Olivia Colman nunca tinha dito tantos palavrões como durante as filmagens do seu mais recente filme. A linguagem utilizada em “Pequenas Cartas Malvadas” foi tão ousada que levou algumas pessoas a abandonarem as salas de cinema, indignadas. “Só peço que estas pessoas cresçam. É apenas um filme com humor, nada mais”, comentou a atriz durante uma entrevista ao programa “USA Today”. A produção estreou a 25 de abril do ano passado e, a 14 deste mês, chegou à Prime Video.
A britânica, vencedora de um Óscar, contracena com Jessie Buckley. O elenco inclui ainda nomes como Timothy Spall, Anjana Vasan e Gemma Jones. O enredo inspira-se numa história verídica passada nos anos 1920, em Littlehampton, uma pacata cidade costeira no sul de Inglaterra, onde os moradores começaram a receber cartas anónimas repletas de insultos e obscenidades.
Entre os alvos dessas mensagens está Edith (Colman), uma mulher que vive com os pais idosos e cresceu sob a rigidez de um pai controlador e religioso, papel desempenhado por Spall. A sua vizinha, Rose (Jessie Buckley), é uma irlandesa extrovertida, cheia de vida, que vive com a filha — e torna-se a principal suspeita quando os bilhetes ofensivos começam a circular.
Edith, marcada por uma educação repressiva, é inicialmente reservada, mas acaba por se envolver numa verdadeira guerra de palavras com Rose, que a desafia constantemente. As duas trocam insultos ao longo do filme, descrito como sendo uma comédia com um toque ácido. Colman revelou que chegou a dizer cerca de 50 palavrões por dia durante as gravações.
Na história, Rose é vista pela comunidade como uma rebelde — bebe, fala alto e não tem papas na língua — enquanto os comportamentos semelhantes nos homens são tolerados, até celebrados. “O julgamento de mulheres que fogem às normas sociais não é novo — desde os tempos das bruxas até aos dias de hoje, comportamentos considerados inadequados continuam a causar desconforto, mas apenas quando vêm de mulheres”, refletiu a atriz.
Para Colman, o tema central do filme continua atual. “O interessante nestas histórias de época é que nos obrigam a olhar para o presente. Espero que levem as pessoas a conversar e a questionar os seus próprios preconceitos”, afirmou. A atriz acredita que “Pequenas Cartas Malvadas” mostra que, apesar de ter passado mais de um século desde 1920, certos padrões sociais mantêm-se inalterados.
Na altura em que a história se desenrola, enviar cartas ofensivas era um crime grave no Reino Unido, com penas que podiam chegar aos 100 anos de prisão — algo que Olivia gostava que ainda acontecesse. “Em parte, tenho saudades desses tempos em que insultar alguém era levado a sério. Hoje em dia, basta entrar na Internet para encontrar comentários horríveis a toda a hora”, disse à “BBC”.
Apesar de não ser adepta de insultos no dia a dia, admitiu ter gostado de aprender todas as expressões obscenas que teve de usar para o papel. Para se recordar da experiência, levou consigo uma lembrança curiosa do set: uma das cartas ofensivas criadas para o filme, que agora está emoldurada e colocada em cima da sanita da sua casa. “As visitas ficam sempre surpreendidas quando vão à casa de banho.”
Ainda assim, essa peça decorativa não dá permissão aos seus filhos, de 17 e 19 anos, para falarem da mesma forma em casa. “Já lhes disse: quando morarem sozinhos, façam o que quiserem. Mas ouvir palavrões da boca deles faz-me confusão.”
No Rotten Tomatoes, “Pequenas Cartas Malvadas” tem uma pontuação de 80 por cento dos críticos e 92 por cento do público. O site “FilmWeek” descreveu-o como “divertido e absurdo”, acrescentando que, apesar do tom leve, é também “uma celebração do empoderamento feminino — de forma pouco convencional”. Já o “Seattle Times” destacou que “é uma história pequena, mas com um humor contagiante”.
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