Zelda Williams está farta e decidiu confessar as suas frustrações no Instagram. O alvo? O uso da inteligência artificial para recriar imagens e vozes de atores que já morreram. “Não sou uma voz imparcial na luta da SAG contra a IA. Assisti, durante anos, a muita gente a querer treinar este modelos para criar e recriar atores que não podem dar o seu consentimento, como é o caso do meu pai”, explicou sobre o caso de Robin, o pai, que morreu vítima de suicídio em 2014, tinha apenas 63 anos.
“Isto não é teoria, é muito, muito real. Já ouvi a IA ser usada para recriar a sua voz e dizer o quer quer que as pessoas queiram que ele diga. Acho isso altamente perturbador, mas as ramificações vão muito para lá dos meus sentimentos.”
“Os atores que são vivos merecem a oportunidade de criar personagens com as suas escolhas, de dar voz a desenhos animados, de dedicar o seu esforço e tempo humano em busca da performance”, continuou. “Estas recriações são, no melhor dos casos, uma fraca imitação de grandes personalidades, mas no pior dos casos, um monstruoso Frankenstein, montado a partir dos piores aspetos de tudo o que esta indústria é, em vez daquilo que deveria representar.”
O uso de IA em Hollywood tem estado no centro das greves da WGA e SAG. Enquanto o Writers Guild of America já chegou a um acordo com a AMPTP, o sindicato SAG-AFTRA ainda está em greve.
Tom Hanks também já se envolveu na discussão, ele que recentemente alertou os seus seguidores no Instagram para uma campanha publicitária dentária que usava a sua cara. E numa entrevista para o podcast de Adam Buxton, o norte-americano coloca a hipótese de ser recriado com o apoio de inteligência artificial.
“É uma fortíssima possibilidade neste momento, se eu quisesse, reunia uma série de ideias para sete filmes comigo como protagonista, nos quais teria para sempre 32 anos”, notou no episódio lançado no sábado, 13 de maio. “Qualquer pessoa hoje pode ser recriada, com qualquer idade, graças à inteligência artificial ou à tecnologia de deepfake”. E acrescentou: “Eu posso morrer atropelado já amanhã e acabou-se. Mas as minhas performances podem continuar eternamente.”
Essa não é uma hipótese que choca o aclamado ator, que acredita que as reproduções serão cada vez mais perfeitas, embora também admita não ter dúvidas de que será sempre possível distinguir entre o Hanks real e o fictício. “Sem dúvida que as pessoas conseguirão saber qual é qual”.
“A grande questão aqui é saber se elas se importam com isso. Há pessoas que não querem saber, que não vão ligar nenhuma à diferença.” Hanks teve uma experiência do género no filme de 2004, “O Expresso Polar”, onde foi recriado digitalmente para o filme de animação. Recorda que os seus movimentos e expressões foram todos recolhidos e armazenados em computadores. Dados que permitem criar versões digitais realistas dos atores.
“Vimos isto tudo a chegar. Percebemos esta capacidade de enfiar uma data de zeros e uns num computador e que isso poderia dar origem a uma cara, a uma personagem. Agora, essa capacidade cresceu exponencialmente e está em todo o lado.”
Esta nova possibilidade está também a fazer movimentar a indústria, explica Hanks. “Posso adiantar que há neste momento uma discussão em todas as associações de stores, todas as agências, até mesmo nas firmas de advogados; está tudo a tentar perceber as ramificações legais da minha cara, da minha voz, e da cara e voz de todos como sendo parte da nossa propriedade intelectual.”