Foi uma das mortes que chocaram o mundo em 2020. O ator Chadwick Boseman tinha apenas 43 anos, lutava contra um cancro em segredo há algum tempo e nada fazia esperar que partisse tão cedo.
“Ma Rainey’s Black Bottom” acabou por ser o último filme na carreira do americano. A produção estreou a 18 de dezembro na Netflix. Tem uma hora e 34 minutos de duração e é uma adaptação da peça de teatro de August Wilson com o mesmo título, que estreou nos anos 80.
Faz parte de um projeto maior que pretende adaptar diversas peças de Wilson ao cinema — “Vedações” foi outro dos exemplos — numa forma de valorizar histórias que reflitam sobre (e retratem) a comunidade afro-americana.
Em “Ma Rainey’s Black Bottom”, filme realizado por George C. Wolfe e produzido por Denzel Washington, acompanhamos um grupo de músicos nos anos 20 em Chicago. É uma época em que o sul e o norte dos EUA são ainda muito diferentes, e que ficou marcada pelas grandes migrações de negros para o norte do país.
Numa tarde passada num estúdio, um grupo de músicos espera pela estrela, a lendária “mãe do blues” Ma Rainey (Viola Davis). A protagonista chega atrasada ao ensaio — e parece ter uma atitude arrogante, mas no fundo é uma forma de se defender, e de equilibrar o facto de não ser ela quem vai fazer a maior parte do dinheiro, mas sim os empresários brancos da indústria, os donos da editora e do estúdio.
Ma inicia uma discussão acesa com o seu nervoso manager sobre isso mesmo: o controlo da sua música e carreira. Num ambiente claustrofóbico, a tensão cresce e espalha-se pelos músicos no estúdio.
Um ambicioso jovem trompetista, Levee (Chadwick Boseman) — que está de olho na namorada da “mãe do blues” e está determinado a trilhar o próprio caminho na indústria da música, à sua maneira — fala com os seus colegas músicos.
Entre histórias, algumas verdades e também mentiras — que prometem mudar realmente as coisas — Levee vai seguir a sua ambição para também falar com managers e produtores, enquanto terá de lidar com alguns traumas do passado. O pano de fundo é o contexto da época, o racismo estrutural sentido por aqueles músicos, sobretudo os que vieram do sul.
Há esse lado mais dramático e pesado, sim, mas também uma pura celebração da música e cultura afro-americana. O blues e os diálogos poéticos cruzam-se no guião como se fossem uma coisa só — e retratassem o mesmo.
Por um lado, a personagem de Viola Davis representa a velha escola daquela altura, enquanto Levee quer ser disruptivo e quebrar barreiras — mesmo que possa não o conseguir no final da narrativa.
O filme tem sido aclamado pela crítica internacional e poderá ser um dos candidatos da Netflix aos Óscares do próximo ano — que só se realizam a 25 de abril, dois meses mais tarde do que o habitual, por causa da pandemia.
Além de Viola Davis e Chadwick Boseman, o elenco inclui nomes como Colman Domingo, Glynn Turman, Michael Potts, Jeremy Shamos, Jonny Coyne, Taylour Paige e Dusan Brown, entre outros. As gravações aconteceram em Pittsburgh.
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