Chama-se “À Solta na Internet” e é um documentário checo que estreia nos cinemas portugueses esta quinta-feira, 28 de outubro. O filme centra-se nos predadores sexuais que tentam atrair pré-adolescentes online, pedindo-lhes fotos explícitas através de conversas inapropriadas.
“Queremos que interpretem raparigas de 12 anos.” Foi esta a bizarra indicação que os realizadores Vít Klusák e Barbora Chalupová deram às jovens atrizes de 18 ou 19 anos que participaram no casting para o projeto. As três escolhidas teriam que interpretar pré-adolescentes e participar em conversas online com possíveis pedófilos.
Quando os realizadores começaram a explorar a ideia de fazer um documentário centrado neste tema, não tinham noção da dimensão do problema. O projeto foi feito em parceria com a unidade de cibercriminalidade da polícia checa, que lhes forneceu números assustadores.
Todos os anos há nove mil crimes sexuais cometidos online na República Checa — e a tendência é para o número aumentar. Além disso, no país, um em cada seis menores já enviou fotografias íntimas através da internet.
A ideia para produzir este documentário surgiu, como explicou Vít Klusák à revista “Variety”, depois de o cineasta ter sido abordado pela operadora de telecomunicações O2. Os executivos da empresa queriam que Klusák criasse um vídeo viral que mostrasse como era fácil explorar raparigas jovens online. A O2 é constantemente abordada pelas autoridades que solicitam as moradas de alguns dos seus clientes, suspeitos de tentarem cometer atos sexuais com menores através da net.
Depois, Chalupová soube da história de uma rapariga de 12 anos que criou um perfil falso de um predador sexual no seu telefone, para fingir que tinha recebido mensagens dele. O objetivo? Mostrar às amigas na escola, já que muitas delas tinham sido abordadas por verdadeiros pedófilos. “Foi aí que soube que tínhamos de fazer este filme”, explicou a realizadora à “Variety”.
O plano foi-se construindo. A ideia era criar três perfis falsos de raparigas de 12 anos — interpretadas por atrizes de 19 anos, com um aspeto jovial. Foram construídos três quartos diferentes como se pertencessem a miúdas daquela idade, com microfones e câmaras escondidos. Os décors foram construídos de propósito e, além disso, incluíam uma casa de banho — é comum que os predadores sexuais peçam às suas vítimas para falarem com eles nessa divisão.
As atrizes falavam com os alegados pedófilos — em chamadas que poderiam durar 12 horas. Ao lado, durante as conversas, estava uma equipa de gravação, especialistas em cibersegurança, consultores e psicólogos. Assim que criaram os perfis, centenas de homens começaram a contactá-los. Na maior parte dos casos, pediram para que tirassem peças de roupa, em troca de dinheiro. Alguns tentaram marcar encontros pessoais.
As atrizes, caracterizadas para parecerem mais novas, sublinharam várias vezes que tinham 12 anos. A experiência foi perturbadora. Tanto que uma das protagonistas teve de começar a fazer terapia após as filmagens, alegando que se sentia mal cada vez que um homem mais velho olhava para si na rua.
No final das gravações, os realizadores entregaram todas as imagens à polícia. As caras dos homens não estão visíveis e as suas identidades não são reveladas no documentário. Mas as suas vozes ouvem-se de forma clara. As autoridades fizeram várias detenções após terem tido acesso ao material — e muitos dos detidos foram acusados criminalmente. O documentário que relata todo o processo e que teve um efeito real neste fenómeno criminal pode agora ser visto no nosso País.
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