Hollywood parou para aplaudir a emocionante história de Ke Huy Quan, o jovem refugiado que brilhou há 40 anos ao lado de Indiana Jones, deixou a profissão e regressou para conquistar o Óscar. Mas a sua história não foi a única a inspirar a plateia e a provocar o derramamento de lágrimas.
Numa vitória praticamente anunciada, o antigo galã Brendan Fraser completou, na madrugada desta segunda-feira, 13 de março, o percurso que marcou definitivamente o seu regresso à ribalta. Recebeu um Óscar para Melhor Ator pelo seu papel em “A Baleia”.
Emocionado em palco, o ator repetiu a habitual lista de agradecimentos, que redundou naturalmente num apontar de dedos para os seus filhos. Na plateia estava Holden e Leland, que receberam a menção, até que o ator decide olhar para cima, para enviar mensagem ao terceiro filho. “Amo-te, Griffie.”
Griffin é o mais velho dos três filhos que teve com a ex-mulher Afton Smith. Com 20 anos, esteve ausente da cerimónia e vive uma vida mais recatada devido ao autismo que lhe foi diagnosticado quando era ainda criança.
Apesar de evitar a exposição mediática do filho, Fraser nunca escondeu a sua condição. Tinha apenas dois anos quando os sintomas levaram ao diagnóstico. “Fiquei triste. Quis logo saber o que podia fazer para resolver a questão, se havia cura, o que é que tudo isso significava”, revelou, em setembro, numa entrevista a Howard Stern.
“É como se te batessem com um taco de baseball na cabeça. O quê? Não era suposto que as coisas corressem assim. Culpas-te a ti próprio, se foi algo genético ou se foi porque fumaste erva na faculdade.”
A verdade é que por mais perguntas que fizesse, raramente encontrava respostas. “É como tentar sacar uma resposta a um gnomo”, protestou. Dos médicos, recebeu apenas uma justificação: o autismo ocorre “por razões ainda desconhecidas”.
No filme que lhe valeu o Óscar, Fraser interpreta um homem com obesidade mórbida. É uma condição sobre a qual está bem informado e que o ajudou a preparar-se para o papel. “O meu filho mais velho, o Griffin, é autista, é um miúdo grande, tem 1,95 metros de altura, mãos e pés grandes, um corpo enorme. Conheço intimamente o que é viver com uma pessoa com obesidade”, explicou, em novembro, numa entrevista à “Interview”.
Só anos após o diagnóstico é que o ator se reconciliou com a ideia de ter um filho autista. Foi quando começou a perceber que “nunca quererias que as coisas fossem diferentes”. “Este miúdo é a pessoa mais alegre que conheço (…) consegue ser hilariante dia após dia, de uma forma genuína. Até ele se ri de si próprio. Adora andar de carro, seja qual for o destino.”
Fraser confessa que, mesmo não conhecendo bem a doença, acabou por conseguir encontrar “a beleza deste espectro”. “Chamem-lhe transtorno, o que quiserem, eu discordo desses termos, mas a verdade é que ele não sabe o que é cinismo, ironia”. E acrescenta: “Não o conseguem insultar. Ele não vos consegue insultar. Ele é a pessoa mais feliz do mundo, na minha vida e na vida de muitos outros.”

Esta nova perceção transformou-no, na medida em que passou também a estar mais atento a outras pessoas, sobretudo aos fãs. “Consigo olhar até ao outro lado da sala numa convenção e perceber imediatamente quem está no espectro do autismo. Alguém que precisa de um pouco mais de amor, um pouco mais de tempo, simplesmente porque são autistas ou têm Asperger, este é o mundo deles. É onde eles pertencem”, explica.
“Esqueço-me sempre de todo o ruído e da histeria que se cria em torno das celebridades. Faço sempre, sempre questão de travar o comboio e partilhar um momento com eles.”
Apesar de toda a alegria, ter um filho com autismo trouxe todo um conjunto de dificuldades. Ainda assim, Fraser garante que a condição do filho não foi uma das causas do divórcio com Afton Smith, a mãe dos seus filhos, de quem se separou legalmente em 2009, ao fim de 11 anos de casamento.
“[O problema] é que eu prestava mais atenção à minha vida profissional do que à minha vida pessoal. Isso foi culpa minha”, conta. “Mas com o Griffin, tudo isso desaparece. Quem é que quer saber de problemas? Isso não importa. Puxamos da bandeira branca e unimo-nos para fazer tudo o que o miúdo e os irmãos precisam. É com isso que me comprometi e comprometo.”
Recorde também o percurso atribulado de Fraser, de estrela de blockbusters a ator esquecido por Hollywood. Leia o perfil da NiT.
