Cinema

Já vimos o novo “Thor”: é pena não ter história, esse pormenor pouco importante

“Thor: Amor e Trovão” estreia quinta-feira. O super-herói terá de enfrentar um sinistro vilão que é uma das melhores personagens.
Há dois Thor neste filme, sim.

Um dos heróis favoritos dos fãs da Marvel está de volta. “Thor: Amor e Trovão” é o mais recente filme da saga, que estreia nos cinemas portugueses esta quinta-feira, 7 de julho. É o segundo a ser realizado pelo criativo Taika Waititi, que já assinara “Thor: Ragnarok” em 2017.

A nova história passa-se algum tempo depois de “Vingadores: Endgame”. Thor (Chris Hemsworth) aparenta estar numa crise de meia-idade, depois de todos os acontecimentos que o marcaram. Desenvolveu também a necessidade de meditar quase eternamente — com isso veio um “dad bod”.

São os Guardiões da Galáxia que o convocam para derrotar uma série de monstros obscuros, construídos a partir de sombras, que estão a arrasar um planeta. É assim que Thor regressa ao ativo, para, sem se aperceber, vir a colidir com um novo vilão. 

Falamos de Gorr (Christian Bale), que nos é apresentado num excelente prólogo: um homem que cambaleia por um deserto com a sua filha ao colo, sem comida, sem água, sem forças. Reza ao seu deus para que salve a sua criança, mas quando o pior acontece e o próprio Gorr se cruza com aquele que venera — percebendo que não passa de um ser egoísta a viver em luxúria e alimentado por aqueles que lhe são devotos —, o homem passa a vilão e mata o seu deus. Recorre a uma espada mística, a Necrosword, que se apodera daqueles com quem forma uma ligação.

Gorr passa a ter uma missão — o seu objetivo é assassinar todos os deuses. Eventualmente, Thor também se torna um alvo, quando o vilão ataca a Nova Asgard. Depois da destruição do seu planeta-casa, os asgardianos instalaram-se na Terra, comandados pela rainha Valkyrie (Tessa Thompson). Mas tornaram-se literalmente uma atração turística.

Mas a grande novidade neste “Thor” é que a doutora Jane Foster (Natalie Portman) está de volta. E não como a conhecíamos: por um lado, está a sofrer de um cancro fatal; por outro, para contornar o problema conseguiu dominar o Mjolnir, o antigo martelo do protagonista, e tornou-se também ela numa Thor, com direito a capa, capacete e tudo o resto. Só que, cada vez que usa os seus poderes, a energia necessária para combater o cancro desvanece.

O reencontro entre Thor e Jane Foster é, claro, um momento fulcral do filme — são antigos amantes, com uma dinâmica distinta agora que a cientista terrena também se tornou numa super-heroína com as mesmas características, o que, claro, traz ao de cima as inseguranças de Thor. 

Entre sequências de ação embrulhadas em efeitos especiais, Thor, Jane, Valkyrie e o amoroso Korg (cuja voz é do próprio Taika Waititi) vão ter de enfrentar Gorr, o carniceiro dos deuses, para conseguirem salvar uma série de crianças raptadas — e todos os outros deuses deste universo. 

Há também uma cena no Olimpo, retratado como uma versão dourada do parlamento galáctico de “Star Wars”, que referencia o quão os poderosos no topo da pirâmide querem saber das pessoas comuns que levam as suas vidas “insignificantes”. Acaba por ser uma crítica ao capitalismo, embora escondida por trás de todas as graçolas à volta de Zeus.

No início deste filme, Thor perdeu o seu propósito e motivação. Acaba por a recuperar, na reconciliação com o seu “Eu” e Jane, mas parece-nos uma personagem que foi relativamente emburrecida para este filme. O carisma e o à vontade de Hemsworth mantêm-se, claro, tal como o talento de Portman, mesmo que não exista uma enorme química entre eles.

Tessa Thompson consegue cativar nas cenas em que aparece, mas Christian Bale é que é a revelação enquanto Gorr — consegue dar uma profundidade ímpar ao seu vilão, que não é unidimensional como tantos outros.

À boa maneira de Taika Waititi, as cores são usadas de forma estupenda neste filme. Por outro lado, o guião co-assinado pelo próprio não é brilhante. Por mais humor auto-referencial que haja, “Thor: Amor e Trovão” não consegue ser um filme refrescante nem justificar a sua própria existência. Era uma sequela desnecessária, mas a Marvel é um comboio a alta velocidade que a Disney já não se dá ao luxo de parar. 

O facto de ser um filme que não parece levar-se muito a sério poderia ser, na teoria, algo bem-vindo. Mas uma saga de fantasia que já não se leva a sério é também algo perigoso, de aspeto desleixado e preguiçoso. Resulta num misto de gargalhadas e momentos mais românticos para toda a família, de humor mais sofisticado, de sequências para os fãs dessa explosão de ação que todas as histórias de super-heróis possuem. Mas falha em concretizar-se como um filme sólido.

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