Se precisássemos de um exemplo para confirmar o ditado “Quando mais alto se sobe, maior é a queda”, poderíamos apontar Ezra Miller. No auge da fama, o ator que protagonizou a série de sucesso “The Flash”. Era considerado uma das grandes promessas de Hollywood, mas a vida fora do grande ecrã ficou marcada por grandes polémicas. Nos últimos anos, foi acusado de agressões, roubos, de gerir um culto e de assédio a menores (leia o artigo da NiT sobre o caso). Agora, está a tentar regressar à indústria.
Ezra Miller, de 32 anos, que se descreve como não-binário, marcou presença este sábado, 21 de junho, no Filming Italy, um festival de cinema na Sardenha. Esta presença surge um mês depois de ter passado pela passadeira vermelha no Festival de Cannes — a primeira em três anos e que, naturalmente, suscitou curiosidade dos meios de comunicação.
As fotografias, que o mostram de vestido e com um gancho em formato de melancia no cabelo comprido, deram que falar. Agora, todas as atenções estão viradas para uma entrevista do ator, partilhada esta quinta-feira, 19 de junho, no canal de YouTube do projeto “Lo Speciale” e que está a ser descrita pelos media internacionais como “completamente bizarra.”
“Quando passamos por estes desafios, se conseguimos sobreviver, o que ainda não aconteceu totalmente comigo, criamos a capacidade de ver outras pessoas a superar os problemas delas e só as acompanharmos”, começa por dizer. “Acho que isso também é cada vez mais raro na nossa sociedade. Ficamos muito consumidos pelas noções de perceção própria e como somos percebidos no mundo. Realmente acredito que vou superar isto e conseguir ser amigável com as pessoas. As que fizeram isso por mim, têm a minha devoção para sempre.”
“Quando se trabalha nesta indústria, criam-se relações profundas com várias pessoas que não se importam connosco e com o nosso bem-estar. Portanto, não é que eu não guarde remorsos e lamente por muitas coisas que fiz e que aconteceram naquela época, mas estou muito grato pelas lições que vieram com aquele abismo”, referiu o ator.
Miller confessou também que foi ao Festival de Cannes a pedido de Lynne Ramsay, a realizadora de “Die My Love”, que fez parte da competição deste ano. “Se há coisa em que ainda acredito é a devoção às pessoas que amo acima de tudo”, disse. “Não queria ir a Cannes, foi muito difícil. Se estás a viver na floresta há três anos, não recomendo ir diretamente àquele festival, onde estão todos os fotógrafos, todas as pessoas esquisitas e ricos genocidas, percebe?”, disse, entre risos.
O ator norte-americano contou que está a escrever um filme com Ramsey, destacando que “essa será provavelmente a primeira coisa que farei” quando voltar a Hollywood. Garante, aliás, que a escrita tem ocupado a maior parte do seu tempo. “Tenho escrito bastante porque isso é algo que dá pra fazer na solidão, que tem sido boa para mim”, refere.
As polémicas que ainda o perseguem
A 1 de abril de 2020, em plena pandemia, surgiu um vídeo de Miller a sufocar e atirar uma mulher ao chão num bar de Reiquiavique, na Islândia. Uma fonte do estabelecimento confirmou à “Variety” que a polícia foi chamada ao local, mas não foram apresentadas queixas.
Nesse mesmo mês, uma reportagem da “Business Insider” deu conta de que Miller estava a viver num hotel, no norte da Islândia, enquanto as gravações de “Monstros Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” estavam interrompidas. Suspeitou-se que a estrela estivesse a viver com mais pessoas numa espécie de culto. Uma mulher de 18 anos, com quem se envolveu sexualmente, afirmou que Miller “é super manipulativo”. Mas nunca foram revelados mais pormenores sobre este período bizarro.
Já em março de 2022, foi noticiado que Miller foi detido e acusado de assédio e conduta desordeira num bar no Havai. De acordo com a polícia, o ator “ficou agitado” enquanto outros clientes estavam a cantar no karaoke. Miller “começou a gritar obscenidades, e a dada altura agarrou no microfone de uma mulher de 23 anos que estava a cantar, e depois atirou-se a um homem de 32 anos que estava a jogar dardos.” Não ficou em prisão preventiva porque um casal com quem vivia num hostel pagou a fiança.
Dias depois, esse mesmo casal pediu uma ordem judicial de afastamento porque Miller terá ameaçado os dois de morte na noite das agressões. “Vou enterrar-te a ti e à vaca da tua mulher”, terá dito. Os documentos do tribunal também falam no roubo de uma carteira e um passaporte. O caso caiu em abril, possivelmente por acordo entre ambas as partes.
Ainda no Havai, e nessa mesma altura, o ator esteve envolvido em novas polémicas, depois de ter atacado uma mulher de 26 anos ao atirar-lhe uma cadeira à cabeça numa festa privada. A polícia interceptou Miller numa estrada de madrugada, mas o ator saiu da esquadra na própria noite.
Em junho do mesmo ano, os pais da ativista nativo-americana Tokata Iron Eyes afirmam que Miller a aliciou e abusou dela quando tinha apenas 12 anos, recorrendo a manipulação e drogas como cannabis e LSD. A alegada vítima, já com 18 anos, estava a viver com a celebridade e negou todas as acusações.
Os pais, temendo que Iron Eyes estivesse a perder a capacidade de viver uma vida independente, foram buscá-la e pediram uma ordem de proteção. No entanto, ela fugiu para junto do ator e as autoridades não conseguiam servir os papéis judiciais a Miller porque ambos encontravam-se em parte incerta.
No mesmo mês, o “The Daily Beast” publicou uma reportagem a detalhar outro caso violência e assédio de um menor em Massachusetts. Terá ocorrido quando Miller foi a casa de vizinhos e comportou-se de forma inapropriada com uma criança de 11 anos, tendo-a convidado para ir morar consigo para uma quinta. A situação descambou quando, numa discussão sobre apropriação cultural, abriu o seu casaco para mostrar que tinha uma arma de fogo. Acabou por ir à mesma residência pedir desculpa, vestido de cowboy, mas foi emitida uma ordem de proteção para a vítima.
Uma investigação da “Rolling Stone” também datada de junho revela que Miller estava a viver com uma mulher de 25 anos e os seus três filhos em Vermont em condições que assustaram o pai das crianças. Segundo os documentos do tribunal, a casa onde habitavam desde abril não era segura para os mais pequenos, sendo encontradas “armas de fogo, munições e marijuana”. Viram também um dos miúdos, com apenas um ano de idade, a brincar com uma bala e a colocá-la na boca. A mãe diz que o ator apenas estava a ajudá-la a fugir de uma situação abusiva, mas o estado norte-americano foi chamado a intervir dado o risco para as crianças.
Por fim, Miller foi acusado de invadir uma casa desocupada no Vermont e roubar várias bebidas brancas, depois de serem analisadas gravações de videovigilância.
Ainda em 2022, o ator chegou a partilhar um pedido de desculpa através da revista “Variety.” “Tendo passado recentemente por um período de crise intensa, compreendo agora que estou a sofrer de problemas complexos de saúde mental e iniciei um tratamento contínuo. Quero pedir desculpa a todos os que deixei alarmados com o meu comportamento passado. Estou empenhado em fazer o trabalho necessário para regressar a uma fase saudável, segura e produtiva da minha vida.”