Cinema

Humoristas portugueses reagem à agressão de Will Smith a Chris Rock

Nuno Markl, Fernando Alvim ou Raminhos são alguns dos que condenam o comportamento agressivo do ator em relação ao comediante.
O humorista tem optado por não comentar.

A agressão de Will Smith a Chris Rock na gala dos Óscares — transmitida em direto na madrugada desta segunda-feira, 28 de março — tem sido bastante discutida nas redes sociais. Muitos  condenam a agressão física do ator ao humorista, após Chris Rock ter feito uma piada sobre a esposa do primeiro, a atriz Jada Pinkett Smith.

Porém, outros solidarizam-se com a postura de Will Smith, tendo em conta os contornos da piada de Chris Rock — relacionada com a perda de cabelo de Jada, consequência da alopecia areata, a doença autoimune de que sofre.

Em Portugal, vários humoristas e profissionais do meio também reagiram ao comportamento de Smith. Sem surpresa, todos condenam a agressão, ainda que alguns também considerem natural que ambos se tenham sentido ofendidos.

“Não digo que o Will Smith não tenha todo o direito de ficar irritado com a piada. Claro que tem. Quando me separei, houve um humorista a fazer uma piada horrivelmente feia e agressiva sobre mim e a minha ex-mulher. Não o quis processar, nem bater, nem nada. Não gostei, mas a vida seguiu o seu rumo. Onde a coisa abre um precedente tramado é na violência. Apesar de haver quem consiga separar as duas coisas — e achar que ele tem o direito de se irritar, mas não de bater no Chris Rock —, também já vi quem defenda o que Smith fez como um ato de coragem. Eu acho que um ato de coragem talvez fosse, sei lá, sovar o Putin. O que Will Smith fez foi, para muita gente, validar a ideia de que não gostar de uma piada pode ser respondido e punido com violência. Se isto agora é aceitável, perdemos absolutamente como civilização”, escreveu Nuno Markl.

Já Fernando Alvim disse: “De cada vez que vejo alguém a perpetuar uma agressão como a que Will Smith fez ontem à noite nos Óscares, penso imediatamente na quantidade de pessoas que se sentirão inspiradas para replicar a sua atitude, como se aquele gesto legitimasse situações semelhantes. Na verdade, se alguém como Will Smith que está tão ligado ao humor e por isso — à partida — deverá ter uma sensibilidade maior faz isto, então para alguém que não a tenha, tudo se irá precipitar de forma mais rápida. E mais legítima. E não é só no domínio do humor, reparem, de cada vez que alguém suba ao palco e diga algo com que não concordemos, subimos ao palco e agredimos ao estilo Will Smith. É bastante simples até. E ninguém está a salvo. Mesmo aqueles que estão a ler isto e estão a dizer ‘muito bem, é mesmo isto que deve ser’. Mas calma, porque mesmo esses, têm que pensar que um dia estarão numa apresentação pública, numa apresentação de um trabalho na escola, num evento da empresa e no seguimento daquilo que estão a dizer publicamente alguém não gosta, hmm? É, é exatamente isso que estão a pensar, alguém se levanta, vai lá ter convosco e pronto faz uma Will Smithada.”

O radialista acrescentou ainda: “E, de facto, é um ano ótimo para numa das cerimónias mais vistas do mundo, mostrarmos um ato de violência e zero tolerância, quando se estaria à espera que o destaque não fosse a agressão de Will Smith ao Chris Rock, mas sim da Rússia à Ucrânia. O mundo tem muito rapidamente de tratar da sua saúde mental.”

“Continuo a achar que não há limites para o humor”, escreveu, por sua vez, Nilton. “O que aconteceu ontem foi vergonhoso e preocupante. Um homem subiu para cima de um palco para agredir outro homem no exercício da sua profissão: contar piadas”, afirmou Carlos Pereira sobre o que aconteceu. “E podíamos, para já, tentar cingir o debate aí. No que leva a alguém a sentir-se confortável para agredir outro perante centenas de pessoas (milhares contando com a transmissão), por causa de uma piada. E o que leva um homem a fazê-lo saindo em defesa da sua dama num gesto medieval. Mais do que discutir em como a questão da ‘defesa de honra’ é ofensivo para a mulher, importa discutir o que leva um homem a achar que tem de fazê-lo”, acrescentou.

“Sei que quando fazemos uma piada temos de estar preparados para levar nos cornos. O que acho que vai queimar o Will Smith é fazer papel de mauzão e nem derruba um tipo de 50 quilos como o Chris Rock”, disse João Quadros. “Aqui para nós podemos achar a piada do Chris Rock de mau gosto, mas um gajo levantar-se armado em macho para defender a mulher, ela não precisa, nem acredito que queira. Fosse ela a dar um soco no Chris era bonito”, defendeu.

“OK, se pelo que se viu ontem é para começar a sair na porradaria, isto sou eu hoje — já a ensaiar para o ‘É o Fim!’”, escreveu Rui Sinel de Cordes, partilhando uma fotografia equipado e em posição de combate.

Já Miguel Lambertini, que também é cronista na NiT, escreveu: “Will Smith não gostou de uma piada que Chris Rock fez sobre a sua mulher. Levantou-se, foi ao palco e deu-lhe um chapadão. Perante milhões de espectadores, numa altura em que vivemos um tempo de guerra e ódios, Smith reagiu com uma agressão física a uma frase e com este gesto deu aval a todos os que acham que a resposta para os problemas é usar a violência. Não pode ser.”

E acrescentou: “Hoje em dia, as pessoas mais do que achar que têm o direito de se ofender, que têm — ninguém lhes tira essa liberdade — acham que têm o direito de não ser ofendidas. E por isso, para essas pessoas, é legítimo ouvir uma piada que lhes desagrade e punirem a pessoa que a disse. Will Smith até podia ter toda a razão do mundo, mas perdeu-a no momento em que tocou no Chris Rock. Palmas para ele que foi um verdadeiro cavalheiro e reagiu à situação como o comediante incrível que é: respirou e fez uma piada.”

António Raminhos foi outro dos humoristas que reagiram à atitute de Smith. “Isto, sim, é cinema ao mais alto nível! Ação, drama, suspense… espero que nos próximos Globos de Ouro aconteça algo do género. A Cristina Ferreira levantar-se e dar uma chapada no Daniel Oliveira ou o Rodrigo Guedes de Carvalho pegar-se com o José Rodrigues dos Santos por causa das melhores ‘tiradas’ nos noticiários. O mais engraçado… um gajo da comédia a bater noutro gajo da comédia por causa de uma piada e não compreender o que é dito com maldade ou só estúpido. Nem vou discutir os limites do humor, mas havia sempre a oportunidade de subir ao palco e mandar umas bocas ao Chris Rock ou até falar com ele no fim. Ou, o mais normal, deixar a Jada resolver o assunto. Não sei, qualquer coisa é melhor do que ir lá dar uma chapada, que é abrir um precedente para que, agora, uma data de gente se sinta à vontade para dar chapadas quando não gosta de uma piada. ‘Então se o Will fez, porque é que eu não posso?’ Para mim, é simples — má piada do Chris Rock e péssima reação do Will Smith. Está tudo maluco. Preparem-se que vem aí o apocalipse zombie a seguir.”

“Um gajo acorda e, de repente, fica a saber que desempenha uma profissão de risco elevado”, escreveu Manuel Cardoso. Diogo Faro também reagiu: “A chapada do Will Smith não se chama ‘proteger a família’, chama-se masculinidade tóxica. Recomendo os docs ‘O Silêncio dos Homens’ e ‘The Mask You Live In’, e o livro ‘A Revolução do Homem’ (Philip Barker). Podem também seguir as páginas “Papo de Homem” e “Men Talks”, para começar”. 

“E pensava eu que a carreira musical do Will Smith era a coisa mais idiota que ele ia fazer na vida”, disse, por sua vez, Paulo Almeida. “A chapada do Will Smith foi tão forte que acabou com a guerra na Ucrânia. Pelo menos no Twitter”, escreveu Rui Cruz, acrescentando ainda: “Há aqui pessoal a defender a atitude do Will Smith. Engraçado, muito engraçado. Eu pelo menos vou rir-me bué quando os vir por aqui a queixarem-se de que foram agredidos na rua por causa daquilo que escrevem no Twitter.”

“Ainda não vi o ‘King Richard’ mas do que sei da história do pai das Williams, o Will Smith pode só estar a treinar o Chris Rock para ser melhor comediante”, escreveu Guilherme Fonseca. 

Conheça as reações à agressão durante a gala, descubra se Will Smith pode perder o Óscar, veja o momento em que Will Smith é reconfortado por Denzel Washington e leia o artigo da NiT sobre os traumas do ator relacionados com a violência a que foi exposto na infância. Saiba também mais sobre a doença autoimune de Jada Pinkett Smith.

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