Cinema

Helen Mirren anda à caça do Óscar no papel da controversa primeira-ministra de Israel

"Golda" centra-se na curta, mas violenta guerra do Yom Kippur e nas decisões que marcaram o conflito. Estreia esta quinta-feira.
Golda continua a ser uma figura controversa.

O ataque chegou de surpresa a 6 de outubro, quando uma coligação de forças árabes se uniram para lançar uma ofensiva contra Israel. Não se tratava de um dia qualquer: era o dia do Yom Kippur, um dos mais importantes feriados religiosos do judaísmo. À frente do governo israelita estava Golda Meir, a primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra. É este o momento central do novo filme biográfico que relata o legado da mulher que esteve no poder entre 1969 e 1974 — e morreu em 1978, vítima de cancro.

É esta a história central por detrás de “Golda”, de Nicholas Martin, um thriller de suspense que se desenrola durante os tensos 19 dias que durou a guerra do Yom Kippur. Confrontada com a possível destruição de Israel, Meir — interpretada por uma irreconhecível Helen Mirren e cuja prestação está a gerar falatório para os Óscares — tem de gerir o conflito, entre conselheiros e uma relação complexa com o secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, interpretado por Liev Schreiber. A sua liderança firme foi determinante para selar o destino de Israel, mas deixou um legado controverso.

O elenco inclui ainda Camille Cottin, Rami Heuberger, Lior Ashkenzi, Ellie Piercy, Ed Stoppard, Rotem Keinan, Dvir Benedek, Dominic Mafham, Ben Caplan, Kit Rakusen e Emma Davies. O filme teve a sua estreia mundial na Berlinale, em fevereiro, e chega agora aos cinemas portugueses esta quinta-feira, 28 de setembro.

Guy Nattiv, o realizador, descreve-o como “um filme israelita com um toque internacional”. Sobre as críticas de que o filme tenta reabilitar a imagem de Meir, Nattiv é claro: “O que estou a mostrar é a derrota de Israel, a sua queda. Chamo-lhe o ‘Requiem de Golda’. Todos os envolvidos parecem estar a perder-se, os heróis de 67, como Moshe Dayan, considerado o super-homem de Israel, também ele é afetado”

“Não está a glorificar nada sobre a narrativa israelita”, assegura. “O ‘Yom Kippur de’ é um termo que toda a gente agora usa em Israel. O ‘Yom Kippur do Maccabi Tel Aviv’, o ‘Yom Kippur da Eurovisão’… Isto é como o Vietname de Israel.”

Com 57 por cento no agregador de críticas Rotten Tomatoes, o filme parece não ter convencido os críticos. “É um bom drama sobre Israel, mas seria necessário um enorme drama para que Israel consiga mergulhar nas suas longas e históricas ambiguidades morais”, nota a “Variety”. “O maior problema é que o filme nunca se consegue livrar daquele ar de showcase de um ator, nunca consegue — apesar do esforço considerável — encontrar uma leitura mais desafiante e mais complexa da história”, conclui o “Los Angeles Times”.

Quem foi Golda Meir

Meir foi primeira-ministra de Israel de março de 1969 a junho de 1974, depois de ter ascendido à posição após a morte súbita do anterior primeiro-ministro Levi Eshkol. Durante o início do seu mandato, Meir manteve a unidade dentro do seu governo. A sua reconfigurada Aliança teve o melhor resultado de qualquer partido de Israel nas eleições gerais de 1969. Um dos temas principais da candidatura foi a promoção da paz no Médio Oriente. Infelizmente, essa foi uma visão não se concretizou durante o mandato de Meir — nem de nenhum dos seus sucessores.

No início do seu mandato, Meir condenou qualquer tentativa de um acordo de paz com a frase de que “não existiam palestinianos”. Uma saída que ainda hoje mancha o seu legado. E, embora tenha sido reconhecida pela sua liderança equilibrada durante o conflito do Yom Kippur em 1973, muitos questionaram o papel que desempenhou nos eventos que conduziram ao ataque, concertado pelos vizinhos árabes.

Tratou-se de uma guerra relativamente curta, mas tornou-se num dos momentos que definiriam o mandato de Meir. Alarmada com os relatórios que começaram a surgir sobre as forças sírias a concentrarem-se nos Montes Golã, foi avisada pelos seus conselheiros para não se preocupar — que haveria sempre um aviso antes de um ataque militar. Também por isso Meir não mobilizou as forças israelitas atempadamente e as discussões sobre que medidas tomar ainda decorriam horas antes de as hostilidades começarem durante um ataque surpresa a Israel a 6 de outubro de 1973.

Surpreendidos, os israelitas sofreram pesadas baixas. A ajuda habitual dos Estados Unidos foi preciosa para montar a resposta de Israel, que conseguiu recompor-se e recuperar o território perdido. O conflito acabou com um cessar-fogo decretado a 25 de outubro de 1973. As negociações entre as partes envolvidas foram mediadas pelas Nações Unidas. Embora tenha durado apenas duas semanas e cinco dias, a Guerra do Yom Kippur teve um grande impacto nas dinâmicas do Médio Oriente. E fez com que alguns perdessem a confiança na liderança de Meir.

A culpa pela falta de preparação de Israel antes do ataque surpresa recaiu sobre Meir. Foi também criticada pela sua escolha de não lançar um ataque preventivo contra as nações árabes envolvidas.

Além das críticas à abordagem cautelosa de Meir à Guerra do Yom Kippur, as suas estratégias políticas e diplomáticas também foram questionadas, com alguns a acreditarem que Meir perdeu oportunidades de terminar o conflito mais cedo. A primeira-ministra foi ilibada de responsabilidade direta pela Guerra do Yom Kippur pela Comissão Agranat, mas o dano à sua reputação como primeira-ministra já estava feito. A controvérsia precipitou a sua renúncia ao cargo, em 1974.

Meir continuou a falar publicamente sobre assuntos políticos, mesmo estando retirada da política. Em 1975, publicou a autobiografia, “My Life”, onde conta episódios da sua vida, desde a infância até ao final do seu mandato.  Golda Meir morreu aos 80 anos, vítima de cancro, a 8 de dezembro de 1978.

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