Cinema

Michael Imperioli: “Havia pessoas bêbedas a atirar garrafas no Cais do Sodré enquanto gravávamos o filme”

O ator que era Chris Moltisanti em “Os Sopranos” participa no novo filme português, “Cabaret Maxime”, gravado em Lisboa.

No filme, interpreta Bennie Gazza, o dono do clube.

Junho de 2006. Um ano antes do final de “Os Sopranos”, Michael Imperioli — que na premiada série sobre a máfia italiana de Nova Jérsia é Christopher Moltisanti — vem a Lisboa para atuar no Maxime, com a sua banda de punk rock La Dolce Vita.

Dezenas e dezenas de fãs do ator americano enchem a sala histórica na Praça da Alegria, enquanto tantos outros ficam à porta. Foi lá atuar a convite do seu amigo português, o realizador Bruno de Almeida — com quem iria trabalhar em “The Lovebirds” (2007) e já tinha feito “On the Run” (1999). Bruno de Almeida era sócio criativo de Manuel João Vieira (seu amigo de infância) no Maxime, onde promovia sessões de cinema.

Nos anos 50 e 60 tinha sido uma cabaret de estrelas, com atuações de Tony de Matos, Raul Solnado ou Simone de Oliveira. Depois do 25 de Abril, o espaço ficou cada vez mais decadente até se tornar uma casa de alterne. Manuel João Vieira ressuscitou o espaço em janeiro de 2006 e deu-lhe uma programação musical regular e de espetáculos de burlesco.

Foi nessa altura que surgiu a ideia de fazer um filme sobre todo este universo, o do Maxime — casa que encerrou em 2011. Uns anos depois, Manuel João Vieira iria abrir no Cais do Sodré a sua nova sala, o Titanic Sur Mer.

“Nessa altura tinha acabado de me mudar de Nova Iorque para a capital e queria conhecer Lisboa, na verdade, porque cresci aqui mas fui para Nova Iorque com 18 anos”, explica à NiT Bruno de Almeida, realizador de “Cabaret Maxime”, o tal filme, que estreia esta quinta-feira, 31 de maio.

“Esteve em período de gestação durante dez anos. O que aconteceu foi que à medida que íamos escrevendo as coisas iam acontecendo e eventualmente perdemos o Maxime. O filme é inspirado em coisas reais, completamente.” Apesar disso, o universo retratado nesta história é metafórico — não há referências a Lisboa — e mesmo a época em que se passa não é assumida, apesar de aparecer um telemóvel recente numa das cenas do filme. 

A história acompanha Bennie Gazza (Michael Imperioli), o dono deste Cabaret Maxime, que tem de proteger o seu clube e família das ameaças dos poderes instalados e da gentrificação da cidade.

“Ao mesmo tempo engloba o que a gente passou em Nova Iorque, não com o Maxime mas com bares semelhantes que entretanto desapareceram. Eu cresci em Tribeca, agora é um bairro de luxo e na altura eram fábricas. Essa ideia de perder um espaço, onde as pessoas possam viver sem dinheiro, onde podes ter um grupo de teatro, uma editora, sem ter problemas de dinheiro… depois de repente essas pessoas são forçadas a sair. E isso está-se a passar agora aqui, na altura não estava. Parece que o filme foi planeado para sair agora mas não foi. Eles próprios ficaram assim um bocado chocados ao ver o Cais do Sodré outra vez. Mas espera aí: isto agora tem uma rua cor-de-rosa?”

Há 20 anos que Bruno de Almeida trabalha com Michael Imperioli e atores como John Ventimiglia, Drena de Niro, Ana Padrão ou Sharon Angela. “É como se fosse um grupo de teatro, já escrevo para eles.” O filme é uma co-produção portuguesa e americana. Manuel João Vieira serviu como diretor musical do filme: participam os Ena Pá 2000 ou músicos como Selma Uamusse e Phil Mendrix e foi tudo gravado ao vivo, como se tratasse de um álbum. Vão todos dar um concerto da banda sonora do filme esta sexta-feira, 1 de junho, no Titanic Sur Mer, a partir das 23 horas. A entrada custa 10€.

Bruno de Almeida conhece Manuel João Vieira desde os dois anos.

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