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Filme brasileiro censurado nos anos 80 é um dos destaques do Queer Porto

O festival internacional de cinema celebra o seu 10.º aniversário com sessões no Batalha, no Passos Manuel e na Casa Comum.

“Onda Nova”, de José Antonio Garcia e Ícaro Martins foi a obra escolhida para a abertura da décima edição do Festival Internacional de Cinema Queer Porto, que arranca esta terça-feira, 8 de outubro. O filme, que marca o arranque do evento, foi censurado integralmente no Brasil, em 1983, data da sua estreia oficial.

A produção é, segundo os organizadores do evento, descrita como uma “comédia erótica e anárquica sobre as jogadoras de uma equipa de futebol feminino formada em plena ditadura militar, de 1964 a 1985”. A equipa em questão era o Gaivotas Futebol Clube e o elenco é composto por Carla Camurati, Cristina Mutarelli, Tânia Alves, Regina Casé, Naide Santos, entre outros.

Considerado uma obra de culto do cinema brasileiro dos anos 80, foi alvo de um restauro. “É uma ode ao desejo, opondo-se a todo tipo de moralismo sexista, que tem como pedra fundadora o controle da sexualidade das mulheres através das narrativas sobre sexo”, explica o festival.

O Queer Porto estende-se até ao dia 12 de outubro, sábado, concentrando-se em três locais da cidade: Batalha Centro de Cinema, Casa Comum da Universidade do Porto e Passos Manuel. O foco do festival é apresentar um conjunto de olhares detalhados e complexos sobre as mais diversas realidades das pessoas e comunidades LGBTQI+, em diferentes geografias e o significado de ser queer, nas suas múltiplas expressões e desafios.

Na Casa Comum, o festival passa nos dias 9, 10 e 11 de outubro, sempre às 18 horas, com entrada gratuita. No primeiro dia, o filme exibido será “A’lam”, de Saleh Saadi. A obra chega da Palestina e conta a história de Nassim, que visita a sua melhor amiga antes de esta se mudar para os Estados Unidos da América. No dia seguinte, é a vez do documentário com assinatura de Noor Gatih, uma fotógrafa e cineasta iraquiano-canadiana. “Khobs & Chai” aborda conceitos como identidade e etnia, através de histórias narradas por uma avó.

No dia 11, será a vez de “As I Was Looking Above, I Could See Myself Underneath”, outro documentário, desta vez de Ilir Hasanaj, que apresenta um grupo de pessoas LGBTQI+, de diferentes origens e gerações, em que cada um conta a sua história de descoberta queer e as suas experiências de vida num ambiente de rejeição e exclusão. Nos três dias em que o festival passa pela Casa Comum, no final de cada sessão, vão ser exibidas curta-metragens e realizados debates.

O cinema queer português também vai estar em destaque nesta edição, com um “cinema que transborda limites, que renova linguagens, que subverte expectativas”, de acordo com as palavras da organização. Entre os filmes destacam-se várias curtas, nomeadamente “Carta ao pai”, de Rafael Ferreira, “À tona d’água”, de Alexander David, e “Anoitecer”, de Tatiana Ramos.

Um dos destaques refere-se ao documentário “As Fado Bicha” de Justine Lemahieu, que acompanhou Lila Fadista e João Caçados em palco e nos bastidores entre 2019 e 2023. Para o Queer Porto, a obra “abre um processo de aceitação, representatividade e reparação, através da música enquanto questiona a relação da sociedade com as aparências, as normas de género, linguagem e sexualidade”.

O Batalha recebe ainda um programa acerca das problemáticas ligadas à ideia de espaço seguro para pessoas e comunidades queer, além de debates à volta da escrita de Isabelle Stengers, Adrianne Rich e de Dionne Brand. O festival acolhe ainda um programa alargado, onde se foca a “resistência queer” em zonas de conflito do leste europeu e Médio Oriente, centrado na realidade vivida em países como o Kosovo, Palestina, Chipre ou Ucrânia.

Há ainda tempo e lugar, para celebrar figuras centrais da cultura queer, como Genesis P-Orridge ou Bruce LaBruce, em diálogo com um jovem realizador, Mathieu Morel, nas noites do Passos Manuel. O festival encerra no dia 12, sábado, com a comédia grega “The Summer with Carme”, de Zacharias Mavroeidis, sobre os dramas existenciais de “um funcionário público, sexy e desajeitado, que se passeia nu por quase todo o filme”.

As entradas para as sessões no Batalha custam 4€ e podem ser adquiridas online ou na bilheteira do centro de cinema. No Passos Manuel, o preço é igual, mas os ingressos podem ser adquiridos à porta do local no dia da sessão. A estação de metro dos Aliados é a mais próxima dos três locais por onde o festival Queer Porto passa.

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