Cinema

“Maestro” é um filme que só podia ter sido feito por um grande amante de música

A longa-metragem de Bradley Cooper chega esta quinta-feira, 7 de dezembro, às salas de cinema. O ator encarna Leonard Bernstein.
Bradley Cooper como Leonard Bernstein
70

Os melhores momentos de “Maestro” envolvem música. O filme, protagonizado e realizado por Bradley Cooper, estreou esta quinta-feira, 7 de dezembro, nos cinemas. O ator interpreta Leonard Bernstein, um dos mais importantes compositores e condutores de orquestra da história.

Durante a efusiva primeira parte da longa-metragem, Bernstein partilha com o amor da sua vida, Felicia Montealegre (interpretada por uma brilhante Carey Mulligan), uma amostra de “On the Town”. O musical da Broadway considerado uma das suas obras-primas.

Numa mistura de realidade e ficção, o palco enche-se de dançarinos que cantam vestidos de marinheiros. O casal está sentado a apreciar o momento, mas, a seguir, Cooper surge em palco, também fardado, a interpretar as canções.

As cenas musicais do filme são apaixonantes — e não apenas quando ocorrem descargas de energia. O mesmo acontece nas partes solenes, como, por exemplo, quando Bernstein conduz a “Sinfonia n.º 2”, de Gustav Mahler, na Catedral de Ely, em Inglaterra. A performance é considerada um dos feitos lendários e marcantes da carreira do maestro.

O entusiasmo e excitação de Bradley não se resumem à forma como encarna o personagem. A realização revela um enorme respeito e compreensão pela arte da qual pretende captar a essência.

É a segunda vez do ator no cargo de direção, depois de “A Star is Born” (2018), um filme também repleto de música, e começa a ser fácil perceber quais são as principais valências do próprio.

Após brilhar com a química que construiu com Lady Gaga, agora, Cooper cria uma ligação especial com Carey Mulligan. A britânica é, de longe, a melhor intérprete deste trabalho. Felicia Montealegre é mesmo um dos papéis mais conseguidos da sua filmografia.

A complicada relação do casal é marcada pela sexualidade ambígua de Bernstein. Numa das cenas, o protagonista encontra o antigo amante David Oppenheim (interpretado por Matt Bomer), com a esposa e o filho. Dirige-se ao recém-nascido e, entre gargalhadas, diz-lhe: “Sabes que eu costumava dormir com o teu pai e a tua mãe?”. Felizmente, o destinatário ainda não podia perceber a piada.

Contudo, o cerne da questão não é esta. O relacionamento deteriora-se quando Bernstein começa a seduzir jovens nas festas organizadas por ambos. Felicia tolera as escapadinhas românticas do marido, mas a dor e sofrimento que lhe infligem é visível.

Não tem de partilhar apenas o lugar no coração dele. Tem de dividir os holofotes com uma personagem tão carismática e talentosa que todos ofusca. A certa altura, percebemos, já nem se trata de receber um pouco de luz: tem de se manter na sombra (e, por vezes, nas trevas) para deixar o músico brilhar.

Ao envelhecer, o sucesso de Bernstein levou-o a adotar comportamentos tóxicos, a consumir drogas, e a negligenciar (ainda mais) a família. Se em Cooper observamos como a fama pode corromper o talento, em Mulligan descobrimos como e quando se atinge o ponto de saturação de quem o rodeia.

“No Chile, há um ditado que diz que nunca devemos ficar debaixo de um pássaro cheio de merda. Estou debaixo desse pássaro há tanto tempo que já se tornou cómico”, diz Felicia a Bernstein, quando este quase falha o almoço do Dia de Ação de Graças.

O trabalho de Cooper merece muitos elogios, mas não é um filme perfeito. Tem (ironicamente) um problema de tom, que se reflete na falta de afinação entre a euforia e a melancolia.

Sem entrar em grandes detalhes (não queremos estragar a história a ninguém), os últimos trinta minutos do filme são marcados por uma intensa tristeza provocada pela doença de uma das personagens.

A ideia é interessante. Se na primeira parte recebemos uma injeção de adrenalina, transmitida pela ascensão e exageros de Bernstein, à medida que a narrativa se aproxima do epílogo somos confrontados com a destruição que provocou com o estilo de vida hedonista.

Ainda que bem executado, o emocional e melodramático final (que deixará os espectadores mais sensíveis perto das lágrimas) parece precipitado e completamente deslocado da euforia (quase histriónica) com que fomos bombardeados. O remate não retira mérito aos capítulos anteriores, mas é um exemplo daquilo que Cooper ainda tem para polir no diamante em bruto que ainda é o seu trabalho como realizador.

O filme “Maestro” estreou esta quinta-feira, 7, nas salas de cinemas portuguesas e chega à Netflix no dia 20. Leia também este artigo da NIT e fique a saber mais sobre o passado do norte-americano de 48 anos, que chegou a ser porteiro, mas também toca contrabaixo e é fluente em francês.

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