A decisão está tomada. O Sindicato dos Atores dos Estados Unidos (SAG-AFTRA) vai mesmo avançar com uma greve. Os profissionais prometem a maior paralisação das últimas décadas em Hollywood.
Desde 1980 que os atores americanos não entravam em greve e desde 1960 que não o faziam em simultâneo com os argumentistas. Vão fazê-lo agora, numa paralisação presumivelmente histórica que se inicia a partir da meia-noite desta sexta-feira (hora de Los Angeles), 14 de julho.
O desfecho já era previsível, mas a decisão foi oficializada e anunciada no início da noite desta quinta-feira numa conferência de imprensa do SAG-AFTRA, sindicato que junta os profissionais do Screen Actors Guild e a Federation of Television and Radio Artists, que representa os intérpretes das poderosas indústrias do cinema e da televisão norte-americanas.
Os efeitos serão imediatos. A partir desta sexta-feira, 14 de julho, a produção de filmes e séries nos Estados Unidos — e aquela que, embora feita no estrangeiro, estiver sob a jurisdição das associações que convocaram a greve — vai parar. Resultado? A maioria das produções de cinema e de televisão dos Estados Unidos será interrompida. Os atores vão parar de trabalhar e prometem organizar piquetes. Também não tencionam promover os filmes e as séries em que participam, ações a que estão vinculados ao abrigo dos contratos com os estúdios.
“O conselho nacional do SAG-AFTRA votou unanimemente por uma ordem de greve contra os estúdios e as emissoras”, anunciou Duncan Crabtree-Ireland, diretor-executivo nacional do sindicato. Esta quarta-feira, 12 de julho, já tinha sido avançado que as negociações entre o SAG-AFTRA e os principais estúdios de cinema e televisão — que estenderam por mais de quatro semanas — tinham terminado sem sucesso.
Duncan Crabtree-Ireland defendeu em conferência de imprensa que não lhes foi dada alternativa, uma vez que a greve “é um instrumento de último recurso”, e que “os atores merecem um contrato que reflita as mudanças no modelo de produção“.
Já o grupo que representa os estúdios admitiu que a greve não era o resultado esperado, “pois não podem operar sem os artistas que dão vida” aos programas e filmes. “Lamentavelmente, o sindicato escolheu um caminho que levará a dificuldades financeiras para incontáveis milhares de pessoas que dependem da indústria”, disse a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP), em representação dos principais estúdios de produção, como Disney, Paramount, Warner, Sony, Netflix e Amazon.
A presidente do sindicato, a atriz Fran Drescher, já tinha lembrando que na última década a remuneração dos atores fora “severamente desgastada pela ascensão do ecossistema de ‘streaming'” e que o desenvolvimento da Inteligência Artificial passara a representar “uma ameaça existencial para as profissões criativas”. “Todos os atores e ‘performers’ merecem uma linguagem contratual que os proteja de ter a identidade e o talento explorados sem consentimento e pagamento”, escreveu.
O sindicato lamentou ainda que a aliança que representa os estúdios de cinema e televisão se tenha “recusado a reconhecer que as enormes mudanças na indústria e na economia tiveram um impacto negativo sobre aqueles que trabalham”.
O protesto dos atores junta-se ao dos argumentistas, que começou em maio. Desde então, as produções que se mantêm em filmagens estão a trabalhar com base em argumentos já concluídos na primavera, sem poder modificá-los.