Cinema

Filme de Cannes revela que o romance de Céline Dion começou aos 12 anos

É uma autêntica biografia não autorizada da cantora. Sem permissão para usar o nome, a atriz dá-se pelo nome de Aline Dieu.
O casal conheceu-se quando Dion tinha apenas 12 anos

A ovação durou mais de cinco minutos e apesar dos elogios, os críticos não conseguiram conter a estupefação com o que tinham acabado de ver no ecrã. Entre várias cenas, assistiram a uma atriz de 57 anos a interpretar uma Céline Dion com apenas cinco anos.

“Nunca vi nada assim”, descreve um jornalista do “The New York Times”. “Como presença cinematográfica, a pré-adolescente Aline parece-se menos com a personagem principal e mais com uma pessoa prestes a aterrorizar a Vera Farmiga no próximo capítulo de ‘A Evocação’.”

Apesar de não adotar o nome da cantora, o filme francês não fugiu da história, que é exatamente igual à da vida da artista canadiana. “Uma obra de ficção livremente inspirada na vida de Céline Dion”, anuncia o filme que tem em Aline Dieu a sua personagem principal, interpretada pela própria realizadora, Valérie Lemercier.

Uma das cenas mais comentadas é precisamente uma das que surge no trailer e que revisita a primeira audição de Dion perante René Angelil, produtor que a encontrou e que viria a acompanhá-la durante toda a sua carreira — e vida como seu marido.

Nela, Lemercier aparece transfigurada, numa tentativa estranha de a caracterizar como uma muito jovem Céline Dion. “A Aline era muito estranha”, revelou a crítica da “Vulture”, Rachel Handler, que descreveu o filme como “um bizarro prazer” com os seus “momentos de terror”.

“A imagem de uma atriz de 57 anos a interpretar uma Céline Dion com 12 deveria estar gravada na fachada do Palais de Cannes”, escreveu Richard Lawson da “Vanity Fair”.

Apesar da ausência da bênção da artista de 53 anos, o filme está recheado de temas originais e até recria a conquista do Óscar entregue pela interpretação de “My Heart Will Go On”, da banda sonora de “Titanic”.

À exceção do nome, tudo bate certo com a incrível vida da cantora que desde miúda impressionou as plateias com a sua voz. E uma das histórias que dão vida ao filme é precisamente a do polémico romance entre Dion e René Angelil, 26 anos mais velho.

Os dois conheceram-se em 1980, numa audição garantida pelo irmão de Céline, que enviou uma gravação da voz da irmã para um nome que encontrou num disco de Ginette Reno. Angélil, 38, aceitou receber a jovem no estúdio no Quebec.

“Enquanto cantava, ele começou a chorar. Percebi que tinha feito um bom trabalho”, recordou em entrevista sobre o primeiro encontro com aquele que viria a ser o seu maior apoiante e eventualmente marido.

A confiança de Angélil no talento de Dion era de tal forma firme que o produtor não hesitou em hipotecar a casa para conseguir pagar a edição do seu primeiro disco, “La Voix Du Bon Dieu”. O álbum chegou ao topo de vendas da região canadiana e serviu de arranque a uma carreira ímpar.

Dion e Angélil ainda novos

A ligação próxima só se tornou romântica, segundo a cantora, depois dos seus 19 anos, altura em que saíram no seu primeiro encontro romântico. Contra tudo isto estava a mãe de Dion, que terá procurado ativamente sabotar a relação — um tema também abordado no filme.

“Foi muito difícil para ela. Quando lhe contei que tinha sentimentos pelo René, ela tentou tudo para o matar e fazer-me mudar de ideias. Inicialmente senti-me frustrada e furiosa, mas depois ela tentou fazer-me perceber que ele era um homem com dois casamentos, três filhos… Mas o sentimento era tão forte que o resto da família também se apaixonou por ele, e ela ficou sem alternativa.”

A vergonha de assumir publicamente uma relação com um homem 26 anos mais velho desapareceu por altura do lançamento de “The Color of My Love”, onde nas notas, a cantora fez questão de deixar um agradecimento especial ao homem que sempre acreditou no seu potencial. “Tinha medo do que as pessoas poderiam pensar, mas quando estás apaixonada, queres anunciá-lo e gritá-lo ao mundo.”

Por essa altura estavam já noivos. O casamento de luxo que parou o país aconteceu em 1994, com uma cerimónia na basílica de Notre-Dame em Montreal — e transmitido em direto na televisão. Ela tinha 26 anos, ele 52.

Enquanto a carreira continuava imparável, com a conquista do Grammy em 1991 pelo tema de “A Bela e o Monstro” e o Oscar em 1997, a vida privada corria de forma um pouco mais atribulada. O casal queria ter filhos, mas era incapaz de o fazer. E depois de um aborto espontâneo, Angélil foi diagnosticado com um cancro na garganta.

Dion tomou uma decisão ingrata: decidiu colocar a carreira de lado e dedicar-se a cuidar da frágil saúde do marido.

Angélil recuperou e declarou vitória sobre o cancro em 2000. O casal renovou os votos numa cerimónia bizantina, em honra dos antepassados do produtor — e acabou a comemorar o nascimento do primeiro filho em 2001, René-Charles, ao fim de muitos anos de tratamento de fertilidade.

Dion estava preparada para regressar ao mundo e o mundo estava preparado para a receber. Depois de um novo disco, anunciou uma residência no palco do Caesar’s Palace em Las Vegas — e em 2003 foi a artista escolhida para o show de arranque da Super Bowl.

Angélil e Dion queriam uma família maior e continuaram com os tratamentos, até que em 2010 foram pais de gémeos, fruto de fertilização in vitro, Nelson e Eddy.

“A minha maior recompensa são os meus filhos. Quem nunca é mãe, não sabe o que está a perder ou o que isso significa. Dá um verdadeiro significado à tua vida, é o trabalho mais importante. Quero lá saber se as pessoas gostam de mim como cantora ou não, podem encontrar outros cantores para eles. Mas nenhuma mãe poderá ser uma mãe melhor para os meus filhos do que eu.

Quando tudo parecia correr bem, uma má notícia: o cancro de Angélil voltara. Submetido a uma operação para remover um novo tumor, o marido da artista ficou debilitado. Dion tentou conciliar a doença com as suas atuações em Las Vegas, onde regressou depois de uma pausa de um ano. Não foi fácil.

No funeral de Angelil com os três filhos

“Eu não queria estar aqui, não preciso disto. Não me interpretem mal, adoro cantar para pessoas, mas tenho prioridades”, recordou à época a cantor. Angélil foi um dos que a motivou a manter-se no ativo. “Fiz todo o meu luto no ano que passou. Acho que estou bem agora. Quando me bater, bate. Mas por agora o meu trabalho é o de dizer ao meu marido que estamos bem.”

A sua condição deteriorou-se e acabaria por morrer em 2017. “Acho que vou ficar de luto para o resto da minha vida”, recordou Dion no ano da morte. “O Rene preparou-me para enfrentar a vida desde os meus 12 anos. Nunca conheci outro homem na minha vida, nunca beijei outro homem.”

ÚLTIMOS ARTIGOS DA NiT

AGENDA NiT