Cinema

Empresa que procura evitar abusos na indústria cinematográfica chegou a Portugal

A IntimAct Portugal, fundada em Espanha, já começou a operar por cá. O objetivo é proteger a integridade física, emocional e psicológica dos intérpretes.
Chegou a Portugal.

Em outubro de 2017, a atriz Alyssa Milano fez um pedido aos seus seguidores no Twitter: “Se já foram assediados ou abusados sexualmente, escrevam ‘eu também’ em resposta a este tweet”. A resposta foi impressionante, com milhares de comentários e partilhas de nomes como Lady Gaga , Viola Davis e Evan Rachel Wood em menos de 24 horas. Nascia assim o movimento #MeToo, que encorajou as mulheres a relatar as suas experiências de abuso verbal e físico, assim como atos de violação.

Asia Argento, filha do cineasta de culto Dario Argento e última namorada do chef Anthony Bourdain, foi uma das principais vozes a denunciar o assédio na indústria do cinema. Em 2018, denunciou os abusos do produtor Harvey Weinstein e revelou como fora vítima do produtor quando tinha apenas 20 anos. O escândalo fez inúmeras manchetes, incendiou as redes sociais e muitas outras celebridades juntaram-se ao movimento.

O #MeToo acabaria por incentivar também as atrizes espanholas Lucía Delgado e Tereza Cerezo a fundar, em 2021, a IntimAct, uma empresa especializada em coordenação de intimidade numa produção audiovisual, revela o “Público”. Volvidos três anos, depois de acompanhar a produção de mais de 40 títulos em Espanha, a empresa chegou ao mercado nacional pelas mãos de Teresa Olea Molina.

Nascida em Granada, está a viver em Portugal desde 2018 e vem da área do cinema, da realização e das letras, com trabalho nas áreas da tradução e da interpretação. Já há muito tempo que andava a pensar “trabalhar numa área mais sensível e delicada”, ligada ao cinema, mas a ideia surgiu após frequentar uma formação promovida pela IntimAct para os países ibero-americanos no final do ano passado. A inexistência deste tipo de serviço no País foi o empurrão que precisava para avançar com a IntimAct Portugal.

“Já estou a falar com algumas produções e há bastante interesse. Agora é ver a resposta da indústria aqui”, disse a responsável em entrevista ao “Público”, confessando que era “normal” não existir nada do género por ser uma indústria mais pequena. Um coordenador de intimidade é um membro de uma equipa de cinema ou televisão que garante o bem-estar dos atores que participam em cenas íntimas na produção, e não só.

Na formação, explica Teresa, trata-se a “coordenação de intimidade de uma perspetiva muito filosófica e crítica”, onde se aborda o enquadramento legal e as questões do consentimento. “É um dos fatores mais importantes que trabalhamos sempre, um consentimento informado e real, que permita evitar os abusos dentro da indústria cinematográfica, para que não haja qualquer tipo de mal entendido e constrangimento”, diz.

Quando se grava momentos mais íntimos, “tem de haver limites”, assim como nas práticas da indústria. Já a nível do trabalho criativo, compete aos coordenadores de intimidade ajudarem “os realizadores a trazerem novas narrativas e formas de mostrar a sexualidade no ecrã e nas telas do cinema”. Desta forma, será possível contrariar “a tradição audiovisual que está muito vinculada ao male gaze, à visão masculina”.

O objetivo é “retratar a nudez de uma forma mais ampla, que possa trazer outras formas de entender os corpos”. A coordenação de intimidade trabalha ainda na questão da proteção, principalmente quando se gravam cenas de intimidades, para que “não exista nunca contacto genital”. 

A integridade física, emocional e psicológica dos intérpretes está sempre em primeiro lugar, pelo que serão realizados ensaios antes, de forma a tornar as cenas íntimas “confortáveis para toda a gente”.

ÚLTIMOS ARTIGOS DA NiT

AGENDA NiT