes para o momento em que vivemos, em que a luta anti-racista reacendeu nos EUA e se alastrou a outros países ocidentais.
Contudo, “Da 5 Bloods” é mais do que isso. Os protagonistas também têm o objetivo de descobrir um antigo tesouro enterrado que estará perdido pela selva vietnamita — e que era um pagamento dos americanos aos exércitos do Vietname do sul, quando o país estava dividido em dois.
Spike Lee pretende desta forma homenagear os grandes filmes de guerra que o influenciaram enquanto cineasta. Há referências a “Apocalypse Now” — como um bar com exatamente o mesmo título — ou ao clássico “O Tesouro da Sierra Madre”, que o realizador já classificou como o seu filme favorito.
“Da 5 Bloods” promete ser um épico de guerra e uma comédia de amigos de meia idade; uma aventura em busca de um tesouro e um drama sobre justiça social e o estatuto dos negros nos EUA. Existe sátira, dor emocional e, sobretudo, uma reflexão sobre os sacrifícios cometidos em batalha.
Curiosamente, o guião inicial era para um filme com protagonistas caucasianos chamado “The Last Tour”. Os traços gerais da história — de um grupo à procura de um tesouro e do seu antigo líder — mantiveram-se mas foram adicionados alguns ingredientes extra. “Pusemos o nosso sabor, algum molho barbecue, algum funk, algum Marvin Gaye”, comentou Spike Lee.
As personagens principais são interpretadas por Delroy Lindo, Clarke Peters, Norm Lewis e Isiah Whitlock Jr. — que também desempenharam as suas versões jovens nos flashbacks da narrativa, naquela que está a ser apontada como a escolha mais arrojada de Spike Lee para este filme, até porque não foram alterados fisicamente. Agora são pessoas diferentes, mais maduras, com visões diferentes sobre a vida.
O seu antigo comandante é interpretado por Chadwick Boseman.O elenco inclui ainda Jonathan Majors, Paul Walter Hauser, Jean Reno, Jasper Pääkkönen, Van Veronica Ngo, Mélanie Thierry e Johnny Nguyen, entre outros.
As gravações aconteceram no Vietname e na Tailândia na primavera de 2019, com temperaturas demasiado altas. Spike Lee contou à “The Hollywood Reporter” que batatas fritas e Gatorade foram os elementos essenciais para que a equipa se mantivesse com energia durante o projeto.
O filme tem recebido críticas bastante positivas. Por exemplo, no site Rotten Tomatoes, que aglomera as classificações da imprensa especializada, “Da 5 Bloods” tem 90 por cento de textos favoráveis (de um total de 93 críticas).