Cinema

Diogo Rola, o realizador apaixonado pelos Açores que acumula distinções e prémios

O cineasta que já conta com vários filmes no currículo é o convidado desta semana da Embaixada dos Açores.
O seu trabalho é reconhecido em Portugal e lá fora.

Declaração de interesses: o protagonista de hoje é um dos meus melhores amigos. 15 anos mais novo, da geração anterior, da mesma ilha, de uma cepa extraordinária: magnífico profissional e extraordinário carácter. Aliás, ficámos amigos da melhor maneira possível: a trabalhar.

Desafiei-o para o seu primeiro grande trabalho como realizador, a série “Mal-Amanhados — Os Novos Corsários das Ilhas” — e, daí para cá, não há produção da Advogado do Diabo que não lha confie: “Quanto + Me Bates” e “Parte de Mim” (ambos com António Raminhos); “Work in Progress” e “Caixa Negra — Arca de Memórias Açorianas”; tudo empreitadas com o selo de qualidade do Diogo Matos Rola.

Tão humilde e perfecionista que insiste em assinar Diogo Rola, pese embora os meus variados alertas para a utilização do Matos. Estou absolutamente seguro de que, no dia que começar a assinar com três nomes (dois deles apelidos, ainda por cima), os apoios do ICA vão começar a cair sem que precise sequer de se candidatar. 

O Diogo vive nos Açores e sustenta-se como realizador, o que diz volumes sobre a sua qualidade. Editor, fotógrafo, criativo, é também o homem atrás das lentes na bela série “Lugares da Escrita”, da RTP Açores.

A sua primeira curta-metragem de ficção, “Santa Rita Dream”, tem feito um percurso bonito nos certames da especialidade, e a curta documental “Cordas” amealhou qualquer coisa como 42 distinções nacionais e, sobretudo, internacionais. Está a escrever a sua próxima curta e em trabalho árduo comigo na pré-produção de duas novas aventuras. Hoje pára tudo um bocadinho para responder aos quesitos da Embaixada.

Um produtor de Hollywood está louco para fazer um filme sobre a tua vida, mas falta convencer o estúdio, que só avança se for o Spielberg a realizar… ora sucede que dás por ti num elevador com o sôr Steven. Como venderias o teu peixe? 
Esse é um cenário que não prevejo no meu futuro. Tenho os pés assentes na terra, sei que a probabilidade de “um rapazim” como eu ter algo de tão fascinante na sua vida para ter interesse para ser feito um filme pelos maiores do mundo é bastante escassa. Contudo, poderia fazer um empenhado “pitch” de diversas ideias de filmes que tenho ou possa ter, mas sobre mim? Se ele até ao momento de entrar naquele elevador não achou a minha história apelativa, então a única coisa que lhe posso dizer é: “Vamos tomar um café e falar de coisas que nos interessem”. 

O dia profissionalmente mais feliz da tua vida foi quando e porquê? 
Já tive vários dias felizes e gratificantes, neste ano que passou alguns dos dias em que tive feedback sobre projetos de ficção que realizei e participei foram felizes. Mas a verdade é que gosto de pensar que esse dia ainda não chegou. Gosto de acreditar que coisas maiores estão para vir, mesmo que esteja enganado. Dizem que o ser humano necessita acreditar em algo. Eu acredito que um dia pode acontecer. Provavelmente não vai acontecer, mas, no fundo, acredito sempre. Acho que é o que ainda me mantém nesta luta. 

O que poderia Portugal Continental aprender com os Açores? 
Acho que Portugal Continental é muito grande e ambos temos coisas a aprender uns com os outros. Poderia dizer que simpatia é uma coisa que temos para oferecer mais do que nas cidades grandes continentais, mas há “tanto Portugal simpático”. Talvez faça falta a muitos “pisar nas ilhas” para perceberem um pouco melhor como isto é por cá, como falta a muitos de nós também passarmos por lá para fazer o mesmo. 

De que forma o carácter atlântico, a açorianidade, o ser-se ilhéu influencia o teu processo criativo? 
Grande parte do meu trabalho passa por filmar e na maior parte dos projetos, nos Açores. É necessário aceitar que não controlamos nada. Que as ilhas têm uma energia e vida que lhes pertence e que só elas controlam. Por outras palavras, filmar na rua é ter poucas certezas sobre como o dia irá amanhecer e como irá terminar. Parecendo que não, isso dá-nos uma certa garra e força de improviso. Além disso, há uma relação com o mar, sol, chuva, nevoeiro que parece que nos entra nos ossos. E às vezes o segredo para criar algo melhor passa por um passeio na ilha ou um pôr do sol bonito. 

O maior disparate que já ouviste sobre as ilhas é? 
O arquipélago dos Açores tem três ilhas: São Miguel, Madeira e Porto Santo.

Que crime cometerias se não houvesse castigo? 
Talvez fazer uma rasteira a um presidente ou outro, ou dar um pontapé nas canelas a um ministro, ou outro. 

Como reage a tua família à tua profissão? 
Neste momento já há uma aceitação, apesar de a minha mãe ainda dizer que me ajuda se eu quiser estudar outra coisa para não ter de trabalhar tanto, e de a minha noiva mostrar preocupação (válida) com o meu futuro profissional. 

Aquele sonho por realizar é? 
Talvez seja fazer uma longa-metragem de ficção, mas algo com qualidade, único, bom e feito com condições humanas, financeiras e técnicas aceitáveis. 

Qual é o sentido da vida? 
Propósito. A vida só faz sentido se tivermos um, ou vários. Uma pessoa para amar; uma família para criar; um emprego (de preferência do qual gostes um pouco) para te sustentar e tempo para hobbies e tudo o resto, amigos, férias, etc. 

Um restaurante?
Temos vários restaurantes bons em quase todas as ilhas. Na Terceira, vou dizer dois que não são tão habituais ouvir em recomendações, mas que também merecem bastante: Élios e Ginsu.

Vista? 
Caldeirão do Corvo. 

Banhos/zona balnear? 
Poça Branca, Ilha do Pico; Porto Martins, Ilha Terceira. 

Ritual/tradição? 
As Festas Sanjoaninas, em Angra do Heroísmo. 

Artista referência ou que admires (nas ilhas, vivo ou morto)? 
Pelo trabalho de qualidade e pessoa que é, o Cristóvam. 

Obrigatório de visitar? 
Temos muitos locais que valem uma visita, mas vou sugerir o parque Terra Nostra, em São Miguel. 

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