Cinema

MOTELX: os filmes a não perder no festival de cinema mais assustador de Lisboa

O evento regressa esta semana, a 7 de setembro, e prolonga-se até dia 13. Há filmes novos, clássicos e sessões especiais.
"A Lenda do Cavaleiro Verde" é o filme de abertura.

O cinema de terror volta a invadir o Cinema São Jorge, em Lisboa, para mais uma edição do festival MOTELX. Depois das iniciativas de warm-up, o evento arranca oficialmente esta terça-feira, 7 de setembro, e prolonga-se até dia 13. Ao todo são mais de 70 filmes, entre curtas e longas-metragens, produções portuguesas e internacionais.

“Este ano fizemos o que sempre fizemos: fomos vendo filmes, fomos selecionando e depois o festival vai-se mais ou menos montando a nível temático. Os grandes temas são os filmes que os dão porque eles é que refletem um bocado a realidade e o que está a acontecer nesse momento. E foi assim que apareceram as secções paralelas deste ano, nomeadamente a da Fúria Assassina”, explica à NiT um dos diretores e programadores do MOTELX, João Monteiro.

“Obviamente que neste momento a questão ambiental e ecológica torna o eco-terror se calhar no género de terror por excelência. Mas a questão da representação feminina nos filmes de terror também marcou este ano, está a marcar o género e a indústria”, acrescenta.

Na edição do ano passado tiveram de ver filmes online para os programar para o grande ecrã. Desta vez foi diferente, embora tenham sentido a indústria e o mercado a mudar com a grande ascensão das plataformas de streaming. Apesar de ter sido um ano atribulado, argumenta João Monteiro, o cinema de terror continua a ser muito procurado pelo público.

“Há uma apetência para se ir ver filmes de terror quando se atravessa períodos políticos, sociais ou ambientais conturbados. Escapamos para filmes de terror, que mostram realidades ainda piores.”

João Monteiro admite que definir os limites do terror não é fácil, mas que o objetivo passa por procurar um equilíbrio na escolha dos filmes — foi o que também tentaram fazer nesta 15.ª edição.

“O medo é uma coisa perfeitamente subjetiva. Por exemplo, o ‘Fukushima’ deu-me muito medo a mim e aos meus colegas mas se calhar para outro tipo de pessoa isso não fará tanta confusão. No limite, se quisermos delinear, tem de meter medo, ou perturbar, digamos assim. Agora, fora disso, tentamos variar ao máximo. Obviamente o grosso da programação são filmes que de facto são de terror. Depois há alguns que são híbridos, e às vezes arriscamos com coisas que, não sendo imediatamente de terror, podem provocar esse tipo de sensações, geralmente thrillers mais violentos e negros. A questão dos limites é complicada. Porque o cinema de terror é melhor quando quebra um bocado essas regras, as suas próprias regras. É um equilíbrio que vamos fazendo e também queremos filmes que possam provocar o espectador a pensar e a discutir.”

Em geral, os bilhetes custam 4,50€, embora haja vários descontos, nomeadamente para jovens e idosos. Consulte todas as condições, conheça os horários das sessões e espreite a programação completa no site do MOTELX. A NiT destacou algumas das principais sessões do ano.

“A Lenda do Cavaleiro Verde”, David Lowery

Este ano, a sessão de abertura do MOTELX acontece com a antestreia de “A Lenda do Cavaleiro Verde”, de David Lowery, que tem no elenco nomes como Dev Patel e Alicia Vikander.

“O que nos fez optar por este filme teve que ver não só com a produtora, a A24, que é uma das, se não a melhor produtora americana independente e de cinema de autor, mas também pelo filme. É um bocadinho na senda do que o mesmo realizador fez no ‘A Ghost Story’, da desconstrução de um estereótipo, de um cliché de género. Ele aqui faz o mesmo mas com o épico medieval. Creio que é um dos melhores filmes deste ano”, diz João Monteiro.

O eco-terror, de filmes de terror com temáticas ambientais e ecológicas, vai marcar presença no festival com produções como “In The Earth”, de Ben Wheatley; ou “Gaia”, de Jaco Bower.

“The Amusement Park”, George A. Romero

O conceituado cineasta George A. Romero (“A Noite dos Mortos-Vivos”) morreu em 2017, mas antes ainda pôde supervisionar a transição para 4K de um filme seu dos anos 70 que acabou por nunca estrear devidamente. Tratava-se de uma encomenda da Sociedade Luterana da Pensilvânia, que pretendia um filme acerca da ocupação na terceira idade, mas que Romero preencheu com bastante crítica social sobre a forma como a sociedade trata os mais velhos. A nova versão estreou comercialmente nos EUA no ano passado e chega agora a Portugal.

“A Viagem de Chihiro”, Hayao Miyazaki

Foi há 20 anos que estreou “A Viagem de Chihiro”, um dos filmes de animação mais premiados de sempre, que rapidamente conquistou um estatuto de culto. O filme é exibido no MOTELX a propósito deste aniversário redondo, integrado na secção Lobo Mau.

“Fukushima 50”, Setsurô Wakamatsu

Este filme japonês retrata o trágico desastre nuclear de 2011. Os trabalhadores da instalação de Fukushima Daiichi arriscam as suas vidas e permanecem na central nuclear para evitar a destruição total após a região ser devastada por um terremoto e um tsunami.

“Tal como o título indica, faz como a série ‘Chernobyl’, conta-nos a história e temos um bocado aquela sensação de sermos aquelas crianças a quem os pais não querem contar a verdade para não nos deixar excitados. É absolutamente aterrador e quando saímos do cinema, pensamos: nós temos centrais nucleares por todo o lado. O que aconteceu em Fukushima foi inclusive pior do que aconteceu em Chernobyl. E esse é um exemplo de um filme que vai meter medo mas que não é propriamente de terror.”

“The Night House – Segredo Obscuro”, David Bruckner

O thriller sobrenatural que encerra o MOTELX deste ano centra-se numa mulher chamada Beth (Rebecca Hall). Em choque pela morte inesperada do seu marido, Beth é deixada sozinha na casa à beira do lago que ele construiu para ela. Ela tenta o melhor que pode para não se deixar ir abaixo — mas aí começam os sonhos. Visões perturbadoras de uma presença na casa chamam-na, acenando com um fascínio fantasmagórico, mas a forte luz do dia elimina qualquer prova de assombração. Ignorando os conselhos dos seus amigos, Beth começa a vasculhar os pertences dele, ansiando por respostas que só vão adensar o mistério.

“Fúria Assassina: Mulheres Serial Killer”

É uma das secções especiais da programação deste ano do MOTELX. São filmes em que, ao contrário do habitual, são mulheres que estão na figura do serial killer, do monstro que degola e destrói sem remorsos. Alguns dos filmes incluídos nesta secção são “Monster”, de Patty Jenkins; “The Countess”, de Julie Delpy; “Audition”, de Takashi Miike; “Mãe Galinha”, de John Waters; “Office Killer”, de Cindy Sherman; ou “Baise-moi”, de Virginie Despentes e Coralie. João Monteiro aconselha ainda o “slasher feminino muçulmano” “Black Medusa”; e o canadiano “Violation”, que “mete a mulher no lugar do carrasco e o homem no papel da vítima”.

Sessão de curtas-metragens portuguesas

Uma única sessão junta três curtas-metragens de três cineastas portugueses reconhecidos. Vai poder ver de seguida “Um Fio de Baba Escarlate”, de Carlos Conceição; “A Terra do Não Retorno”, de Patrick Mendes; e “O Lobo Solitário”, de Filipe Melo.

João Monteiro salienta a qualidade de “Um Fio de Baba Escarlate”. “É bastante interessante por conjugar estéticas antigas do cinema português e novas sensibilidades. É a história de um serial killer em Lisboa que é apanhado pelas redes sociais. É muito interessante porque praticamente não tem diálogos, é todo muito visual.”

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